Um pouco mais de 365 dias passaram desde o fatídico 7 de outubro de 2023. Com um saldo de mais de 1200 mortos e 101 pessoas ainda mantidas em cativeiro, a ação terrorista desencadeada pelo Hamas causou o maior número de judeus mortos num só dia desde o horror do Holocausto. Há um ano que evocamos a memória de todas vítimas e das suas famílias. Há um ano que nas nossas orações pedimos que os reféns cativos possam ter a oportunidade de recuperarem o rumo das suas vidas.

Adaptando uma frase de muito má-memória, os labirintos de túneis que foram e estão ainda a ser usados como calabouços não nasceram do vazio.

Quem pagou aqueles túneis, quem treinou aqueles terroristas fanáticos, quem os armou e quem os motivou? Será assim tão difícil seguir o rasto do dinheiro? Este tema é demasiado sério para ficar sem respostas. Se houve uma utilização de verbas das Nações Unidas para fins a que não se destinavam isso tem decisivamente que ser esclarecido.

A ninguém é indiferente que um número expressivo de funcionários da Agência para os Refugiados Palestinianos (UNRWA) tenha estado envolvidos no ataque de 7 de outubro no sul de Israel. A ninguém é indiferente que, apenas há dias, tenha sido conhecido que o líder do Hamas no Líbano, Fateh Sherif, fosse funcionário desta Agência. Quantos mais membros do grupo terrorista do Hamas foram ou são funcionários das Nações Unidas? As questões são muito objetivas, tal como os indícios que as sustentam, e precisam de respostas. Portugal, em fevereiro deste ano, financiou a UNRWA com mais de um milhão de euros. Os contribuintes portugueses deram dinheiro a uma entidade que empregou vários terroristas. Era bom pedir-se contas à UNRWA sobre onde, como e quando foi gastando os milhões que foi recebendo ao longo dos anos. Portugal tem esse dever perante os seus cidadãos e contribuintes.

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Há um enorme viés em relação a Israel, um viés que não se explica apenas pela reação daquele Governo em procurar anular o Hamas na sequência dos ataques de 7 de outubro e, mais recentemente, na sua ação para conter o Hezbollah e outros atores extremistas e terroristas regionais. Este viés é grande, profundo e antigo. É um viés visceral, que não é filho da razão, mas sim do preconceito e que tem levado ao triunfo da narrativa de que Israel não é o agredido, mas sim o agressor; que não é o violentado, mas sim o violador; que não é o atacado, mas sim o atacante.

Sinceramente, é incompreensível e é inaceitável. É, para dizer a verdade, insuportável. Choca-me muito que o responsável máximo da ONU seja tão pronto a condenar Israel e tão ligeiro a condenar quem ataca Israel. Desconsolam-me estes dois pesos e duas medidas, esta forma tépida, tímida e descafeinada em condenar quem ataca, e de responsabilizar quem é atacado pelos ataques que sofre. Em finais de outubro de 2023, depois de ter estado uma semana em Israel logo a seguir ao dia 7 de outubro, promovi e participei num encontro em Nova Iorque entre Guterres e o Presidente do Congresso Judaico Mundial, Embaixador Lauder, para manter vivo o diálogo entre Guterres e o mundo judaico. As suas declarações, já na altura, em relação a Israel, sofriam um viés grande, que se foi agravando. Por um curto período de tempo julguei que esse encontro pudesse ter impacto real na mudança de atitude. Não teve, mas não desisto da ideia de que Guterres ainda possa mudar. Ao contrário das Nações Unidas, que há muito desistiu de ser parte da solução, eu ainda acredito que o bom fundo de Guterres possa trinfar sobre o que quer que seja que o condiciona e o tem levado, nesta matéria, a permanecer do lado errado da História.

Para se estar do lado certo da História há que fazer as escolhas certas. Nas guerras há culpados, mas também há vítimas. De entre as vítimas existem aquelas que sofrem colateralmente por causa da violência, que é inevitável na guerra. E depois existem aquelas que são apenas vítimas da violência pura, indiscriminada, que são vítimas do ódio pelo ódio, do extremismo pelo extremismo.

Israel, contudo, faz um esforço para tentar diminuir os danos colaterais. O Hamas faz um esforço para aumentar os danos, ponto final.

Acontece que Israel é tratado pelas Nações Unidas como se fosse a principal ou única responsável pelo conflito em curso.

O direito à defesa de um país soberano é inalienável. Israel não invadiu, Israel não agrediu, Israel não atacou. Israel defendeu-se e está a defender-se.

Olhar para a realidade dos factos de outra maneira que não esta é negar a própria realidade.

O que aconteceu dia 7 de outubro não pode ter repetição. Enquanto o terrorismo e o extremismo não deixarem de existir naquela região, uma solução de dois Estados simplesmente não pode ter lugar. A autodeterminação dos povos e a liberdade para estes escolherem e traçarem o seu destino é um imperativo democrático. Contudo, a liberdade dessa escolha não é absoluta, quando ela pressupõe a guerra e a destruição de um Estado vizinho. É disto que estamos a falar. É do dia seguinte.

O futuro do Estado da Palestina – que nunca poderá ser “do rio até ao mar” – só poderá acontecer quando os terroristas desaparecerem por completo.