O PSD e CDS admitem novas convergências com o PS, como aconteceu esta sexta-feira no caso da CES, mas isso não quer dizer que estejam disponíveis para negociações com o Governo.

“Votaremos com lucidez e dignidade”, garante o CDS. “Defenderemos o nosso programa sufragado em eleições”, explica o PSD. Os dois partidos votaram favoravelmente esta sexta-feira a proposta de redução da CES apresentada pelo PS, permitindo assim a sua viabilização, uma vez que os partidos mais à esquerda mostraram-se contra por achar que sabe a pouco.

Pedro Passos Coelho tinha avisado António Costa para que não contasse com o PSD para lhe dar a mão caso estivesse a afogar-se, ou seja, se não conseguisse consenso com a esquerda para governar. Mas é certo que haverá novas convergências, fruto das circunstâncias (promessas eleitorais, programa de governo, histórico de propostas, etc).

“Defenderemos o nosso programa sufragado em eleições e estaremos ao lado dos portugueses”, afirma ao Observador um vice-presidente do PSD, remetendo para o discurso de Passos Coelho no encerramento do debate do programa de Governo, quando era certo que o Executivo estava prestes a ser derrubado por uma maioria de esquerda. “O que disse Passos foi que vamos ser coerentes e não vamos ser táticos porque determinada proposta vem do partido A, B ou C”, explica.

Nessa altura, o líder do PSD declarou que o seu partido avaliará em cada momento o que considera “mais importante para Portugal” e apoiará tudo o que considerar que se enquadra na sua “visão positiva da sociedade portuguesa”.

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Até onde pode ir essa convergência? “Enquanto não lhes faltar apoio numa votação importante, como em questões orçamentais, a questão não se coloca”, responde o mesmo responsável.

No caso da CES, há 20 dias o PSD apresentou uma proposta igual à do PS. “Era um absurdo que, por tática política, votássemos contra”, explicou ao Observador o deputado do PSD António Leitão Amaro. “Seremos uma oposição responsável. Não votaremos ‘não’ só porque não”.

O CDS tem um discurso idêntico. “Analisaremos caso a caso”, garante ao Observador o porta-voz, Filipe Lobo d’ Ávila. “Se o PS apresenta as nossas coisas, temos que votar a favor. Não votaremos contra propostas que nós próprios apresentámos. Além disso, temos que ter em atenção aquilo com que nos tínhamos comprometido com as pessoas”, secunda Telmo Correia. O partido de Paulo Portas, no entanto, nunca disse aquilo que Passos disse: que Costa teria que se demitir caso precisasse da direita para sobreviver.

Há matérias onde, tradicionalmente, o consenso é maior entre PS e a direita do que entre PS e a esquerda, como, por exemplo, no caso de questões de defesa, segurança interna ou Europa. Ainda no último debate quinzenal, esta quarta-feira, o CDS desafiou Costa para olhar de novo para a legislação sobre as secretas chumbada por Cavaco e que fora aprovada com os votos do PSD, CDS e PS. Na altura, o desafio ficou sem resposta.

Os tempos são, pois, de jogos de negociação e de escondidas. Nos corredores do Parlamento, esta sexta-feira, os deputados da direita, contudo, não escondiam alguma irritação com o facto de os seus votos terem acabado por ajudar o PS, uma vez que tanto PCP e BE votaram contra. O voto contra dos comunistas já era esperado porque estes tinham apresentado um diploma alternativo mas a oposição do BE surpreendeu a direita, que ficou convencida que o partido de Catarina Martins só decidiu votar contra quando soube que Passos e Portas iam dar indicação de voto a favor.

Esta semana, o PSD também clarificou a sua relação com o CDS, o partido com que esteve coligado quatro anos no Governo. “Com certeza que as pessoas estarão distraídas, porque o PSD e o CDS tinham um acordo de coligação de governo e o governo foi derrubado no Parlamento. Portanto, o acordo de coligação já não existe”, disse Passos, à entrada para o jantar de Natal do grupo parlamentar do PSD, acrescentando que não é necessário “nenhum ato formal para lhe pôr termo”.

Passos quis “mostrar que temos total autonomia estratégica”, explicou ao Observador um dirigente nacional. O líder do PSD fez um discurso idêntico na reunião do Conselho Nacional, no início de dezembro. Na verdade, tal como o Observador explicou, tanto o PSD como o CDS preparam um afastamento ou uma autonomia crescente depois desta fase das presidenciais, em que estão articulados. Os dois partidos vão ter congresso em março e abril e depois disso abre-se um “novo ciclo” nas palavras dos próprios. A ideia é que cada partido se posicione para um clima de pré-campanha, uma vez que tanto os sociais-democratas como os centristas esperam que este Governo dure pouco tempo e que a qualquer altura possa haver uma crise que conduza a eleições antecipadas.

Até abril, o Parlamento não pode ser dissolvido, uma vez que a Constituição impede novas eleições nos primeiros seis meses após as legislativas.