O presidente da Câmara Municipal do Porto (CMP) escolheu a reunião de câmara para falar pela primeira vez sobre o encontro que teve com o primeiro-ministro na passada quarta-feira. O resumo foi breve. “Foi um encontro afável, mas não me tranquilizou“, disse Rui Moreira na manhã desta terça-feira.
O encontro foi pedido pelo autarca do Porto com caráter de urgência para saber, afinal, qual será o envolvimento do Estado à mesa das negociações da companhia aérea, de gestão privada mas com 50% de capital público, na definição de rotas estratégicas para o Aeroporto Francisco Sá Carneiro. À saída, nem Rui Moreira, nem António Costa, comentaram.
Rui Moreira informou o executivo municipal que “o que ficou claro é que o Governo tem ideia de poder controlar melhor as opções estratégicas da TAP e nomeadamente garantir rotas estratégicas” e, como disse o primeiro-ministro numa entrevista que deu ao Expresso, manter “uma base relevante de operações no Porto” e uma “internacionalização crescente” da cidade, com “ligações aéreas do Porto para o resto do mundo e para a Europa em particular”. Mas a mesma dúvida permanece. “Ainda não consegui entender como é que o Governo pode fazer isso sem controlar a comissão executiva da empresa“, concluiu, sobre o facto de o negócio ter determinado que a gestão seria privada.
Sobre a reunião que o presidente da CMP teve com Humberto Pedrosa, “serviu para perceber melhor as razões dos cancelamentos das rotas” do Porto para a Europa, adiantou Rui Moreira, lembrando que está impedido de revelar o teor do encontro. “Mas devo dizer que nada foi esclarecido”. O português Humberto Pedrosa integra o consórcio Atlantic Gateway, com o norte-americano David Neeleman. De acordo com Neeleman, todas as decisões da TAP passam por Humberto Pedrosa, ainda que a visão estratégica possa ser do empresário americano.
O município do Porto está em guerra com a companhia aérea devido ao alegado desvio de passageiros do Aeroporto Francisco Sá Carneiro para Lisboa, através do anunciado cancelamento das rotas para Barcelona, Bruxelas, Roma e Milão (Malpensa, aeroporto mais central para quem faz negócios na cidade italiana), da criação de uma ponte aérea entre Lisboa e Porto com 18 voos diários e da nova ligação entre Vigo e a capital portuguesa.
As declarações públicas de Rui Moreira têm causado críticas de aproveitamento político com fins eleitorais (as autárquicas são em 2017), financiamento camarário às companhias aéreas low cost para que abram novas rotas no Aeroporto Sá Carneiro e incoerência pelo facto de, no passado, o autarca ter dito que a TAP já não era estratégica para o Porto. O autarca de Vigo cortou relações com o homólogo do Porto.
“Vou dizer pela ultima vez: a câmara não paga, nunca pagou, a nenhuma companhia aérea. Quem diz isto mente repetidamente”, disse Rui Moreira, lembrando que os incentivos foram feitos por parte do Turismo de Portugal relativamente à abertura de novas rotas e “aplicaram-se a todas as companhias aéreas, low cost ou de bandeira, a todos os aeroportos nacionais, incluindo o de Lisboa. E cessaram com o anterior Governo, a meu ver bem.”
Rui Moreira refutou todas as acusações — “Não me venham dizer que esta questão é eleitoralista, é o contrário. A melhor forma de ganhar eleições nestas questões é assobiar para o lado e dizer: que chatice” — e recebeu o apoio de Manuel Pizarro, primeiro vereador do PS na CMP e candidato à liderança do PS-Porto. Ricardo Valente, eleito pela coligação PSD-PPM-MPT, lamentou que “ninguém na TAP até agora” tenha apresentado justificações credíveis para o final das rotas para a Europa.
“Só disseram que são oito milhões de prejuízo, que já chegamos à conclusão que não é assim. Acabamos com 5% da dívida, é preciso ir ver o resto”, disse, sobre as notícias que dão conta de que o prejuízo da TAP em 2015 pode ter superado os 150 milhões de euros. Mediante as respostas da companhia aérea, Ricardo Valente defende o fim do estatuto de companhia de bandeira. “Para termos a oportunidade de termos na nossa cidade outras companhias para fazerem os voos sem terem necessariamente de passar pelo aeroporto de Lisboa ou outro qualquer do país”, rematou.