A nossa república1 deve2 imenso às instituições europeias, e em especial ao BCE. Num momento de aflição3 e dor4, quando as finanças públicas tinham derrapado e caído na ladeira das políticas de desenvolvimento económico & social arquitetadas pelo sr. dr. Sócrates, a pronta intervenção do BCE salvou-lhe a vida.

Se não vejamos: o tombo dado fora tão grande que quando Portugal deu entrada na urgência, foi logo conduzido à sala de triagem. Cheio de dores e apreensão, foi pronta e cuidadosamente examinado pelo sr. enfermeiro Trichet, apesar deste já estar mesmo no final do seu turno, a poucos minutos de sair do hospital5. O sr. enfermeiro ao olhar para aquele país idoso e desgastado, e sabendo bem que quedas daquelas na provecta idade do paciente quase sempre significam uma grave fractura da cabeça do colo do fémur económico, com as consequentes hemorragias financeiras e risco de vida da iminente da entidade nacional, estava bem consciente que tinha, basicamente, duas opções:

  1. Ou lhe atribuía uma pulseira vermelha, caso muito grave que necessita de recursos máximos imediatamente, abrindo assim a porta a que a nossa república fosse logo levada para o bloco operatório para ser sujeita a uma longa e custosa intervenção cirúrgica que, embora difícil e complexa era o único meio possível de lhe salvar a vida, mas com reduzida probabilidade de sucesso dado o envelhecimento & fraqueza do paciente;
  2. Ou lhe atribuía uma pulseira verde, recursos mínimos & sem prioridade de tempo, dado que era um caso que não só tinha pouca probabilidade de sucesso na cirurgia, mas também porque o tratamento parecia ser socialmente inútil devido ao avançado estado de senilidade político-institucional do enfermo que, na sua demência, já não sabia distinguir os caminhos por onde não se devia meter.

Apesar do pandemónio em que se encontrava o serviço de urgência nessa altura, devido a um inaudito afluxo de casos semelhantes na emergência do BCE, o sr. enfermeiro Trichet, movido de brio deontológico e uma muito humana compaixão pelo infortúnio da nossa república decidiu pôr-lhe a pulseira vermelha antes de passar o processo ao seu substituto, o sr. enfermeiro Mário.

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Tendo a nossa república recuperado, escapando por um triz a uma mortarrota6 quase que certa, que a levaria ao inferno7 de uma vida post-euro, como é que vive atualmente? Será que é pondo, nas urgências dos hospitais públicos, pulseiras verdes ou amarelas a ex-contribuintes idosos que caem y partem o colo do fémur e cuja morte hospitalar (ou numa ambulância estacionada, ou espaço afim) sem o tratamento requerido não é, em 99,9% dos casos, objeto de notícia? Se depois de ter sido tratada tão humanamente, a nossa república trata com impiedosa indiferença & cativações orçamentais aqueles que, inocentemente, acreditaram que un serviço nacional de saúde a sério e competente seria possível nun país com un estado como o nosso, e o pagaram com os seus impostos, como será que deverá ser tratada da próxima vez que der entrada nas urgências do BCE? Com compaixão ou com indiferença?

Us avtores não segvem a graphya du nouo AcoRdo Ørtvgráphyco. Nein a do antygo. Escreuem coumu qveren & lhes apetece. #EncuantoNusDeixam

  1. República: misto, em proporções variáveis, de despotismo e anarquia; (Port.) sistema de desorganização política; sistema político em que o que governa é o que é governado, em quem dá ordens é quem as recebe; estado em autogestão; vários antropólogos e politólogos provaram este sistema ser racista e xenófobo por historicamente só se encontrar em sociedades dominadas pelo hétero-patriarcado branco; a adaptabilidade da república ao gosto de cada geração que passa é semelhante à do camaleão, como o demonstra o facto de existirem tantos tipos de república, quantas as gradações entre despotismo e anarquia (em Portugal já lá vão três).
  2. Dever:obrigação de repagar um favor ou uma divida, tal como é a que uma criatura tem para com o seu Criador de viver de acordo com os preceitos por Ele estabelecidos; contrapartida prestada por quem recebe um salário, tal como praticada por um sindicalista da cgtp na função pública; na República Portuguesa, aquilo que compele um político ou funcionário público na direção do máximo ganho pessoal através da via da maior comodidade e de absoluta indiferença ao bem da Nação, sendo que os incidentes de Pedrogão Grande, Tancos e do ancião com fratura no colo do fémur que morreu no Hospital Beatriz Ângelo são apenas três exemplos do meritório e escrupuloso cumprimento, pelo estado e seus agentes, do dever de proteger os cidadãos e contribuintes.
  3. Aflição: preparação psicológica para o que vem aí, especialmente o que vem aí causado pelas políticas económicas, de habitação, saúde, proteção civil, educacionais, justiça e segurança do nosso governo; aquilo que um santo & justo varão sente quando faz o exame de consciência.
  4. Dor: experiência sensorial desagradável, localizada no cérebro, associada a dano num tecido corporal e transmitido pelo sistema nervoso ao cérebro; experiência emocional desagradável, localizada no cérebro, associada ao sucesso de um nosso semelhante e transmitido pelas redes sociais ao cérebro; até uma fase evolutiva recente da nossa espécie a bisbilhotice fazia as funções das redes sociais.
  5. Hospital: instituição onde as pessoas são tratadas humanamente na enfermaria depois de passarem pelas sevícias dos serviços de atendimento e os horrores das salas de espera; estabelecimento onde se trata da saúde às pessoas (é desconhecido o nome dado às instituições onde se trata da doença das pessoas, se é que existem); serve, cada vez mais, de antecâmera ao cemitério; cancro orçamental; causa recorrente de febre noticiosa, cegueira ideológica, surdez institucional, diarreia regulamentar & legislativa, fracturação política e enjoo púbico; não confundir com hospitalidade.
  6. Mortarrota: bancarrota biológica; morte financeira.
  7. Inferno:uma espécie de Hotel California, onde you can check in any time, but you can never leave; (metaforicamente) economia capitalista; (na realidade) sociedade socialista; local de eterno sofrimento, mas apenas por analogia segundo o sr. pe. Arturo Sosa SJ; Hades; onde o verme não morre e o fogo não se apaga; Geena; lixeira para humanos; abismo; segundo a filosofia escolástica, o centro do universo; (teologia) onde há ausência de Deus, o que demonstra que Nosso Senhor já se mudou para as periferias como Sua Santidade lhe tinha recomendado; residência atual dos srs. Karl Marx e Friedrich Engels e de toda a alargada família socialista que já partiu.