Estreia-se esta segunda feira na FOX (às 22h15, episódio duplo) a série protagonizada por James Franco, que parte de um romance de Stephen King. “22.11.63” segue o mesmo princípio do livro: a história de uma viagem no tempo para evitar que John F. Kennedy seja morto.

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São oito episódios que contam com o próprio King — e com J.J. Abrams — na equipa de produção executiva. Ainda antes da publicação do livro, em 2011 (em Portugal, 22.11.63 foi editado pela Bertrand em 2014), Jonathan Demme planeou transformar o romance em filme mas o plano acabou por não ser concretizado. Chegou à televisão americana em Fevereiro deste ano e é a terceira produção dramática original da Hulu, uma concorrente da Netflix que não opera em Portugal.

A propósito desta estreia, recuperamos o percurso de Stephen King através de um dicionário especialmente dedicado ao autor.

Assustar. “Se eu gosto de assustar as pessoas? Gosto”. Numa entrevista disse esta frase – que precisou de ser complementada com outra. “Se eu gosto de ser considerado, e por vezes desprezado, como um escritor de terror? Não gosto”.

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Bambi. Foi o primeiro filme que o aproximou do imaginário de terror. Disse à Rolling Stone, em 2015, numa rara entrevista desde que teve um acidente que quase o vitimou: “Quando o pequeno viado é apanhado no incêndio florestal, fiquei apavorado, mas também em êxtase. Não consigo explicar”.

Chinelos. Era uma das extravagâncias na idade juvenil. Para além de transportar sempre um livro, andava em todos os momentos de chinelos. Fizesse sol, chuva ou granizo. Nunca se sentiu confortável nos anos de adolescente, achando sempre que tinha acne a mais e andava sempre mal vestido.

Dinheiro. Desde o ano de 1974, quando Carrie aterrou nas livrarias, King, hoje com 68 anos, terá vendido 350 milhões de livros, o que significará, digamos, algum dinheiro (“é fazer as contas”, como dizia o outro). No início do seu percurso, o The Village Voice publicou uma caricatura — que ainda o magoa – na qual King surge como um comedor de dinheiro. “Dinheiro significa que eu posso sustentar a minha família e continuar a fazer o que amo”.

[o trailer de “Carrie”, livro transformado em filme em 1976]

E-Book. Foi um dos primeiros autores a usá-lo com entusiasmo e sem complexos para editar narrativas mais curtas.

Ficção. Tornou-se famosa a frase de King: “A ficção é a verdade dentro da mentira”.

Ganchos. Capturar o leitor, eis a sua demanda. O seu objectivo assumido é fazer com que o leitor, no final do 9.º capítulo, queira dormir de luzes acesas. Acontece a muita gente.

Hambúrguer. A certa altura classificou-se como o Big Mac da escrita. E essa arma foi usada por críticos muitos para o chamarem de escritor fast food. Segundo os amigos, ofereceu desnecessariamente uma arma aos seus detractores.

Infância. E a adolescência. Dois dos seus temas obsessivos. A partir de certa altura das suas vidas, muitas das suas personagens mostram-se determinadas por uma ocorrência das suas infâncias. Há adolescentes que praticam actos violentos. Mandou retirar um livro seu das livrarias porque o autor de um tiroteio no Arkansas tinha esse livro em casa.

Jogo Perigoso. Título de um livro. Uma mulher e um homem resolvem reacender o fogo da sua relação carnal. O homem acaba por morrer de enfarte. Depois King abre a porta para explorar uma série de fantasmas e temas aterrorizadores.

Kubrick. Adaptou para cinema um dos romances mais famosos de King, The Shining. Mas Stephen não gostou do resultado. Contou à Rolling Stone: “O livro é quente, o filme é frio; o livro termina com fogo, e o filme, com gelo. No livro, existe um verdadeiro arco em que você vê este sujeito, Jack Torrance, a tentar ser bom, mas que, pouco a pouco, se vai tornando maluco. E, quando assisti ao filme, Jack era louco desde a primeira cena. Tive que ficar com a boca fechada na época”.

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Leitura. Segundo o escritor, “ler é o centro criativo da vida de um escritor”. Em On Writing, Stephen King diz que, sendo um leitor lento, lê 70 a 80 livros por ano.

Maine. O Estado do Maine, pacato, pacífico, silencioso, é o cenário de quase toda a sua obra. Também é aí que vive desde sempre com a mulher, Tabitha, determinante na sua vida, e mãe dos seus três filhos. Stephen conheceu-a na universidade e casaram-se a 2 de Janeiro de 1971. Os primeiros anos de vida do casal foram muito difíceis em termos financeiros. O escritor dirigia a carrinha de uma lavandaria e Tabitha trabalhava no turno nocturno de uma loja de donuts. Viviam numa roulotte.

National Medal of Arts. Em 2015 recebeu esse reconhecimento, o que lhe permitiu ultrapassar em parte o trauma de ser visto como um escritor menor – ele que conhece o cânone da literatura ocidental como um Philip Roth.

Pai. Ainda antes de ser escritor, King considera-se pai, marido e um homem do seu lugar, do seu tempo e da sua comunidade. O facto de o seu pai ter desaparecido de casa com a clássica desculpa de ter ido comprar cigarros foi decisivo para a sua fragilidade psicológica e para os seus medos – e para a capacidade de os defrontar com coragem.

Quesada, Joe. Editor-chefe da Marvel, catálogo que acolheu uma adaptação de um conjunto de histórias suas, reunidas sob o título The Gunslinger Born. O trabalho vendeu 200 mil cópias em Março de 2007.

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Red Sox. Um dos seus hábitos mundanos é o de ir assistir aos jogos dos Red Sox.

Starkweather, Charles. Aos dez anos, Stephen King tinha um livro de recortes sobre um serial killer americano que matou onze pessoas nos estados de Nebraska e de Wyoming, entre Dezembro de 1957 e Janeiro de 1958.

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Charles Starkweather

Treze. Um dos temores do escritor. Chegar à página 13 de um livro é uma das suas múltiplas fobias – que davam para dezenas de dicionários.

“Under the Dome”. Ou Sob a Redoma, editado em 2009, é um livro de cerca de 1000 páginas no qual o escritor retoma romances antigos, de 1970 e 1970, entretanto abandonados, que tinham o título provisório de “The Cannibals”. É sobre a forma como as pessoas se comportam quando são isoladas das sociedades às quais pertenceram.

[Under The Dome foi transformado em série em 2013]

Vícios. Aos 18 anos já bebia mais do que os amigos. Bebia uma grade de cervejas por noite. Entre 1978 e 1986 foi adicto de cocaína. É esse o principal motivo pelo qual, para usar as suas palavras, escolheu acreditar em Deus. Pede-lhe para não beber e para não usar drogas. E isso ajuda-o.

Wilkes, Annie. Personagem de Misery que faz de fã número 1 de um escritor. Aprisiona-o e força-o a trazer de volta um dos seus personagens favoritos. Ah, e resolve cortar-lhe não as unhas dos pés mas os próprios pés.

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X-Files. Em 1998, King foi convidado para escrever um episódio para a quinta temporada da série X-Files. E escreveu-o.

Yale. Directamente da Universidade de Yale, o crítico Harold Bloom, depois de King ter sido medalhado pela Fundação Nacional do Livro, arrasou-o, dizendo que o gesto foi mais um aprofundamento da imbecilização da vida cultural. Mais uma caricatura que ofendeu um escritor que nunca se mostrou indiferente à opinião dos críticos.

Zone. Em todos os seus livros existem, claro está, diversas zonas de terror. Um desses territórios foi elevado a título de um livro, The Dead Zone, adaptado ao cinema por David Cronenberg e, mais tarde, à televisão, pela Fox.

[trailer de “The Dead Zone”]

https://www.youtube.com/watch?v=lmC5oPc7L3M

Nuno Costa Santos, 41 anos, escreveu livros como “Trabalhos e Paixões de Fernando Assis Pacheco” ou o romance “Céu Nublado com Boas Abertas”. É autor de, entre outros trabalhos audiovisuais, “Ruy Belo, Era Uma Vez” e de várias peças de teatro.