Como é que de uns quantos ancestrais comuns foi possível dar origem ao mais diverso grupo de animais vertebrados terrestres – as aves? Para encontrar a resposta, que se esconde na genética, um grupo de 200 cientistas ligados a 80 instituições em 20 países juntou-se num consórcio – Avian Phylogenomics Consorcium. O objetivo era tentar analisar e comparar a informação genética de 48 espécies de aves. Da investigação resultaram até ao momento 29 artigos publicados quase em simultâneo, em revista como a Science, Genome Biology, GigaScience entre outras.
Saber por que ordem aparecem os genes no ADN de cada uma das espécies permitiu aos cientistas desenhar a árvore da classe das aves – árvore filogenética – e perceber que, depois da extinção dos dinossauros e de muitas outras espécies há 66 milhões de ano, as linhagens de aves que sobreviveram deram origem a mais de 10 mil espécies. Comparando o genoma de várias espécies foi possível responder a várias perguntas como a evolução dos cromossomas sexuais, a análise do voo a nível molecular, a perda dos dentes ou a aprendizagem vocal, lê-se na página do consórcio.
Passe o rato e clique em cima dos pontos na fotografia para saber mais sobre a investigação realizada. Fotografia: Rodrigo Arangua/AFP/Getty Images
As 48 espécies de aves foram escolhidas de forma a “representarem o melhor possível os grupos que existem”, explicou ao Observador Agostinho Antunes, investigador no Centro Interdisciplinar de investigação Marinha e Ambiental (Ciimar). “A ideia era ter os grandes grupos, mas também as espécies que têm características únicas, que têm interesse económico ou que servem de modelos na saúde humana.” O investigador revelou que há intenções de que se aumentem o número de espécies analisadas no futuro.
Quando comparado o material genético das aves com o dos répteis, os investigadores verificaram que o ADN das aves tem menos sequencias repetidas e que perderam centenas de genes durante a evolução, lê-se no comunicado de imprensa do Ciimar. Este genoma “mais leve” ou “mais compacto” aparece sobretudo nas aves que voam, explicou Agostinho Antunes e pode ter uma relação funcional direta com o voo visto que o genoma dos morcegos também é mais compacto quando comparado com o dos outros mamíferos.
A equipa de nove investigadores liderada por Agostinho Antunes inclui investigadores do Ciimar, Faculdade de Ciências e Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, todos ligados à Universidade do Porto. O foco foi em particular no estudo de determinadas famílias de genes que permitem explicar porque é que as aves têm um esqueleto mais leve, como desenvolveram a visão a cores, onde se originam os padrões de coloração das penas ou a imunidade e resistência a doenças, conforme referido em comunicado de imprensa.
A colaboração internacional é liderada por Guojie Zhang do Banco Nacional de Genes (BGI) na China, Erich Jarvis, da Universidade de Duke nos Estados Unidos da América, e Thomas Gilbert do Museu de História Natural da Dinamarca. Para Guojie Zhang o mais difícil não foi a sequenciação genética dos genomas, que se fez em seis ou sete meses, mas o processamento de todos os dados que levou mais três anos e meio, referiu The Scientist. A equipa teve de desenvolver novos algoritmos que lhe permitisse analisar todos os dados que tinham, mas mesmo assim, se o trabalho tivesse sido feito num único computador, levaria cerca de 400 anos a estar finalizado.