Há muito boa gente a procurar que reveles as tuas qualidades de liderança a partir de uma entrevista. Entrevista de trabalho, por exemplo. Barry Conchie, co-autor de Os Cinco Talentos que Realmente Importam: Como os Grandes Líderes Impulsionam Desempenhos Extraordinários, entre muita “banha de cobra” e outro material desinteressante, toca num tópico pouco explorado que são as qualidades de liderança reveladas por um candidato durante uma entrevista. As entrevistas convencionais, claro está, são desde logo condenadas. Há, no meio disto, qualquer coisa que me deixa a pensar sobre a forma como se fazem entrevistas e a forma como te fazem entrevistas.

Há aqui uma troca interessante: um maior foco na essência das respostas do que no poder das perguntas. E, igualmente, uma avaliação dos teus vieses.

São propostas cinco perguntas específicas que ajudam a desvendar qualidades desejáveis de liderança. Quais são?

1 – Há pessoas que não gostas de liderar?

Isto traz logo a questão dos desafiadores versus os yes man. É muito similar à questão de se há alunos a quem não gosto de dar aulas. Não devem existir respostas que digam que sim a tudo, ou que gosto de liderar todos. Deves pensar muito bem o que responder a uma questão destas porque sabes que há pessoas que não gostas de liderar. Como deves dizê-lo? Pois também não há respostas ideais porque cada um é como cada qual. Apenas pensa nisto.

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2 – Conta-me sobre a última pessoa que demitiste e porquê?

Uma questão sobre decisões difíceis que irá revelar o processo e igualmente a coragem, assim como o julgamento moral do líder, especialmente em contextos de performance marginal ou problemas éticos. Mas, mais uma vez, não há uma forma única de responder à questão e muito menos “nunca despedi ninguém”.

3 – Consegues ficar numa sala onde um quadro está desalinhado na parede?

Esta pergunta pretende examinar o senso de precisão organizacional do candidato, avaliando a sua atenção aos detalhes e à ordem, qualidades essenciais em ambientes complexos e rápidos. Não vale dizeres que nem dás por isso. Deves sim explicar o que fazer com a questão.

4- Se fosses fotógrafo preferias uma lente teleobjetiva ou uma grande angular?

Isto procura explorar se o candidato é um pensador de banda larga, capaz de entender a organização e não apenas os detalhes isolados. Mas não caias na rasteira de dizer e explorar apenas uma. Porque a resposta pode bem passar por ter as duas lentes. Agora, se te pedir para decidir entre uma e outra é bom que tenhas uma lógica de resposta que te permita extrair o melhor de ti pela resposta. Não há, de novo, nem certos nem errados.

5 – Fala-me sobre as ideias que recentemente te têm intrigado.

Procura aferir curiosidade e interesse por ideias novas e por variedade e verdade, procurando o teu pensamento aberto e alinhado com inovação e, não menos, agregação. Novamente, respostas certas e erradas não há. Mas uma coisa deves demonstrar e deveria ser a última a perder (digo tantas vezes isto aos meus alunos): a tua curiosidade leva-te onde? “Não és intelectualmente curioso, então deixaste de viver”, digo eu muitas vezes.

No global, um bom entrevistador deve saber quais os traços a procurar e como as respostas se correlacionam com as competências necessárias para a função. O entrevistado deve ser o que é. Sem certos e errados absolutos e com a sua verdade. A sua simplicidade. A sua autenticidade. A sua vulnerabilidade. E porque não? Procura lá a tua resposta para estas questões. Podem fazer-te falta.