O secretário-executivo da CPLP acusou os Estados lusófonos de falta de empenho e vontade política no combate à fome e à desnutrição, sem medidas concretas para concretizar as muitas estratégias já definidas para responder ao problema.
“As estratégias só fazem sentido se aqueles a quem nos dirigirmos começarem a sentir os seus efeitos. Até que isso não aconteça, continuaremos nestes seminários e conferências a debater o problema”, afirmou Murade Murargy.
“Porque é que não avançamos? Porque é que os nossos povos continuam inseguros na alimentação, continuam pobres, com fome? Porque não queremos atacar as causas originárias deste problema. Tem que haver vontade política dos estados membros”, disse.
Murargy falava no arranque de um seminário em Díli sob o tema “Desafios Globais, Respostas Regionais e Nacionais à Insegurança Alimentar e Nutricional”, que coincide com a 1.ª reunião extraordinária do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do espaço lusófono (CONSAN-CPLP).
Na sua intervenção, Murargy recordou que este assunto “não é novo” mas apesar de “muitos seminários, estratégias, desafios globais e dos problemas estarem claramente identificados”, a população continua sem ver os problemas resolvidos.”Fazemos discursos bonitos, saímos daqui satisfeitos, com discursos e depois acabou. E fazemos outro seminário daqui a um ano”, afirmou, insistindo que “tem que haver vontade política dos Estados membros”.
A falta de vontade, recordou, nota-se no pouco empenho prático que a estratégia aprovada para combate à fome e desnutrição continua a ser dentro da CPLP. Dos nove Estados membros apenas quatro contribuíram com os 35 mil euros que se acordou cada um deveria injetar para o início da implementação da estratégia, aprovada já em 2011.
“E depois queremos que as coisas andem. Não é possível. Estão aqui teóricos, pessoas eminentes que vão mais uma vez explicar como devemos fazer. Mas é preciso fazer”, afirmou.
“Nos nossos países temos que ser muito claros nas nossas políticas, por exemplo de terras ociosas, que não estão a ser usadas. Todos temos enorme potencial para a agricultura, para produzir comida para os nossos povos. Falta vontade”, insistiu. O encontro de hoje marca um processo que começou em 2009 quando se acordou definir uma estratégia de segurança alimentar da CPLP, que acabou por ser aprovada em 2011 durante a presidência de Angola.
Manuel Clarote Lapão, diretor de Cooperação da CPLP, disse que o encontro confirma o “compromisso político inequívoco” da comunidade lusófona com este tema, que “está consagrado na agenda” da organização. “Pensar globalmente para atuar a nível loca, introduzindo a dimensão regional da CPLP”, afirmou.
A estratégia da CPLP neste âmbito assenta em três eixos: o fortalecimento da governação nestes temas, o acesso a alimentos e promoção dos grupos mais vulneráveis e o aumento da disponibilidade dos alimentos no âmbito da comunidade lusófona.
O encontro de Díli é o primeiro dos principais atores em segurança alimentar e nutricional, incluindo responsáveis governamentais, parlamentares autoridades locais, organizações da sociedade civil, representantes do setor privado e investigadores de todos os Estados-membros da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa).
O objetivo da reunião, que se prolonga até 26 de novembro, é debater um plano de trabalho conjunto para a erradicação da fome e da desnutrição na CPLP.
Em Díli estarão quase 60 delegados, estando confirmadas as presenças dos ministros da Agricultura de Cabo Verde, Eva Ortet, da Guiné-Bissau, João Anibal Pereira, de Moçambique, José Pacheco e de São Tomé e Príncipe, Teodorico de Campos, além do anfitrião timorense Estanislau da Silva.
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