David Neeleman está confiante de que a decisão da Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC) não impede a injeção na TAP de 120 milhões de euros já prevista – e desvaloriza. Falando aos jornalistas numa conferência de imprensa a partir do aeroporto JFK, em Nova Iorque, onde foi apresentar novas rotas, o novo dono da TAP recusou-se a voltar a adiar o plano de recapitalização previsto dizendo que, independentemente do regulador, o dinheiro “vai entrar” e será já “esta semana”. O que significa que o dinheiro dos chineses da HNA está prestes a entrar, via Azul, no capital da transportadora. 

“Não tenho dúvidas nenhumas de que o dinheiro vai entrar logo, logo”, garantiu o empresário norte-americano aos jornalistas, sublinhando que “a TAP precisa de dinheiro” e que, como o Governo está proibido pela legislação europeia de injetar capital, não resta outra opção. Questionado sobre se a decisão da ANAC de impedir o grupo TAP de tomar qualquer decisão de gestão extraordinária durante três meses não funciona como travão ao empréstimo obrigacionista que reforçará a posição da Azul e dos chineses da HNA, Neeleman limitou-se a dizer que estão em conversações com a ANAC “por respeito”, mas o dinheiro é para avançar o quanto antes.

“Por respeito pela ANAC temos de falar com eles”, disse, referindo-se à reunião da tarde desta segunda-feira entre o regulador da aviação e o presidente da companhia aérea Fernando Pinto. Resta saber, no entanto, qual é o entendimento do regulador que agora deverá voltar a analisar as informações adicionais.

Na origem do diferendo está uma injeção de capital de 120 milhões de euros por via de um empréstimo obrigacionista que, a confirmar-se, será subscrito pela Azul (que entra com 90 milhões) e indiretamente pelos chineses da HNA (que detém 23,7% da Azul), assim como pelo Estado português, que deverá, ou não, entrar com os restantes 30 milhões no âmbito do novo memorando de entendimento assinado este mês entre o Governo e o consórcio Atlantic Gateway, de Neeleman e Humberto Pedrosa. 

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Revisão das rotas vai manter-se: caem umas, nascem outras

Questionado sobre a relação com o atual Governo, Neeleman garantiu cooperação, evidenciando que o acordo assinado é para ser cumprido, não obstante a decisão do regulador. “Temos que ser aliados para fortalecer a empresa”, disse, acrescentando que o prejuízo que a companhia aérea registou no ano passado foi “maior do que sofremos nos últimos 15 anos”. Os dados, no entanto, ainda não são precisos porque só reportam até outubro.

A questão do regulador, que terá motivado o pedido de informações extra, é saber quem manda afinal na TAP, se o português Humberto Pedrosa ou o norte-americano David Neeleman. De acordo com David Neeleman foi essa dúvida que motivou a decisão de sexta-feira da Autoridade Nacional de Aviação Civil de impedir o grupo TAP de tomar qualquer decisão de gestão extraordinária durante três meses, pedindo mais informações à empresa. E foi isso que, de acordo com o empresário norte-americano, Fernando Pinto foi esta segunda-feira dar conta ao regulador na reunião que decorreu esta tarde.

“Quando separarmos a percentagem que a Azul vai ter e as informações chegarem lá [à ANAC] não vão restar dúvidas nenhumas sobre quem está a controlar a empresa”, disse aos jornalistas David Neeleman, garantindo que nove dos 11 membros do conselho de administração são europeus e que “Humberto Pedrosa está na TAP duas ou três vezes por semana”. Ou seja, todas as decisões passam por Humberto Pedrosa, ainda que a visão estratégica possa ser do empresário norte-americano. Em causa estão as dúvidas do regulador sobre o cumprimento das regras europeias relativas à detenção da maioria do capital por cidadãos da União Europeia.

A decisão da ANAC, segundo o novo dono da TAP, não tem implicações ao nível do lançamento de novas rotas ou da aquisição de novos aviões. Na conferência de imprensa de apresentação das novas rotas da TAP para Boston e Nova Iorque, anunciadas hoje, Neeleman garantiu que “informaram” o regulador de que o anúncio dos novos voos iria ter lugar esta segunda-feira e, da parte da ANAC, terá chegado uma resposta positiva. “Eles disseram ‘tudo bem'”.

A revisão em curso de diversas rotas, nomeadamente as que saem do aeroporto Francisco Sá Carneiro no Porto e que geraram polémica com Rui Moreira, vai, por isso, manter-se como estava previsto.

O Observador viajou a convite da TAP