É raro o dia em que um scroll no Linkedin ou até mesmo no Instagram não nos presenteie com o surgimento de um novo @Founder ou de um novo @CEO.

Uma revisão rápida ao meu dia-a-dia e são inúmeros os serviços e produtos que utilizo, resultado do empreendedorismo, da resiliência e da capacidade de inovação de quem decidiu arriscar no desconhecido, o que é louvável.

A vaga de empreendedorismo à qual me refiro, não é esta.

A vaga de empreendedorismo de que vos quero falar é em áreas que até então eram dominadas por carreiras tradicionais, como gestores de projeto, programadores, designers, recrutadores entre outros.

Esta vaga, é na minha opinião o espelho de profissionais que deixaram de acreditar no mercado de trabalho tradicional, que fugiram de lideranças tóxicas, que se cansaram de esperar pela progressão de carreira, por melhores salários e por flexibilidade horária. Surge paralelamente à vaga de layoffs, que veio confirmar o sentimento de muitos trabalhadores, de que são apenas números e salários numa folha de Excel. É composta por profissionais altamente qualificados, confiantes no seu trabalho, com cartas dadas na área e com trabalho significativo desenvolvido em empresas reconhecidas, mas que decidiram passar a controlar o seu percurso profissional.

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Não serão isto pistas significativas para aquele que será o futuro do trabalho?

Numa altura em que todos os dias se fala de flexibilidade e em que se ambiciona a redução da semana de trabalho, a independência e flexibilização de carreiras tradicionais, deveria contribuir para uma mudança na gestão dos recursos humanos e dos serviços nas organizações. As organizações podem flexibilizar as suas contratações e recorrer aos melhores profissionais apenas quando necessitam. Ironicamente trata-se de democratizar os layoffs, mas com uma grande diferença, para estes o profissional está preparado.

Estão as organizações dispostas a perder o controle e a previsibilidade que o mercado de trabalho tradicional lhes confere?

É irónico, como numa altura em que se fala tanto do foco em resultados, os trabalhadores ainda continuam a responder por um horário de trabalho ao invés de pelos resultados alcançados.

Creio que o maior desafio para o futuro do trabalho está na mudança de mindset de venda/compra de tempo para venda/compra de resultados. Um desafio para a relação das organizações com os profissionais, mas também na forma como vendem os seus projetos.

O método time-material, é o preferido dos compradores porque lhes permite uma melhor gestão da incerteza, maior flexibilidade e envolvimento. A flexibilidade passa rapidamente de vantagem a desvantagem, na medida em que contribui para um desfoque do resultado. É um método de venda do tempo dos profissionais e não do resultado do seu trabalho.

O tipo de contratação fixed-price, na minha visão poderia contribuir para que esta vaga de empreendedorismo passasse a ser a busca pela inovação e não a fuga do mercado de trabalho tradicional.

Permitiria a descentralização do mercado, possibilitando que independente da localização dos profissionais o trabalho fosse realizado. Contribuiria para um mercado de trabalho flexível, desafiante e focado em resultados. Assim como para profissionais motivados, dado o envolvimento e comprometimento com o resultado, porque é dele que depende a sua remuneração e não do tempo a que esteve alocado.

Acredito que não seremos todos empreendedores, mas que as organizações serão compostas por:

– Núcleo duro, líderes e profissionais a tempo inteiro que trazem estabilidade e mantêm a cultura da organização;

– Profissionais especializados, contratados para projetos específicos num determinado período, preenchendo as lacunas existentes na organização;

– Profissionais versáteis, com contratos mais flexíveis e de curto prazo, capazes de dar resposta às necessidades imediatas da organização.

Esta composição pouco convencional dará flexibilidade aos profissionais para escolherem o que melhor se adequa ao seu perfil e sim, alguns serão empreendedores.

O Observadorassocia-se à comunidade PortugueseWomeninTech para dar voz às mulheres que compõem o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.