Começou por estudar o papel dos fungos no ambiente, mas Cristina Silva Pereira, investigadora no Instituto de Tecnologia Química e Biológica, tem cada vez mais interesse em responder a questões sobre a biologia destes organismos. “Os fungos filamentosos que estudamos têm uma diversidade tremenda”, disse ao Observador. O potencial para aplicar os conhecimentos à biotecnologia e à investigação e prática clínica são enormes. Já se imaginou usar um penso ‘vegetal’ para evitar uma infeção por fungos?
Estudar fungos que provocam doenças nas plantas é importante, sobretudo no setor agroalimentar e agroindustrial, mas torna-se cada vez mais relevante para a saúde humana à medida que alguns desses fungos mostram que também podem afetar as pessoas. Um dos objetivos do laboratório de Micologia Ambiental e Aplicada, liderado por Cristina Silva Pereira, é perceber que mecanismos as plantas usam para combater estes agentes estranhos e tentar reproduzi-los. “Gosto de pensar na fronteira das disciplinas, por isso tenho uma equipa multidisciplinar – engenharia química, ciências ambientais, parasitologia”, disse ao Observador a investigadora.
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“A estrutura da parede celular das plantas tem sido ignorada, mas percebeu-se que esta afinal estabelece interações com o ambiente”, referiu Cristina Silva Pereira. A equipa conseguiu extrair um composto das paredes celulares – a suberina -, que se reorganizou de forma espontânea e produziu um novo material. “Conseguimos reproduzir uma barreira natural”, disse a investigadora. “Este poliéster é hidrofóbico, impermeável a gases e biocida.” Um material que pode ter uma aplicação clínica, embora ainda sejam necessários uns melhoramentos em termos mecânicos e de impermeabilidade.
Cada planta tem de lidar com fatores ambientais distintos e com agentes patogénicos diferentes, como tal produz substâncias específicas. Logo, os bioplásticos produzidos em laboratório, com base nestas moléculas, também terão propriedades e aplicações diferentes. Podem ser usados, por exemplo, como um penso antimicrobiano. “Podem ser usados de forma preventiva, porque as infeções fúngicas podem ser mortais para as pessoas imunodeprimidas e diabéticos”, explica a investigadora.
Além de agirem como causadores de doenças, os fungos também desempenham funções importantes no ecossistema – como a degradação de matéria orgânica, libertando os sais minerais necessários ao desenvolvimento das plantas e eliminando a matéria morta acumulada. Este serviço pode ser potenciado na degradação dos poluentes no ecossistema.