“Em equipa que ganha não se mexe” pode valer para muitas situações, mas não certamente para esta. A coligação PSD/CDS ganhou as eleições de domingo, mas perdeu a maioria absoluta que lhe permitiu governar e legislar durante os últimos quatro anos sem grandes obstáculos. E por isso vai ter de mexer – e muito – nos jogadores. Com a necessidade de ter de fazer acordos por tudo e por nada com o PS, o novo Governo da coligação terá de ser pensado ao pormenor e construído com pinças. Quem sai, quem quer sair, quem muda de pasta, quem vem de fora. Há pastas para o PS?

Passos Coelho disse-o claramente no discurso da vitória: sem maioria no Parlamento, é preciso procurar entendimentos com o PS para implantar as reformas necessárias para o país. Nada aponta, contudo, para a intenção de abrir a porta do Executivo a socialistas, mas o Observador sabe que até essa hipótese começou a ser equacionada ontem à noite depois de contabilizados os votos, na certeza de que o ciclo político que agora se inicia é forçosamente diferente daquele que se fechou ao fim de quatro anos de governo maioritário.

Para já, numa altura em que PSD e CDS reúnem as direções nacionais para acertarem o acordo de governação com que se apresentarão ao Presidente da República, há certezas quanto a algumas das peças do puzzle e reina a ideia de “manutenção” – tanto maior quanto possível. Mas entre ministros que já se mostraram irredutíveis quanto à falta de vontade de voltar ao Governo e outros que têm a porta aberta para sair, há ainda outros tantos que estão em pulgas para mudar de pasta. E outros para entrar.

A pasta das Finanças é a pasta-chave, e Passos Coelho chegou a dizer em campanha, com Maria Luís Albuquerque ao lado que, se fosse eleito, tinha “muito claro” na sua cabeça quem seria o nome indicado. Mas não avançou mais. “Não tivemos nenhuma conversa sobre isso”, disse a ministra. Certo é que se em tempos as relações entre Paulo Portas e Maria Luís foram tensas, agora vivem dias de harmonia. Mas vamos por partes.

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As saída certas

António Pires de Lima – O ministro da Economia que substituiu Álvaro Santos Pereira há muito que dizia que deixaria a política assim que terminasse o mandato no Governo. Já em janeiro garantia ao Expresso que saia da política em outubro de 2015 e que regressaria à sua atividade profissional anterior. Da área política do CDS e nome que chegou a ser apontado como possível sucessor de Paulo Portas no partido, Pires de Lima é um administrador de empresas privadas que só deixou o setor para se juntar ao Governo em julho de 2013. Antes disso, era diretor-executivo da Unicer há sete anos, tendo sido também presidente da comissão executiva da Compal.

Miguel Poiares Maduro – É outro dos ministros que chegou ao Executivo na segunda leva e que cedo deixou claro que não iria continuar. Entrou com a saída de Miguel Relvas, tendo ficado com a pasta de ministro-adjunto e do Desenvolvimento Regional, mas não quis integrar a lista de deputados para esta legislatura para dar prioridade à academia. Poiares Maduro vai assim regressar ao Instituto Universitário Europeu, em Florença, para não perder o vínculo à universidade, assim como voltará a dar aulas de Direito em Yale, nos EUA.

Paula Teixeira da Cruz – Foi uma das ministras mais contestadas da atual governação, mas também uma das que Passos segurou até ao fim. Com a pasta da Justiça, Teixeira da Cruz esteve no centro do furacão do Citius, o sistema informático dos tribunais que colapsou em setembro e que provocou o caos nos tribunais de todo o país. Em dezembro do ano passado, o Diário de Notícias dava conta de que a ministra tinha feito um almoço de Natal com vários representantes do ministério e tinha aproveitado a ocasião para fazer o “discurso de adeus”, uma vez que não iria continuar no cargo mesmo que o PSD vencesse as legislativas. E apesar de ter integrado um dos lugares cimeiros nas listas da coligação pelo distrito de Lisboa e de ter participado ativamente na campanha ao lado de Passos e Portas, o Observador sabe que Paula Teixeira da Cruz não quer voltar ao Executivo. A ideia é ocupar o lugar de deputada, mas sem regime de exclusividade, para continuar a exercer advocacia.

Nuno Crato – A par de Paula Teixeira da Cruz, Nuno Crato foi dos ministros mais criticados no anterior governo, depois de ter estoirado a polémica do arranque do ano letivo e da colocação de professores. Esteve por um fio e em vias de cair, mas Passos segurou-o sempre até ao fim. Agora, com o cenário mais dificultado pela falta de maioria para governar, pode prevalecer o argumento de que todos os focos de polémica potencial devem ser eliminados pela raiz. Em todo o caso, apesar de ser uma escolha de Passos, Crato não reúne particulares apoios entre os centristas, e isos também pode pesar.

De resto, outros lugares que deverão ficar vagos são os de Rui Machete, que entrou com a remodelação de 2013 para substituir Paulo Portas nos Negócios Estrangeiros, e de Anabela Rodrigues, que entrou para o lugar de Miguel Macedo na Administração Interna depois de este se ter demitido na sequência do caso dos vistos gold.

As dúvidas

Paulo Macedo – É uma das maiores dúvidas. Não quis integrar a lista de candidatos a deputados da coligação, mas entre o PSD e o CDS prevalece a ideia de que o ministro da Saúde (que chegou a ser apontado pelos centristas para as Finanças) devia continuar. Resta saber qual vai ser a vontade de Paulo Macedo, que também ficou desgastado ao fim de quatro anos no Governo.

Maria Luís Albuquerque permanece também em dúvida, apesar de a declaração de Passos no distrito de Setúbal, ao lado da candidata, ter parecido um sinal de que já estava decidido sobre a continuidade da ministra. O lugar ocupado por Paulo Portas, se continua como vice-primeiro-ministro ou não, também não é certo.

A dança das cadeiras

Paulo Portas como vice-primeiro-ministro e Jorge Moreira da Silva, no Ambiente, têm à partida o lugar reservado, assim como José Pedro Aguiar-Branco na Defesa.

Há, no entanto, pastas importantes para ocupar, numa altura em que vão ser precisos consensos, diálogos e pontes. A tutela dos Assuntos Parlamentares, por exemplo, é vista entre a coligação como suficientemente importante para ser autonomizada. Luís Marques Guedes, na linha da continuidade (atualmente era ministro da Presidência e Assuntos Parlamentares), aparece aqui como um dos nomes prováveis, sendo que os centristas teriam preferência para um dos seus: Luís Pedro Mota Soares, até agora ministro do Trabalho e Segurança Social. Luís Montenegro, que nesta legislatura foi líder parlamentar do PSD, também surge como hipótese para a pasta que vai obrigar a negociações constantes com os socialistas no Parlamento.

Caso Mota Soares deixe vazio o lugar no Ministério do Trabalho e da Segurança Social, entre a coligação não há muitas dúvidas sobre quem deveria ficar com a pasta: Marco António Costa, atual vice-presidente do PSD, que foi secretário de Estado da Solidariedade e Segurança Social.

Assunção Cristas, do CDS, e ministra da Agricultura, poderá assumir a Justiça, se Paulo Portas conseguir ficar com esta pasta, que ambiciona desde o início da anterior legislatura.

O Ministério da Administração Interna é outra das incógnitas. Se é certo que Anabela Rodrigues sai, não é certo quem lhe vai suceder. O nome de João Almeida, secretário de Estado até aqui e figura de topo no CDS não é descartado depois de ter negociado algumas políticas pontuais com os socialistas na última legislatura. Mas esta segunda-feira, o Expresso Diário avança com um novo dado: Rui Rio. Segundo aquele jornal, as aspirações presidenciais de Rio podem estar a ficar pelo caminho começando-se a abrir uma porta para o ex-autarca no Executivo. O MAI, segundo o Expresso, aparece aqui como a opção mais viável, apesar de Rio ainda aguardar uma conversa com o líder do PSD para acertar o passo.