A cotação do ouro acumula uma descida de quase 8% desde o início do ano, um recuo que se aprofundou nas últimas semanas e que levou o preço da onça de ouro para menos de 1.100 dólares. O valor do metal precioso poderá, contudo, estar apenas no começo de uma correção negativa ainda mais acentuada, que leve a cotação até à casa dos 350 dólares por onça. É essa a perspetiva de Charles Erb, que em meados de 2012 foi um dos primeiros especialistas a dizer que a valorização do ouro tinha terminado e que a maré ia virar. O vaticínio viria a confirmar-se, com o ouro a cair 32% desde essa altura.
Os analistas têm vindo a justificar a queda do preço do ouro com dois fatores principais. Por um lado, a procura por ouro como ativo que protege contra a inflação reduz-se numa altura em que a Reserva Federal dos EUA se prepara para subir as taxas de juro pela primeira vez desde 2006. Por outro lado, a China divulgou recentemente os dados sobre as suas reservas de ouro. A China tem uma política de acumulação de reservas de ouro, aproveitando momentos de fraqueza no preço para reforçar a compra. Mas o valor total das reservas chinesas, agora conhecido, ficou abaixo do que os analistas previam, apesar da subida de quase 60% desde 2009.
Estes fatores podem contribuir para que, segundo disse Charles Erb a um colunista do MarketWatch, Mark Hulbert, se olhe como uma “possibilidade real” que a cotação possa cair até aos 350 dólares por onça.
Mercado do ouro “virou” em 2012
O colunista do MarketWatch diz que este alerta é para ser levado a sério. Porquê? Porque, em junho de 2012, com um estudo académico que marcou a época, Charles Erb e o seu colega Campbell R. Harvey, avisaram que o preço do ouro estava “alto” numa análise histórica. Estes peritos foram, segundo Mark Hulbert, os primeiros a declararem a morte do bull market no ouro, isto é, que iriam acabar os anos consecutivos de ganhos. Desde então, o preço do ouro cai 32%.
O preço do ouro está longe dos 1.900 dólares a que chegou em 2011, negociando nos últimos dias a menos de 1.100 dólares. Segundo um mecanismo desenvolvido por Erb e Harvey, o valor justo para o ouro ronda, neste momento, os 850 dólares. Este é um cálculo do valor fundamental do ouro, olhando para as perspetivas de oferta e procura.
O preço do ouro chegará a esse valor, o que já implicaria uma quebra superior a 15% face à cotação atual, mas o risco, é que, uma vez mais, o preço do ouro não pare no valor justo. Ao longo da história, explica Charles Erb, tanto nos ciclos de subida como de descida, o ouro nunca parou no tal valor justo, superando-o em momentos de subida e descendo abaixo dele nos ciclos de descida.
Chama-se a isso o overshoot e o undershoot do valor justo. E não se fala de uma margem insignificante: de acordo com a pesquisa destes peritos, o undershoot pode fazer a cotação chegar aos 350 dólares.