Rumores, notícias e suspeitas. Rebentou uma bomba para acabar com tudo: Jorge Jesus vai dizer adeus ao Benfica para dizer olá ao Sporting. O ainda treinador dos encarnados deverá colocar a assinatura num contrato que lhe renderá seis milhões de euros brutos, por época. Tudo ainda está por oficializar pois, para Jesus chegar, Marco Silva tem de sair. E entre a noite de quarta-feira e a madrugada de quinta, enquanto se iam descobrindo informações sobre a ida de Jesus para o Sporting, pouco se ia sabendo de Marco. Porque, segundo o que o Observador apurou junto de fonte próxima do processo, ninguém do clube falou com o treinador — que ainda estava à espera de uma reunião com os responsáveis do clube que não seja cancelada.
Há canções que, sendo boas, más ou assim-assim, se agarram com super cola à mente. Às vezes basta serem tocadas muitas e muitas vezes para entrarem nos ouvidos e de lá não mais saírem. Aqui ninguém é bruxo, mas, se a tarefa fosse adivinhar a música que, durante meses, terá tocado na de Marco Silva, uma dos palpites seria a “Should I Stay or Should I Go?” — ou, traduzida em português, algo como “Devo ficar ou ir-me embora?”. Não sabemos se, nos últimos seis meses, o treinador andou a fazer esta pergunta a ele próprio. Mas quando o Sporting era trazido à baila da conversa, não se falava de outra coisa.
As conversas, pelo menos estas, vão acabar. Porque Marco Silva, depois de tanto rumor, suspeita e notícia, vai mesmo embora do Sporting. “Os adeptos vão saber na altura certa, no momento certo”, acautelou Bruno de Carvalho, logo após a final da Taça de Portugal, dando razão a quem dizia que, para o bem da equipa, o presidente só ia dar uma tesourada na relação após a época terminar. As notícias da chegada de Jorge Jesus aos leões apareceram na quarta-feira e, por isso, só resta ao Sporting, e ao presidente, oficializarem uma separação que já estava iminente desde dezembro.
Foi no mês do Natal que começou a crescer um arbusto no meio da relação entre presidente e treinador. Mas a primeira semente plantou-se no primeiro dia de novembro. Ao nono jogo que o Sporting fazia no campeonato — e após somar já quatro empates –, a equipa foi a Guimarães perder (3-0) e quase nada fazer para o evitar. Bruno de Carvalho não gostou. “É tempo de nos mostrarmos dignos deste Clube e demonstrar que não são apenas os nossos sócios e adeptos que se esforçam ao limite das suas forças durante os jogos, mas que nós profissionais também somos capazes de o fazer em todos os jogos”, escreveu o líder, na altura, no Facebook.
Marco Silva também não gostou. Não tardou a dizer que os leões iam responder em campo, mas as palavras tardavam a aparecer no relvado. A equipa foi gaguejando e, em dezembro, já estava no quinto lugar e a dez pontos da liderança do campeonato. Os rumores azedam, não param quietos e, a meio do mês, não há jornal que não avance com a saída do treinador. Tanto se escreve e se fala que Bruno de Carvalho impõe um blackout a 22 de dezembro — “em virtude dos injustificados e repetidos ataques por parte de diversos órgãos de comunicação social e da constante manipulação da informação sobre o clube.” Toda a gente no clube se cala. Menos o presidente, que vai continuando a aparecer na Sporting TV para reagir quando e ao que lhe apetece.
É o que faz mesmo no fim de 2014, para considerar “absurdo” que se fale “em crise”. Também aproveita para garantir que “Marco Silva é o treinador do Sporting” e que “lá [estaria] a fazer o seu trabalho em Guimarães”, no último jogo do ano, a contar para a Taça da Liga. Há reuniões e agulhas a serem acertadas para a saída do treinador, mas o presidente, às tantas, decide adiar a despedida — a bem da equipa, dos adeptos e da sua imagem. Nesta altura, por obra do silêncio forçado, vê-se um Sporting “a uma só voz”, tal como Marco o elogiou quando tinha sido apresentado como novo treinador do clube, no início da temporada. Marco fica e aí o técnico arranca para uma série de oito vitórias seguidas que o ajuda a afastar os dedos que o presidente lhe podia apontar.
Só volta a perder pontos para o campeonato um dia após Bruno de Carvalho acabar com o silêncio — o presidente levanta o blackout e, a 8 de fevereiro, o último minuto do dérbi dá um golo ao Benfica e um empate (1-1) aos rivais. Depois a equipa vai ao Dragão perder (3-0), vê Cristian Tello marcar-lhe um hat-trick e fica a oito pontos do segundo lugar e a 12 do primeiro. O título de campeão, ambição que Bruno de Carvalho inflacionara para objetivo no arranque da temporada, passa a estar bem longe da equipa.
Março chega e mais novidades aparecem. Diz-se que o contrato entre Marco Silva e o Sporting prevê que o clube o possa despedir, sem lhe pagar o que seja, caso termine o campeonato a 15 pontos do campeão. Caso fosse o treinador a querer sair algures antes de 2018 — o vínculo previa que a relação durasse quatro épocas –, teria de pagar à volta de 1,5 milhões de euros para se ir embora antes do tempo. Tal como o fizera Leonardo Jardim, quando foi seduzido pelos milhões do Mónaco e partiu numa aventura que o levou até aos quartos-de-final da Liga dos Campeões. As costas voltadas entre Bruno e Marco começam, de vez, a ser tema semanal de jornais e conversas de café. Não se fala de outra coisa.
Algo que nem o salto para a final da Taça de Portugal, garantido a meio de abril, parece mudar. Marco Silva consegue imitar Sá Pinto e ser o treinador que, depois de 2008, consegue colocar o Sporting com hipóteses de voltar a agarrar um caneco.
As perguntas batem à porta de Marco com insistência e o treinador vai lembrando que lhe restam três anos de contrato por cumprir. “Não há nada a dizer sobre isso. O que eu exijo é estar focado nos jogos”, diz, a 1 de maio. Até a final da época as respostas do treinador não fogem muito disto e a conquista da Taça no Jamor também não muda nada. “O presidente a seu tempo o dirá. Vocês estão curiosos e sedentos, mas eu não tenho essa resposta. Quando cheguei pediram-me títulos e consegui um que muito me orgulha. Tenho mais três anos de contrato. Vocês falam de muita coisa. Estou muito satisfeito onde estou”, explica, acabadinho de conquistar o primeiro título para o clube em sete anos.
Poderia já saber e só não queria dizer. Porque quando a noite de quarta-feira já piscava o olho à madrugada de quinta, as notícias rebentaram. Mais do que Marco Silva sair, chega Jorge Jesus. Mais do que a despedida do velho treinador do Sporting, são as boas-vindas ao novo técnico. É um adeus que é engolido pela surpresa do olá. Há um ano, Marco chegava ao clube de Alvalade dizendo que a “ambição” era “ganhar todos os jogos”. Dos 53 que fez, venceu 31, empatou 15 e perdeu sete.