Os socialistas não gostaram de ver Carlos Costa reconduzido como governador do Banco de Portugal e querem que esta nomeação venha a ser reavaliada na Assembleia da República. Pedro Nuno Santos, vice-presidente da bancada socialista, teceu duras críticas à decisão do Governo de renomear Carlos Costa, descrevendo mesmo a nomeação como “a mais partidarizada de um governador de sempre”.

Em declarações aos jornalistas, no Parlamento, o socialista disse que a maioria deveria ter ouvido a oposição nesta matéria, especialmente “numa altura em que mais se justificava um apoio alargado”, e lamentou que o “PS só tenha sido informado da nomeação apenas hoje de manhã”. Mais: Pedro Nuno Santos considera que o “primeiro-ministro forçou esta nomeação contra a aparente oposição” de membros do Executivo.

Entretanto, as novas regras para a nomeação do governador – aprovadas por iniciativa socialista – obrigam a que Carlos Costa seja ouvido no Parlamento, apesar de esta audição não ser vinculativa. Como PSD e CDS têm maioria no Parlamento, as esperanças do PS em que revejam esta decisão são poucas, mesmo assim, Pedro Nuno diz que esta audição “não deve ser um mero formalismo” e os dois partidos vão ter de explicar a mudança entre as avaliações negativas da ministra das Finanças e do vice-primeiro-ministro ao desempenho de Carlos Costa, e a nomeação. “A maioria tem de explicar o que mudou entre as conclusões da Comissão e esta nomeação”, afirmou o deputado socialista.

Esta posição dos socialistas tem vindo a ser defendida nos últimos meses, sobretudo durante a comissão de inquérito ao Banco Espírito Santo. O PS foi dos partidos mais duros a apontar responsabilidades ao governador, dizendo que este agiu tarde, conclusões que acabaram refletidas no relatório final da comissão de inquérito.

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A decisão do Governo de renomear Carlos Costa aconteceu exatamente no dia a seguir ao governador ter estado na Assembleia da República num audição de balanço e onde foi questionado por diversas vezes sobre se aceitava ou não o cargo. Já esta quarta-feira se percebia que os socialistas se iriam opor à recondução do homem que foi escolhido pelo ministro socialista das Finanças Teixeira dos Santos em 2011. Na audição, o deputado Pedro Nuno Santos questionou mesmo Carlos Costa se este se sentia confortável em ser nomeado sem haver consenso alargado. A todas as perguntas, Carlos Costa não respondeu.

Mas as críticas não se ficaram por aqui e acabaram por chegar também ao Presidente da República. Nas declarações aos jornalistas, o deputado socialista considerou que agora ficou provado que as “declarações de solidez” dias antes da queda do Banco Espírito Santo não surgiram por “falta de informação”. O que, na opinião de Pedro Nuno Santos, ajuda a explicar por que razão “o Governo foi tão protegido na comissão parlamentar de inquérito quanto à medida de resolução adotada”.

Também Paulo Sá, deputado do PCP, se pronunciou sobre a renomeação de Carlos Costa, descrevendo a decisão como “verdadeiramente incompreensível” e sem “qualquer sentido”. “A comissão de inquérito deixou bastante claras as responsabilidades de Carlos Costa”, afirmou.

Ainda assim, o deputado comunista acredita que, independentemente da escolha do próximo governador do Banco de Portugal o problema não vai acabar por aqui. “O sistema de supervisão encontra-se capturado pelo sistema bancário e este problema não se resolve com uns pozinhos de supervisão”, defendeu Paulo Sá.