O ex-presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, criticou esta sexta-feira o mandado de “condução coercitiva” que o levou a ser detido de manhã no Aeroporto de Congonhas para depor, na sequência da 24º etapa da Operação Lava Jato. Em declaração aos militantes na sede do PT em São Paulo, Lula disse acreditar que a medida era desnecessária, pois já tinha colaborado em outras ocasiões com as autoridades brasileiras.

Já fui prestar vários depoimentos na Polícia Federal, no Ministério Público, e para vocês que não sabem, no dia 5 de janeiro estava de férias, suspendi as férias para ir à Brasília [para] prestar um depoimento a convite da Polícia Federal. Se o juiz [Sérgio] Moro ou o Ministério Público quisessem me ouvir, era só ter-me mandado um ofício e eu ia como sempre fui porque não devo e não temo”, explicou.

O ex-presidente do Brasil afirmou ainda que o mandado de condução coercitiva valeu mais pelo “show mediático do que pela “apuração séria” de qualquer facto. “Lamentavelmente, eu acho que estamos vivendo um processo em que a pirotecnia vale mais do que qualquer coisa. O que vale mais é o show mediático do que a apuração séria, responsável, que deve ser feita pela Justiça, pela polícia, pelo Ministério Público”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Lula, no entanto, diz valorizar os trabalhos realizados pelas autoridades do país em todas as etapas da Operação Lava Jato. “Eu não só valorizo como valorizei muito quando era Presidente da República [as investigações de casos de corrupção e lavagem de dinheiro], porque nunca se investiu tanto nestas coisas como eu investi nas instituições”.

Depoimento à imprensa

Former Brazilian President Luiz Inacio Lula da Silva (C) speaks during a press conference in Sao Paulo, Brazil, on March 4, 2016. Brazil's powerful ex-president Lula da Silva reacted Friday with defiance to his brief detention for questioning in a corruption probe, saying he feared no one. AFP PHOTO / NELSON ALMEIDA / AFP / NELSON ALMEIDA (Photo credit should read NELSON ALMEIDA/AFP/Getty Images)

Horas depois, ainda na sede do PT em São Paulo, Lula afirmou aos jornalistas, em conferência de imprensa, que se sentiu “um prisioneiro” durante a ação da Polícia Federal do país. O ex-presidente repetiu alguns dos principais pontos do seu discurso para os militantes: reafirmou que “não vai abaixar a cabeça” e que “a luta continua”. “O que eles [a Polícia Federal, o Ministério Público Federal] fizeram com esse ato de hoje é que, a partir da próxima semana, CUT [Central Única dos Trabalhadores], PT, [Movimento dos Trabalhadores Rurais] Sem-terras, PC do B, me convidem, que eu vou andar esse país”, disse.

Lula voltou a insistir na sua discordância com o mandado de condução coercitiva ao dizer que o comportamento dos investigadores é “muito grave”, porque sempre esteve disponível para cooperar com as autoridades. O ex-presidente acredita que “ser amigo de Lula é uma coisa criminosa hoje no Brasil” e que a elite “não se conforma” que ele tenha sido presidente do país. “Eu e meus companheiros me levaram a ser presidente desse país, e fui melhor que todos eles [os outros presidentes], que todos cientistas políticos, fazendeiros, advogados”, afirmou, citado pela Folha de São Paulo.

Para Lula, “há uma tentativa de criminalizar o PT” com o objetivo de “cercear a liberdade de Dilma Rousseff” para governar o Brasil. “Se tem alguém neste país que precisa de autonomia é a presidente da República. Ninguém quer que essa mulher governe este país. Desde 26 de outubro de 2014, eles não estão permitindo que a Dilma governe”, defendeu.

O ex-presidente foi detido esta manhã para depor, ao abrigo de um mandado de “condução coercitiva” [que é emitido quando a pessoas que está ser investigada é obrigada a depor] assinado pelo juiz federal Sérgio Moro. A polícia tinha ainda em sua posse um outro mandado de busca e apreensão para a sua casa, a sede do Instituto Lula e outros locais ligados ao petista. As autoridades investigam suspeitas de que ele tenha cometido crimes de corrupção e lavagem de dinheiro provenientes de desvios da Petrobras.