A conta de Twitter “Costa, Primeiro”, um perfil fictício que parodiava o atual primeiro-ministro, foi suspensa por decisão daquela rede social. Ao Observador, os autores da página, que ainda há dias fizeram sucesso com os #ConselhosdoCosta, asseguram que o Twitter não apresentou qualquer justificação para encerrar a conta.

Mesmo reconhecendo que sofreram algumas críticas de personalidades ligadas ao PS, os autores do perfil fictício de Costa não querem especular. “Quando abrimos a conta, uma antiga dirigente da ERC ligada ao PS sugeriu que a utilização da fotografia poderia ser ilegal. Houve também uma sugestão de uma ex-eurodeputada do PS para que este tipo de contas fossem legisladas e, no caso de anonimato, ilegalizadas. Mais um desabafo pelos fracos resultados eleitorais que exasperação, cremos. Mas nunca passou disso“.

Alguns exemplos dos #ConselhosdoCosta

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“Afinal, não iremos reduzir o horário de trabalho para 35 horas. Mas é para vosso bem: para não passarem mais 5 horas a fumar e andar de carro”

“Não pode usar transportes públicos para poupar no imposto? Tenho um conselho. Desligue o motor nas descidas. #conselhosDoCosta”

“As famílias com mais filhos ficam a pagar mais impostos? Sim, mas para essas tenho um bom conselho. Usem preservativos. #conselhosDoCosta”

O gabinete do primeiro-ministro assegura ao Observador que não foi apresentada qualquer queixa formal junto do Twitter – nem sequer sabiam da conta ou da suspensão. Também o Largo do Rato garante desconhecer a situação. No PS, afirma a assessoria de imprensa do partido, ninguém denunciou formalmente o perfil fictício de António Costa.

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Contactado pelo Observador, o Twitter, através do seu gabinete de imprensa, recusou-se a comentar este caso concreto. “Nós [Twitter] não comentamos publicamente contas individuais por razões de privacidade e segurança“.

Por isso mesmo, os responsáveis pela comunicação da rede social escusaram-se a revelar se a decisão de suspender o perfil em causa foi motivada por alguma queixa ou denúncia, limitando-se a lembrar o regulamento:

A falsificação de identidade é uma violação das regras do Twitter. Contas que retratem uma outra pessoa de uma forma confusa ou enganadora podem ser permanentemente suspensas no âmbito da política de representação“.

Ainda assim, não faltam, no Twitter, exemplos de vários perfis fictícios e de paródia a figuras políticas portuguesas e internacionais que continuam a tweetar com regularidade, sem que nunca tenham sido suspensos.

Perante esta aparente dualidade de critérios, o Twitter, mais uma vez através do seu gabinete de imprensa, voltou a remeter para o regulamento. Sim, as paródias são permitidas, desde que as contas sejam identificadas como “fake” (falso), “not” (não) ou “fan” (fã), por exemplo. Regras que a conta “Costa, Primeiro” não respeitava.

No entanto, não era caso único em Portugal. A conta “Pedro, o PM”, um retrato satírico do ex-primeiro-ministro, criado em 2012 e em tudo semelhante ao perfil fictício de António Costa, nunca esteve identificado como sendo falso. E chegou a somar 6.310 seguidores, sem nunca ter sido sancionada ou suspensa.

Um dos muitos tweets publicados pelo falso Pedro Passos Coelho

Com a suspensão da conta “Costa, Primeiro” a ser comentada no Twitter, foi o próprio autor do perfil “Pedro, o PM” – Nuno Salgueiro, mais conhecido no mundo virtual como Vega9000 – a reconhecer nunca ter cumprido as regras que agora estão na base da decisão tomada pela rede social.

Na verdade, o perfil fictício do então primeiro-ministro chegou a criar alguma confusão do outro lado do Atlântico. Em 2013, um dos comentários satíricos do falso Passos Coelho chegou ao Wall Street Journal e, numa outra ocasião, serviu para uma troca de cumprimentos com o Governador do Estado do México, Eurivel Ávila, como contava o autor da página aqui e aqui. Ainda assim, a conta nunca foi suspensa pelo Twitter.

Tweet do primeiro-ministro fictício em resposta a Eruviel Ávila, que acabara de desejar as boas-vindas a Passos

Ainda a propósito deste caso, Nuno Salgueiro, que entretanto deixou de tweetar como “Pedro, o PM”, levanta a questão: “Espero bem que não tenha sido ninguém do PS a denunciar o @costa_primeiro. Apesar de ser algo irregular, faz coisas com piada”

Entretanto, surgiu uma nova conta, identificada como “Costa, o Segundo” que não é assinada pelos mesmos autores. “Não fomos nós a criar o Costa_2o. Provavelmente alguém a aproveitar o vazio”, admitem os criadores de “Costa, Primeiro”.

Autores falam em pouca cultura democrática. Mas ponderam voltar

Em agosto, o Observador contava a “guerra descarada” que “Pedro, o PM” e “Costa, Futuro PM” travavam no Twitter e aproveitava para entrevistar os criadores das duas páginas, na pele dos políticos que satirizavam.

Agora, com a conta do Twitter suspensa, os criadores de “Costa, Primeiro”, que já foi “Futuro PM” e “Ex-Ex-Futuro PM”, ponderam voltar através do Facebook, para contrariarem uma certa falta de “cultura democrática” do país, por comparação, por exemplo, com os Estados Unidos.

"Costa, Primeiro" sobre o fim da austeridade

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“Acabou a austeridade. Como todos sabem, eu consigo fazer muito com pouco. Até cheguei a primeiro-ministro com 32% dos votos”.

“O governo de direita aumentava os impostos. Isso acabou. Agora, com o meu governo de esquerda os impostos já não aumentam. Actualizam-se.”

“O candidato presidencial norte-americano Donald Trump é visado em dezenas de contas de paródia. A conta @Writeintrump, por exemplo, tem 43.000 seguidores. Provavelmente tem é origem num país com maior cultura democrática, o que permite uma capacidade de encaixe maior pela percepção de este tipo de paródia ser cabalmente inofensivo”, dizem ao Observador.

Sim, dizem. Isto porque são vários os autores do perfil fictício de António Costa. “Todos adultos, trabalhadores do sector privado, sem ligações partidárias e que consideram uma iniquidade o favorecimento do cante alentejano em detrimento do folclore minhoto esganiçado”.

"Costa, Primeiro" sobre os acordos com PCP e BE

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“Nunca permitirei uma nova URSS sem KGB. O meu acordo com o PCP exige KGB. Também é preciso uma Gestapo pelo acordo com as esganiçadas”.

Escrevem a qualquer altura, “quando se lembram de uma frase com piada”. Uma “piada” sem agenda secundária ou intenções políticas, garantem. “Não é como se se tratasse daqueles blogs que ora existem na oposição, ora desaparecem quando se preenchem cargos governamentais”.

Chegaram a atingir os “2.800 seguidores” antes de verem a conta suspensa. Agora esperam que o Twitter reverta a decisão.