Não surpreende que a crise económica tenha contribuído para o aumento as desigualdades, mas o novo relatório da Unicef vem mostrar que Portugal foi dos países onde as crianças pobres mais se distanciaram da média em termos de rendimento, entre 2008 e 2013.
“Os maiores aumentos das desigualdades de rendimento — aumentos de pelo menos cinco pontos percentuais — ocorreram em quatro países do sul da Europa, Grécia, Espanha, Itália e Portugal, e em três países da Europa de Leste, Eslovénia, Eslováquia e Hungria”, lê-se no relatório “Equidade para as crianças: uma tabela classificativa das desigualdades no bem-estar das crianças nos países ricos”, divulgado esta quinta-feira pela Unicef.
Esta evolução colocou Portugal em 33.º lugar na tabela referente às desigualdades de rendimentos onde surgem avaliados 41 países. Na prática, isto significa que as crianças mais pobres têm um rendimento 60,17% inferior ao da média das crianças em Portugal.
Nesta tabela, a Noruega surge em primeiro lugar, como país menos desigual. No país nórdico, o rendimento das crianças mais pobres é 37% inferior ao da média. Já o país mais desigual em termos de rendimentos, entre os 41 em análise, é a Roménia, onde o rendimento das crianças mais pobres é 67,08% inferior ao da média.
No estudo agora divulgado são avaliadas outras áreas – desempenho escolar, problemas de saúde percecionados pelos jovens; e satisfação com a vida. No ranking geral, que ordena os Estados dos que registam menores disparidades para os que apresentam mais desigualdade, Portugal está em 19.º lugar. Uma posição abaixo dos EUA e uma acima da Islândia.
São analisadas outras três áreas: desempenho escolar, problemas de saúde e satisfação com a vida reportados pelas próprias crianças. A melhor posição é alcançada no que diz respeito à saúde. Aqui Portugal ocupa o 7.º lugar, sem grandes diferenças entre as crianças mais pobres e a média. Já no que toca às disparidades em educação, analisadas com base no PISA 2012, Portugal é 19.º em 37, e na tabela da satisfação com a vida ocupa o 18.º lugar.
No conjunto dos quatro pontos em análise, Portugal não faz má figura: 19.ª posição em 35 países com dados que permitem fazer comparações.
O relatório da Unicef “mostra de forma clara que o bem-estar das crianças em qualquer país não é uma consequência inevitável de circunstâncias individuais ou do nível de desenvolvimento económico, mas é moldado por escolhas políticas,” afirmou Sarah Cook, Diretora do Centro de Investigação–Innocenti da Unicef, numa nota divulgada esta manhã. “À medida que percebemos melhor o impacto que as disparidades têm a longo prazo, torna-se cada vez mais claro que os governos devem dar prioridade à melhoria do bem-estar de todas as crianças no presente, e proporcionar-lhes oportunidades para que possam desenvolver todo o seu potencial.”