“Não temos uma boa classe política”, ouvimos tantas vezes dizer. Mas o que é isso de uma boa classe política? O que é ser um bom político? A expectativa era que o pudéssemos compreender na escolha dos líderes partidários que enfrentarão as próximas eleições. Mas, depois da escolha, a dúvida persiste.
O que procuram afinal os portugueses num bom político? Procuram alguém com conhecimento dos problemas do país, que se reúne dos melhores especialistas para tomar decisões com impacto concreto e positivo no futuro da nossa sociedade? Procuram alguém com sentido de missão e verdadeiramente comprometido com o desenvolvimento do país? Ou seja, procuram alguém com capacidade para Governar o nosso país? Aparentemente não. Aparentemente, para se ser “um bom político” o que é fundamental é tão simplesmente carisma: ter uma boa imagem, o dom da oratória e a capacidade de mobilizar com recurso à retórica. Será mesmo isto que deveria definir um político?
Acredito que reside aqui um dos maiores problemas da política atual: o facto de nós, sociedade, não exigirmos dos políticos mais do que a capacidade de comunicação. Assistimos a um progressivo esvaziamento de competências, de ideologia e de valores, ao mesmo tempo que se dá a ascensão do reinado quase exclusivo das técnicas de comunicação, num claro desequilíbrio entre soft e hard skills.
Talvez não me caiba a mim definir todas as características de um político, ainda que seja certo que não se esgotam na sua capacidade de comunicação. Mas cabe-me comentar esta comunicação pela comunicação. Isto é, o risco de uma comunicação vazia em conteúdo, ou dissociada da verdade ou destituída de sentido de compromisso. Um político pode ser bom comunicador, mas a sua comunicação nunca será verdadeiramente boa se não assentar nestes pressupostos.
Mas não tem resultado? Tem! Sempre, porém, numa lógica de curto-prazo (Bem sei…em consonância com os ciclos políticos…). Tal qual como a mentira de perna curta. Não se trata de boa comunicação, na verdade, mas de técnicas bem aplicadas. Não a poderia considerar uma boa comunicação, porque falha redondamente em contribuir para o que deveria ser o seu objetivo final: a reputação.
Falta-lhe matéria sobre a qual se debruçar, falta-lhe uma base consistente que segure a estrutura de uma boa reputação. A médio prazo, esta falta traduzir-se-á em falta de consistência, credibilidade e, por último, confiança. Não é, pois, de admirar que a confiança nos políticos atravesse um período tão difícil, que a reputação da classe esteja tanto em causa.
Quando a comunicação não acompanha a realidade e se resume a um conjunto de contra-argumentos, ideias soltas, promessas, sem um fundamento de verdade, de exequibilidade e sem um compromisso de realização, fica altamente comprometida e sujeita à primeira investida de qualquer outro ator político. Está a construir-se uma reputação débil, qual casa de palha do porquinho mais novo, que virá abaixo muito facilmente.
Numa era marcada por uma pulverização de informação, por uma multiplicidade de canais de comunicação e por uma enorme sede de escrutínio, a exposição de um político é enorme. Se a reputação não assentar numa base sólida, será facilmente desmontada, como de resto temos visto acontecer nos diversos escândalos a que vamos assistindo na cena política.
Não defendo aqui que a comunicação seja menor na atividade de um político. É claramente necessária, essencial mesmo para fazer chegar a mensagem a todos, para que os grandes temas sejam percebidos e as medidas necessárias adotadas. Um bom político precisa de ter um bom acompanhamento de comunicação. Mas a comunicação será sempre isso: um acompanhamento de uma boa estratégia política. Um catalisador dos bons resultados. Nunca a própria estratégia política, nem tão pouco o único resultado.
E haverá espaço para uma política diferente? A verdade é que a máquina parece estar montada assim e são muitas as peças que a compõem. A mudança não surgirá, decerto, de súbito. Mas acredito que está nas nossas mãos exigir mais dos políticos que vamos elegendo. E a comunicação cá estará, à espera da boa política para lhe dar brilho, projeção, mas sobretudo, reputação.