A Organização Europeia de Biologia Molecular (EMBO) distingue todos os anos a investigação de excelência realizada na área das ciências da vida e apoia investigadores de talento no início da carreira. Quando, a 4 de novembro de 2009, Mónica Bettencourt Dias foi selecionada para o programa EMBO Young Investigator foi-lhe reconhecido o mérito de ser uma das melhores líderes de laboratório da Europa. A equipa de investigação que liderava no Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) tinha cerca de três anos e já havia sido premiada com uma bolsa de instalação da EMBO que permitiu equipar o laboratório e contratar pessoas.
Depois de cinco anos de pós-doutoramento em multiplicação de células na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, a bioquímica estava preparada para montar o próprio laboratório. “O IGC era um sítio excelente para começar um laboratório”, diz ao Observador Mónica Bettencourt Dias. A investigadora conhecia alguns dos investigadores que tinham iniciado o próprio laboratório no instituto e, reconhecendo o mérito que estas pessoas tinham, foi um prazer juntar-se a elas. “E é um desafio fazer algo assim no próprio país”, acrescenta. Em outubro de 2006 iniciou o Laboratório de Regulação do Ciclo Celular no Instituto Gulbenkian de Ciência, que beneficiou do apoio financeiro dado pela EMBO – a bolsa de instalação atribuída em 2008 garantiu-lhe 50 mil euros por ano durante cinco anos e a EMBO Young Investigator, em 2009, atribuiu-lhe 15 mil euros por ano durante três anos.
Os prémios monetários e as bolsas que o laboratório tem conseguido garantem uma boa execução dos projetos, mas a investigadora valoriza sobretudo o facto de um prémio EMBO conferir um reconhecimento internacional à instituição. O prestígio atrai bons investigadores para desenvolverem projetos científicos em Portugal. A rede de instituições ligadas pela EMBO permite também que os investigadores partilhem conhecimentos e novas técnicas. Os investigadores desta rede têm a oportunidade de viajarem entre instituições para utilizarem equipamentos como microscópios eletrónicos ou de super-resolução que não possuem na instituição de origem.
Um microscópio ótico, limitado pela utilização da luz, têm uma resolução máxima de 200 nanómetros, ou seja, dois pontos que se encontrem a uma distância menor não são distinguíveis entre si. Como as estruturas que a equipa de Mónica Bettencourt Dias estuda tem apenas 250 nanómetros de diâmetro, estão quase no limite de resolução e são melhor observáveis nos microscópios de fluorescência de super-resolução, que utilizam tecnologias semelhantes às que valeram o prémio Nobel da Química deste ano.
As pequenas estruturas cilíndricas que a equipa de Mónica Bettencourt Dias procura ver ao microscópio são centrossomas, que têm um papel importante tanto na multiplicação das células como na mobilidade celular – são os centrossomas que formam os flagelos dos espermatozoides, por exemplo. Quando o centrossoma não apresenta a estrutura normal pode afetar a mobilidade dos espermatozoides provocando infertilidade, trazer problemas respiratórios porque os cílios das células da traqueia são afetados, causar a degeneração da retina ou provocar um crescimento desregulado das células, como no caso dos cancros.
Neste momento os investigadores sabem que os centrossomas são importantes no desenvolvimento dos cílios sensoriais das moscas-da-fruta, os organismos com os quais trabalham, afetando o olfato, audição e equilíbrio. No caso dos humanos, já descobriram uma molécula envolvida na formação dos centrossomas que quando em excesso poderá provocar cancro da mamã. Um medicamento que ataca esta molécula já se encontra em ensaios clínicos. As parcerias que o laboratório desta bioquímica vai estabelecendo com os clínicos permite que a investigação fundamental possa ter aplicação prática na saúde dos cidadãos.