Basta um passeio por Lisboa para notar que têm surgido nos muros e paredes da cidade cada vez mais obras de arte, de artistas portugueses e estrangeiros. Este desenvolvimento da arte urbana em Portugal nos últimos anos motivou a criação, na zona de Lisboa, de visitas guiadas que têm tido os turistas estrangeiros como principais interessados.

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Na visita guiada “The Real Lisbon Street Art Tour”, da Estrela D’Alva, empresa dedicada a visitas temáticas em Lisboa e concelhos limítrofes, fica-se a saber que a capital “começou a ficar no mapa internacional da arte urbana no início desta década, com o programa Crono”. Quem o explica é o guia Vasco T. Rodrigues, que fotografa graffiti desde que surgiu em Portugal, nos anos 1990, em Carcavelos.

A face mais visível do Crono está na Avenida Fontes Pereira de Melo, onde OsGemeos (Brasil) e Blu (Itália) deixaram as obras que haveriam de correr mundo através da internet e que figuraram num top 10 do jornal britânico The Guardian com os melhores trabalhos de street art do mundo.

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“A partir do momento em que Lisboa ficou no mapa as pessoas passaram a querer saber mais e começaram a surgir empresas, entidades e serviços que começam a ser prestados no âmbito desse trabalho”, contou Vasco T. Rodrigues.

Um dos responsáveis do programa Crono era o artista português Alexandre Farto, que assina como Vhils. É dele também, em conjunto com a francesa Pauline Foessel, a plataforma Underdogs, que tem um programa de exposições e arte pública que já deu a Lisboa 19 murais.

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À 18.ª parede, a Underdogs decidiu que “seria importante dar a possibilidade de as pessoas saberem mais sobre o projeto” e assim surgiram, há cerca de um mês, as visitas guiadas, contou à Lusa Mariana Mesquita, da plataforma.

“Até agora temos tido mais estrangeiros, pessoas muito interessadas em arte urbana ou arte pública, com muita informação, com ‘background’, que conhecem os artistas que vão ver”, contou, acrescentando que “essas pessoas querem saber mais, o que está por trás”.

Na visita ficam a saber, por exemplo, que algures no mundo irá surgir um mural que completa aquele que o brasileiro Nunca pintou em Marvila. Em Lisboa está Pedro Álvares Cabral a pedir esmola e Nunca assegurou à Underdogs que num outro local será pintado quem lha dá.

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O ‘tour’, feito em minibus quando se trata de pequenos grupos ou em ‘sidecar’ nas visitas privadas, arranca no Mercado da Ribeira, onde a plataforma tem uma loja, e termina em Alcântara, com uma paragem na galeria, onde está patente até 09 de maio uma exposição da artista portuguesa Wasted Rita, que irá pintar a 20.ª parede do programa de arte pública.

Várias paredes encontram-se em zonas menos turísticas, como Marvila, Xabregas e Alcântara, aproveitando-se para “mostrar outras zonas, outras dinâmicas”.

Apesar de esta visita estar focada no trabalho da Underdogs, se no percurso houver outras paredes os guias (sempre pessoas ligadas à plataforma) também falarão delas.

Na visita da Estrela D’Alva o método é diferente, não há um percurso predefinido. Quando apanha os turistas no ponto de encontro previamente acordado, Vasco T. Rodrigues pergunta sempre “o que já conhecem e o que estão interessados em ver”: “Consoante o que respondem e dependendo do sítio onde os apanhamos [em minibus], vou delineando o traçado ao gosto da pessoa e consoante o espaço geográfico na cidade”.

Vasco tem as paredes todas, ou quase, na cabeça, assim como os nomes e a história dos artistas.

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“Tentamos dar uma abrangência de tudo o que é arte urbana em Lisboa e concelho limítrofes [é obrigatória a passagem na Quinta do Mocho, em Sacavém, Loures]. Há quem queira ver tudo o que se faz a nível de street art e graffiti, incluindo o vandalismo e os comboios, e, se conseguirmos mostrar, mostramos”, disse.

O objetivo principal é “demonstrar a razão pela qual Lisboa está nas dez melhores capitais para ver street art: as fachadas, os muros mais ou menos legalizados onde se podem ver as boas produções”.

Tal como na visita da Underdogs, quem mais procura o tour da Estrela D’Alva são estrangeiros.

“Até agora, 90% dos clientes foram estrangeiros. Já tivemos fotojornalistas freelancers que estão interessados em conhecer os sítios e fotografar para tentarem vender para publicações internacionais, amantes do graffiti, pessoas que fazem graffiti e querem conhecer a nossa realidade, universitários de faculdades estrangeiras. É muito diferente o público que nos contacta”, contou Vasco, acrescentando que é possível que a meio do percurso haja uma paragem para ver algum artista em ação.