“Portugal é pioneiro na dinamização do empreendedorismo e inovação social”

Vivemos num mercado global dinamizado pelo empreendedorismo e inovação. A economia digital facilita que cidadãos possam canalizar as suas paixões e capacidades para iniciativas empresariais que ganham vida própria e crescem ao terem sucesso no mercado, ocupando novos nichos, transformando modelos de negócio e criando novas indústrias. Isto por sua vez leva as empresas já estabelecidas a serem também mais inovadoras e a renovarem os seus produtos e processos para se manterem competitivas. O empreendedorismo é, portanto, o motor descentralizado que faz a Economia avançar.

No entanto, o capitalismo de mercado, ao mesmo tempo que gera crescimento e bem-estar, tende a aumentar as desigualdades económicas, consome recursos ambientais escassos, e fomenta fenómenos de exclusão social. E onde o mercado falha em promover o bem comum o Estado deveria atuar. Durante décadas vivemos na crença de que o Estado Social trataria de todos estes problemas. Hoje é claro que isso não é possível pois, por um lado, não há recursos públicos suficientes e, por outro, é difícil a inovação surgir de forma sistemática no seio da administração pública que funciona de forma muita centralizada. O setor da Economia Social, por seu lado, tem tido um papel fundamental no combate à pobreza e na promoção da inclusão social, mas debate-se com desafios de sustentabilidade, nomeadamente uma necessidade líquida de financiamento de mais de 400 milhões de euros por ano, dificuldade na retenção de quadros médios de gestão, e a necessidade de renovação dos seus produtos e serviços.

Para um progresso equilibrado da sociedade é necessário desenvolver, a par com o empreendedorismo orientado para o lucro, outro motor de inovação descentralizado que seja focado na resolução de problemas sociais e ambientais, em áreas onde o mercado falha e as políticas públicas são negligentes ou ineficientes. Esse outro motor é o empreendedorismo social, alimentado pela busca incessante do ser Humano, em dar sentido à vida através da geração de impacto positivo. Felizmente que o empreendedorismo social tem raízes profundas na nossa sociedade civil e está cada vez mais ativo em Portugal.

Os dados do Global Entrepreneurship Monitor de 2016, o maior inquérito mundial na área do empreendedorismo, revelam que 3.2% da população Portuguesa em idade ativa está a lançar organizações de missão social. Isto significa que 160,000 pessoas estão a procurar empreender para criar um mundo melhor. A maioria destes 160,000 potenciais empreendedores sociais são jovens que procuram desenvolver uma carreira que alie a sustentabilidade económica a uma vida com significado e impacto através da inovação ao serviço da sociedade. Destes, 60% desenvolvem modelos com algum grau de inovação e um terço estão a desenvolver ofertas com viabilidade comercial, mas assumindo uma missão social.

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Algumas destas iniciativas nascidas em Portugal começam a dar cartas a nível internacional e a exportarem as suas soluções. Por exemplo, o Dr. Gummy tem já encomendas internacionais para as suas gomas saudáveis e recebeu este ano investimento de impacto para a construção de uma fábrica; o ColorAdd tem dezenas de parcerias internacionais para colocação do seu código universal de cores para daltónicos em múltiplos produtos e serviços; o Speak está já presente em seis cidades Portuguesas com o seu modelo de ensino de línguas e partilha de culturas com o objetivo de integrar migrantes e refugiados e está agora a replicar o seu modelo na cidade Italiana de Turim; o Patient Innovation tem milhares de utilizadores internacionais para o seu modelo de inovação em práticas médicas com origem nos utilizadores e realizou em 2016 uma tournée de divulgação mundial; a Sun-Concept concebeu de raíz uma linha de barcos inteiramente movidos a energia solar e está a representar Portugal num concurso mundial de empreendedorismo de impacto. Estes são apenas alguns dos projetos de inovação social Portugueses com potencial de impacto global. São exemplos nacionais de um novo segmento de empresas sociais de elevado potencial que está a emergir em todo o Mundo e é hoje um foco prioritário para as políticas europeias orientadas para a obtenção de um crescimento sustentável e inclusivo.

Mas a inovação social não se pode limitar à criação de start-ups sociais. É um processo de inovação na sociedade que nasce da ação de indivíduos em pequenos projetos, mas pode ser incubada e crescer em diferentes contextos – setor social, empresas, setor público e academia. Por exemplo, o Speak foi incubado numa associação e o Patient Innovation nasceu de um projeto de investigação da CATÓLICA-LISBON. Além disso, quando novos e complexos desafios se levantam à sociedade, a inovação social em escala pode exigir modelos colaborativos de atuação inter-setorial. Por exemplo, para abordar o desafio da integração de refugiados, inovadores no seio da Economia Social assumiram a liderança criando uma rede – A Plataforma para os Refugiados – que promove respostas eficazes articulando cidadãos, organizações sociais e serviços públicos.

Onde quer que desenvolvam o seu trabalho, os empreendedores e inovadores sociais devem ser acarinhados e apoiados, pois é da sua criatividade, humanidade e capacidade de transformar a sociedade que depende o nosso bem-estar futuro. Felizmente que, em termos de políticas públicas de apoio aos empreendedores sociais, Portugal tem hoje um dos mais completos e ambiciosos programas da Europa continental – A Portugal Inovação Social. Este programa tem um financiamento de 150m euros de fundos europeus e está orientado para a capacitação de iniciativas de impacto social, para a contratualização de resultados em áreas de política pública, e para a mobilização das competências e financiamento do setor privado no apoio a projetos de impacto social, tanto numa lógica filantrópica como de investimento.

As grandes empresas têm também um papel importante a desempenhar na área da inovação social. Empresas multinacionais como a Unilever, a Danone, a Novartis, a Natura, a Lafarge ou a Schneider, crescentemente incubam no seu seio ou investem em projetos de impacto social, abrindo novos mercados para clientes que não conseguiam aceder a produtos e serviços essenciais, ou lançando projetos de valor partilhado que beneficiam a sociedade de forma direta. Em Portugal, há empresas que começam a praticar a inovação social de forma sistemática e estruturada, como é o caso da aposta do grupo Nabeiro na educação para o empreendedorismo ou da José de Mello Saúde com um programa de capacitação de famílias e cuidadores para a temática da hiperatividade e deficit de atenção nas crianças. Existem outras empresas que estão a iniciar um trabalho profundo de posicionamento e definição estratégica na área do impacto social.

A Academia tem também um papel relevante a desempenhar, desenvolvendo as bases de conhecimento e ferramentas práticas que capacitem os empreendedores sociais e facilitem o seu trabalho. Nesse contexto, a CATÓLICA-LISBON vai lançar a 8 de maio de 2017 uma cátedra em empreendedorismo social, a qual vou liderar, e que será uma área de investigação, ensino, e prática para apoio à inovação e empreendedorismo social em Portugal e no mundo.

Em resumo, vencer o desafio da inovação social requer a colaboração de todos os setores – público, social, empresarial e académico – na dinamização de um verdadeiro ecossistema de inovação social e investimento social. Os empreendedores sociais representam um imenso potencial de inspiração, conhecimento e energia que urge aproveitarmos enquanto sociedade para o desenvolvimento de um modelo de capitalismo mais humano, mais centrado nas pessoas e no planeta, e mais focado na criação de valor para a sociedade.

Professor na Católica-Lisbon School of Business & Economics, Cátedra Católica-Lisbon em Empreendedorismo Social