Há uma empresa britânica que quer libertar moscas geneticamente modificadas em Espanha, perto da cidade de Tagarrona. A ideia da Oxitec é que sejam libertadas 500 moscas por semana durante um ano. Objetivo: fazer com que as larvas fêmea morram no interior das azeitonas, fazendo com que só os machos sobrevivam. E acabar, assim, com a praga da mosca da azeitona.

O plano é libertar as moscas numa área limitada de 1000 m2, que está coberta por rede, mas várias associações já vieram manifestar-se contra a iniciativa. Apesar de o objetivo da Oxitec seja fazer com que as populações de mosca da azeitona nativas diminuam e se elimine o risco de prejuízo económico, há receio de que estas escapem e se reproduzam sem que haja qualquer tipo de controlo.

“A mosca da azeitona é uma espécie que se reproduz rapidamente num habitat favorável. Com o tempo, é previsível que a sua descendência venha a propagar-se por toda a região mediterrânica e em todos os locais em que existam populações nativas”, lê-se no comunicado divulgado pela Plataforma Transgénicos Fora.

Com a medida, a empresa pretende acabar com as pragas deste tipo de mosca na produção de azeitona e azeite, mas a Plataforma Transgénicos refere que a “biodiversidade pode ser severamente prejudicada” e podem surgir efeitos colaterais no ecossistema, no ambiente e nos sistemas de produção.

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“Não devemos tolerar experiências irresponsáveis que se traduzirão inevitavelmente na libertação acidental de animais transgénicos no ambiente. Com os ecossistemas planetários já sob stress, qualquer dano adicional irreversível é inaceitável. Para além disso, nenhum consumidor deseja comer azeitonas recheadas com larvas geneticamente modificadas”, afirmou Margarida Silva, da Plataforma Transgénicos Fora.

O movimento que defende uma agricultura sustentável orientada para a proteção da biodiversidade explica que existe uma elevada probabilidade de as moscas com ADN sintético (obtido a partir de mistura de organismos marinhos, bactérias, vírus e outros insetos) acabarem por se incorporar de forma permanente nas populações nativas. E adianta que ninguém pode prever o comportamento ecológico destes insetos quando forem libertados no ambiente.

“Libertar insetos geneticamente modificados no ambiente é uma experiência perigosa que, na prática, irá transformar toda a Europa num laboratório ao ar livre. Os insetos não respeitam as fronteiras e nenhuma esterilidade é 100% eficaz. Podem escapar-se das áreas experimentais e se, como é frequente, as coisas não correrem de acordo com o planeado, será impossível terminar e conter o ensaio”, afirma Janet Cotter, da Unidade Científica da Greenpeace Internacional.

Victor Gonzálvez, da Sociedade Espanhola para a Agricultura Ecológica adiantou que se as azeitonas entrarem em contacto com as novas larvas geneticamente modificadas, os produtores biológicos podem perder a certificação e os consumidores podem perder a confiança na agricultura biológica.

“Esta tecnologia parece ter o potencial de pôr em perigo a biodiversidade, a agricultura biológica e o futuro da produção de azeitona e azeite na região mediterrânica. Presumimos que esta experiência está a ser desencadeada pelo interesse da Oxitec e dos seus investidores em tirar o máximo lucro desta tecnologia patenteada”, diz Cristoph Then, da Testbiotech.

Ainda não se sabe se os ensaios já foram autorizados pelas autoridades espanholas. Mas a confirmar-se, esta será a primeira libertação de animais geneticamente modificados na União Europeia desde sempre. Em 2013, a Oxitec já tinha pedido para desenvolver este ensaio em Espanha, mas o pedido foi retirado após protestos públicos. Em março de 2015, voltou a fazê-lo e o início da libertação está previsto durante o mês de julho.

O comunicado divulgado pela Plataforma Transgénicos Fora foi subscrito por diversas organizações, como a espanhola Amigos de la Tierra, a portuguesa Agrobio, a francesa Criigen, a italiana Rete Semi Rurali ou a alemã Testbiotech, entre outras.