Foi em Dezembro passado, em reunião plenária, que a Assembleia Municipal de Lisboa debateu uma petição pública pela criação de um novo museu dos Descobrimentos, da Expansão Marítima e da Portugalidade, que já havia sido prometido pelo Presidente da mesma Câmara, Fernando Medina.
Muitas foram as intervenções feitas a favor e contra a terminologia adoptada para o título do museu: Seria correcto insistir no uso do termo “Descobrimentos”, essa terrível definição colonialista? E será correcto honrar a escravidão, o massacre e o roubo? Para o deputado municipal do Bloco de Esquerda, Ricardo Moreira, a resposta é, resoluta e inequivocamente, negativa. Afinal, a dita lusofonia é, no seu entender, “uma das formas mais cínicas de colonialismo”, não fazendo falta qualquer “celebração de um suposto orgulho nacional”. A esta enxurrada de pérolas respondeu a deputada do Partido Popular Monárquico, Aline Beuvink, que, numa excelente intervenção, em defesa dos peticionários, coloca algumas dúvidas ao seu colega de esquerda, e cito: “(…) mas o que é que o senhor deputado sabe de História? Quais são os seus trabalhos de investigação (…)? O que é que sabe, para além do preconceito que vem aqui, constantemente, demonstrar?”, e remata: “Tenha mas é vergonha na cara!”
Realmente, a intervenção da deputada monárquica denuncia cabalmente boa parte das principiais características do Bloco de Esquerda em exercício: o preconceito, a ignorância e a hipocrisia.
Afinal, mas o que é que o Bloco de Esquerda sabe sobre História, Habitação, Finanças Públicas, Saúde, Poupança ou Democracia, além do insuportável preconceito que constantemente demonstra?
Rigorosamente nada.
Pois veja-se. Logo no início da sua intervenção, num gesto profundamente democrático, alerta o supracitado deputado para o facto de, “como todos sabem”, o peticionário que interveio ser “de uma organização de extrema-direita”, facto que, no seu entender, “deve servir de aviso a todas as pessoas e a todos os deputados e deputadas desta câmara”.
Não fosse esta uma declaração pejada de hipocrisia, daria até para rir. Desde quando tem o Bloco problemas com a extrema-direita? Ou com a ditadura? Ou com o fascismo?
Constantemente se ouve por parte do Bloco de Esquerda ferozes rugidos contra os “fascistas”, e, no entanto, constantemente insistem no banditismo salazarista do congelamento de rendas, política pré-centenária responsável por uma destruição de património inédita desde o Terramoto de 1755. Será por ignorarem a definição de fascismo que não consideram essa medida, também, fascista? Será que entendem tanto do assunto que não consideram António de Oliveira Salazar um fascista? Ou será que não sabem rigorosamente nada sobre o assunto? Novamente, “mas o que é que o(s) senhor(es) deputado(s) sabe(m) de História?”
Paradoxalmente, apelidam Jair Bolsonaro, não sem alguma razão, de “ditador”, “populista” e “fascista”, mas ignoram (propositadamente ou não) que nem todas as ideias do ex-militar divergem assim tanto das suas: O recém-eleito presidente do Brasil pretende privatizar as funções estaduais de garantia da segurança e ordem pública. O “cidadão do bem” deverá agora passar a andar armado para se defender dos “bandidos”. Já não é o Estado quem defende o indivíduo, é o indivíduo que, à bala, se defende. O Bloco de Esquerda, por seu lado, à semelhança do “ditador”, pretende agora privatizar a função estadual de garantia de habitação digna e acessível, impondo aos proprietários o ónus de sustentar os seus inquilinos ad eternum, a troco de uns parcos escudos.
Do mesmo modo, Marine Le Pen, dizem, e provavelmente com razão, é nacionalista e xenófoba. “Que seria de nós?”; “Uma fascista na WebSummit?!”… Acontece, todavia, que tanto ela como o Bloco de Esquerda defendem a saída da União Europeia, a extinção do Euro e a desobediência cega à normativa comunitária. Mas claro! Marine Le Pen pretende deixar a Europa porque é uma ultra-conservadora racista de extrema-direita, já o Bloco tenciona fazê-lo porque se preocupa com os direitos dos trabalhadores, escravizados e oprimidos por essa instituição facínora e sangüinária que é a União Europeia. Nem sequer é comparável, aliás, o Bloco surge de um movimento internacional de resistência ao já abundantemente mencionado fascismo.
Por esse motivo, e tantos outros, qualquer semelhança entre as técnicas de propaganda de Catarina Martins e as de Benito Mussolini é mera coincidência. Pois será? Veja-se esta mão, temível e cruel, despejando ímpia e implacavelmente pobres jovens, idosos e crianças. As mangas demoníacas do capital sacudindo a humilde residência do Povo, esbulhando-o, coitado, do seu “habitat” natural, do seu bairro… Para quê? Para a especulação! Para o capital! Para o Alojamento Local! Para a gentrificação!
Comparemo-la, agora, a esta, bastante mais sombria, representação de um punho negro e implacável purgando a Itália dos “bandidos e rebeldes”.
Não se poderá, por acaso, de um ponto de vista meramente estilístico, claro está, identificar algumas semelhanças entre os dois cartazes?
Ora, não querendo, evidentemente, comparar o incomparável, é impossível, e perigoso, ignorar que ambas as ilustrações, partindo da identificação de um “inimigo comum”, criam uma cisão evidente e simplista entre os “bons” e os “maus”, subvertendo completamente a realidade a favor de uma ideia (falsa e enviesada) que se pretende transmitir. A segunda caricatura representa a mão metafórica do Estado Fascista Italiano eliminando os “inimigos do povo”, os “bandidos e rebeldes”, no caso, referindo-se à resistência italiana oponente, na quarta década do passado século, ao avanço das tropas de Mussolini. Nessa representação, todos os partisanos são criminosos, bandidos ou marginais. Recorrendo-se à pintura, subverteu-se a realidade. Manipulou-se. Mentiu-se.
Na imagem do Bloco de Esquerda, todos os proprietários que pretendam celebrar contratos de arrendamento a prazo são vis capitalistas, que “despejam”, que praticam “especulação”, que exercem “bullying imobiliário”, mas, pelo contrário, todos os inquilinos são uns pobres desgraçados vítimas daquilo a que o investidor… (perdão)… o ex-vereador Ricardo Robles designava por “carrossel da especulação imobiliária”.
Será que os “bloquistas” ignoram que 90% dos despejos se devem a incumprimento dos arrendatários? Ou pretendem, simplesmente, transmitir e difundir mentiras puramente preconceituosas? Afinal, “o que é que sabe(m)?”
Possivelmente, muito pouco.
Simplesmente, move-os o preconceito, guia-os a ignorância e motiva-os o ódio hipócrita à propriedade alheia. Desse modo, subverte-se a realidade. Manipula-se. Mente-se.
Da mesma forma, Catarina Martins entende que as parcerias público-privadas (PPP) na saúde são um “erro”, não servindo os “interesses do país”, e, no entanto, os três melhores hospitais do País (Braga, Vila Franca de Xira e Cascais) são, pasmemo-nos, explorados em regime de PPP.
Aliás, o Hospital de Braga, que deverá agora regressar às mãos do Estado, obteve a classificação máxima em cinco parâmetros estudados pelo Sistema Nacional de Avaliação da Saúde: excelência clínica, segurança do doente, adequação e conforto das instalações, focalização no paciente e respectiva satisfação. Já no tangente à prestação de cuidados assistenciais, foi a única unidade do país a ver reconhecida qualidade elevada nas 14 valências de que dispõe, oito das quais com a máxima classificação, de nível três.
Pergunta-se à Senhora Deputada: Afinal, não servem os interesses do país ou não servem os desígnios propagandistas do Bloco de Esquerda?
Pois, novamente. Subverte-se. Manipula-se. Mente-se.
Não deixa, porém, de ser curioso que o perigo seja sempre de “extrema-direita”. Para o Bloco de Esquerda, “populismo de esquerda” ou “extrema-esquerda” simplesmente não existem. Quando em mensagem de ano novo o Presidente da República arranja um tempinho na sua preenchidíssima agenda (normalmente tomada pela promulgação de inconstitucionalidades, selfies e chamadas à Cristina) para alertar para a emergência de movimentos populistas, logo correm a elogiar as sábias palavras de Marcelo contra o “perigo da extrema-direita”. Afinal, que outra interpretação teria um partido de gente que se diz maoista, trotskista ou Estalinista? Que vê em Hugo Chávez um exemplo? Ser-se fascista em pleno século XXI é, e bem, inadmissível; ser-se maoista na mesma época é corolário de superioridade moral e intelectual.
É nesse mesmo sentido que gritam contra o capital, vociferam contra os “ricos”: “Temos de perder a vergonha de ir buscar dinheiro a quem está a acumular!”, dizia, em 2016, Mariana Mortágua.
Pois pergunta-se: Quanta “acumulação” terá custado a Camilo Mortágua, pai da autora de tão oportuna declaração, a gigantesca herdade onde vive no Alentejo? Terão sido os assaltos que fez na sua juventude? Terá trabalhado uma vida inteira para adquiri-la?
Claro que não! Nem precisaria! Camilo era um revolucionário! Um anti-fascista! Pode até ter tomado de assalto o Banco de Portugal, mas era, como diz a filha, só para “chatear o Salazar”! Até porque… Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão! Naturalmente, toda a gente sabe que os “revolucionários” do Bloco se posicionam num nível de moralidade superior completamente vedado ao cidadão comum.
Da mesma forma, Ricardo Robles jamais intentou a venda de um imóvel de luxo por 5 700 000 € numa imobiliária especializada em imóveis de alto luxo. Ricardo abomina o capital! Orgulha-se das ocupações ulteriores à Revolução de Abril! É contra o despejo! Simplesmente comprou um imóvel à Segurança Social para a irmã, pobre emigrante, e, mais tarde, por motivos “estritamente familiares” pretendeu aliená-lo mediante o pagamento de um valor (nada especulativo) cuja quantificação se deveu única, exclusiva e evidentemente à Christie’s International Real Estate, que, aliás, redigiu também o anúncio da casinha em zona “prime de Alfama”, “ideal para short term rental”.
Ricardo Robles e os seus amigos da Câmara Municipal de Lisboa são ignorantes. Não entendem nem de História, nem de Língua Inglesa… Sabia lá o vereador que “short term rental” e “Alojamento Local” são sinónimos… “Mas o que é que o senhor vereador sabe de Inglês?”
Pois nada.
A especialidade linguística dos “camarados” e “camaradas” (salvaguarde-se a igualdade de género) do Bloco é indubitavelmente portuguesa.
Por tudo isto, faço minhas as palavras de Aline Beuvink. Senhores do Bloco de Esquerda, de uma vez por todas, tenham, mas é, vergonha na cara!