Há muito pouco tempo atrás não haveria ninguém que imaginasse que um jogo de futebol pudesse estar 6 minutos parado para se apurar um fora de jogo. Para quem, como eu, jogou e vê futebol há muitos anos, o facto de serem necessários 6 minutos para se confirmar se existiu ou não fora de jogo seria razão mais do que suficiente para se concluir que não houve fora de jogo.
Era uma regra que tinha como principal objetivo evitar que os jogadores se colocassem, como se dizia, “à mama”. Para estas pessoas é muito difícil aceitar que um jogador seja considerado nessa condição quando está 3cm à frente de um adversário. E mesmo que fossem 30 centrimetros, ou, até, 1 metro.
As tecnologias (VAR) vieram para ajudar e aperfeiçoar a arbitragem. Para mostrar imagens de lances que os árbitros não puderam ou não conseguiram ver, ou imagens que os sentidos humanos, no caso a visão, não conseguem discernir em quaisquer circunstâncias. E ainda bem que vieram.
Mas, como se costuma dizer, há limites para tudo, até para a tecnologia. Estamos a falar de imagens registadas a 24 frames por segundo! Para se definir uma linha é necessário optar por um deles. Penso que ninguém terá dúvida nenhuma de que quer no frame anterior quer no frame seguinte ao escolhido a percepção será a de que a bola ainda estará “colada” a bota do jogador que rematou ou fez o passe. Qual escolher?
Os 3 centrímetros podem não significar rigor ou verdade. Pelo contrário, podem significar uma opção, uma arbitrariedade. Em quaisquer dos casos a opção não é escrutinável pelo público, a menos que o VAR passe a divulgar os vários frames e, consequentemente, explique a sua escolha. Que absurdo, louvado seja Deus!
O futebol é mesmo mal governado. Com honrosas exceções, é governado por pessoas que, talvez por serem demasiado apaixonadas por ele, ficam com o espírito toldado, o que os leva a maltratá-lo.
Não seria de bom senso definir uma margem de segurança? Uma margem que permitisse o esclarecimento em 30 segundos? Que não exigisse recorrer à unidade de medida “frame”?
Veja-se, entre muitos outros que se poderiam dar de outras modalidades, este exemplo do andebol. É uma modalidadde de que gosto muito e que acompanho com regularidade. Há muito tempo que tinha a perceção de que quando os pontas rematam do canto já têm um pé no chão. Por curiosidade, dei-me ao trabalho de, parando e avançando imagens do meu televisor (recorrendo aproximadamente aos frames), de verificar a minha teoria. Não há dúvida nenhuma: na esmagadora maioria desses remates quando a bola sai da mão do jogador já o pé está no chão, portanto em violação da área dos 7 metros.
A diferença é que quem governa esta modalidade tem bem mais bom senso do que os seus colegas do futebol e, portanto, tratam bem melhor da sua paixão. Como estamos a falar de frações de segundo, no andebol dá-se uma margem de segurança. Caso contrário, como iriam decidir? Recorrer ao VAR sempre que um ponta remata do canto? Trinta ou quarenta vezes por jogo? A seis minutos por cada remate?
O VAR é para ajudar e não para estragar. Para dar mais transparência e não mais opacidade ao processo de decisão. O Benfica já viu um golo anulado por 4cm e o FC Porto por 3cm. Não duvidem que com 10 ou 12 minutos de espera ainda vamos assistir a foras de jogo de 1cm e … ao fim do futebol.