O envolvimento da África do Sul na guerra colonial portuguesa foi potenciado pela intervenção da PIDE/DGS, escreve o brigadeiro-general sul-africano Willem van der Waals, no livro “Guerra e Paz – Portugal/Angola”.

Willem van der Waals serviu 33 anos nas Forças Armadas da África do Sul, como comandante paraquedista, estratega e analista dos serviços secretos, tendo desempenhado funções como vice-cônsul de Pretória em Luanda entre 1970 e 1973.

No livro “Guerra e Paz – Portugal/Angola”, editado pela Casa das Letras, o antigo oficial sul-africano, analisa a história dos movimentos de libertação, as relações internacionais, o contexto histórico e o curso da guerra que se prolongou durante 12 anos (1961-1974) entre portugueses e movimentos de libertação.

Quanto ao envolvimento de Pretória no conflito angolano, o brigadeiro-general, além dos interesses geopolíticos, refere a influência da Direção Geral de Segurança (DGS, polícia política do regime português), particularmente dos “Flechas”, a “força paramilitar de negros” dos serviços secretos de Lisboa.

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“A atividade da DGS não se confinava apenas a Angola, alargando-se também a Estados vizinhos hostis. Além disso, foi através da ligação com a DGS que a África do Sul mais se envolveu na guerra de Angola, fator que adquiriu peso considerável no Sudoeste”, escreve o autor sobre o papel militar da polícia política do Estado Novo no contexto da guerra colonial.

Segundo Waals, as alegações relativas ao envolvimento da África do Sul “de 1968 em diante” não eram totalmente infundadas devido à ameaça colocada ao Sudoeste Africano (Namíbia) pela rápida expansão do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) e que obrigou a África do Sul a reagir.

“A SAP (South African Police) também manteve contacto e iniciou troca de informações com as agências da PIDE no Cuando Cubango. O próximo passo lógico tomado pela SAP foi obter autorização para desenvolver operações de perseguição em Angola”, sublinha o autor sobre a luta de Pretória contra a SWAPO (South West African People Organisation) na Namíbia, que se estendeu a território angolano.

Van der Waals refere-se também a uma visita privada do então primeiro-ministro sul-africano, B.J. Vorster, a Lisboa, em 1970, durante a qual se verificou o alargamento da cooperação militar entre a África do Sul, Portugal e Rodésia.

Sem aprofundar os detalhes do Acordo de Alcora, estabelecido entre sul-africanos, portugueses e rodesianos, o autor sublinha, no entanto, que Pretória tinha consciência das deficiências de Portugal em termos militares e por isso fazia tudo para ultrapassar as falhas no sentido da defesa do “bem comum” na luta contrarrevolucionária.

“No âmbito desta cooperação estabeleceu-se o Primeiro Agrupamento Aéreo, no Rundu, em maio de 1968, para coordenar o apoio aéreo destinado à SAP e às forças da ordem portuguesas”, indica a investigação do ex-militar, que menciona igualmente a existência do posto aéreo conjunto no Cuíto Cuanavale coordenado entre a SAAF (South African Air Force) e a Força Aérea Portuguesa.

Segundo o autor, os efetivos sul-africanos levavam a cabo operações de transporte de material e “das forças da ordem” e tinham “instruções precisas para não se envolverem nas escaramuças dos guerrilheiros do MPLA e da UNITA”.

A “estreita colaboração” entre as forças dos dois países começou em 1968 com encontros regulares entre oficiais sul-africanos e o general Costa Gomes (comandante-chefe das Forças Armadas em Angola), e mais tarde o general Luz Cunha, em Luanda.

Sobre Costa Gomes, o autor cita um veterano oficial português, que “fez o claro reparo” de que fora enviado para Angola para “preparar terreno com vista à transmissão de poderes”.

“Depois de ter levado a cabo alguma investigação não-oficial (…) descobri que Costa Gomes se envolvera num golpe abortado contra o governo de Salazar (golpe de Botelho Moniz/1961), pelo que as dúvidas se mantiveram” (página 23), escreve o antigo oficial militar sul-africano.

O livro, segundo o autor, pretende também colocar os “factos em perspetiva e dar respostas a algumas das questões levantadas por muitos soldados sul-africanos que defenderam o sudoeste Africano (Namíbia) e as “legítimas preocupações da UNITA de participar no governo de uma Angola independente”.