Com o avanço do tempo, as redes e formas de procurar emprego são imensas, porém encontrar um local de trabalho que esteja alinhado com cada pessoa é um problema muito comum. Desde as grandes ofertas até às ofertas mais moderadas, hoje em dia deseja-se um emprego que proporcione bem estar e crescimento. Esta procura permanente é tão mais fácil ou mais difícil quando se encontram referências e modelos positivos das suas próprias realidades. Cada pessoa carrega o seu contexto e sua vivência e, neste sentido, perceber o emprego como uma continuidade saudável da sua vida passa por encontrar um sítio onde se possa sentir num espaço seguro e ético.
A construção de espaços seguros e éticos é, por si só, um desafio que continuamos a procurar resolver. Simultaneamente, a criação destes lugares está conectada com a visibilidade e representatividade que se dá à diversidade. Nas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), o domínio continua a ser de um grupo muito homogéneo. Ao mesmo tempo que procuramos crescer e aumentar a visibilidade e representatividade de mulheres nestas áreas, continuam a faltar políticas claras de inclusão de outras pessoas, como pessoas LGBTI+, pessoas racializadas, pessoas com diversidade funcional, neuro divergentes, entre outras…
Já foi bastante estudado que nas STEAM (e como em muitas outras áreas), a diversidade é um motor para criar melhores respostas para as diferentes comunidades. Porém, o que ainda impede estes meios de apostarem nesta diversidade e inclusão? Muitas vezes, a inércia e a dificuldade em quebrar padrões e normas torna este trabalho mais difícil. Não há visibilidade e representatividade enquanto não houver uma aposta forte numa comunicação inclusiva, num processo seletivo justo e do apagamento dos viés associados ao preconceito e à falta de entendimento e conhecimento.
A ética laboral nas STEAM não pode continuar a ser construída sobre perspectivas centradas num determinado tipo de perfil, mas sim entender que a diversidade é necessária para construir uma nova perspectiva, verdadeiramente inclusiva. Não podemos falar em qualidade, em capacidades e em competências, se o nosso primeiro passo para a seleção de pessoas é o nosso próprio julgamento pessoal. Simultaneamente, a falta de oportunidades de acesso à formação e a projetos tecnológicos éticos, dificulta a progressão de carreira de muitas destas pessoas, dificultando também o seu acesso ao emprego nesta área.
Muitas vezes, as próprias formações internas que se dão sobre determinados temas são circunscritas às pessoas interessadas e não são vistas como um bem estrutural para a comunidade que trabalha nesse local e, como tal, de interesse geral e não particular.
Há um longo percurso a percorrer. Porém, necessário. A tecnologia pode ser, neste momento, uma aliada do futuro. Mas, para que o seja coerentemente, não podemos continuar a entendê- la como um processo de construção estático no tempo e como parte de um grupo seleto. A tecnologia precisa de ser um processo democrático e diversamente equilibrado para crescer e trazer realmente mudanças revolucionárias na sociedade.
Entender a ética laboral é entender que todas as pessoas precisam de se ver representadas, nas suas múltiplas experiências e vivências para que se possam enquadrar nestes mesmos meios, contribuir de forma positiva e construir mecanismos laborais mais sustentáveis no futuro.
A diversidade nas STEM só passará a ser um não assunto quando assumirmos que o processo atual de construção da ciência e tecnologia é marcado por dificuldades estruturais e simbólicas graves que atentam, muitas vezes, à capacidade de inserção no mercado laboral de pessoas diversas. Só será um não assunto quando houver um compromisso sério em questionar as atuais estruturas e entender que os mecanismos que operam na sociedade são também espelhados na cultura que se vive nas STEM.
Por tudo isto, continuará a ser um assunto necessário e urgente.
Daniela Filipe Bento, formada em Astronomia e Astrofísica na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, é actualmente Engenheira de Software no OLX Group e também parte da direcção da Associação ILGA Portugal. Ativista pelos direitos LGBTI+, direito e justiça social e saúde mental, ingressa em diversos projetos de divulgação e de debate crítico. Adora ler, comunicar, fotografia e DJing.