O aeroporto de Lisboa chama-se a partir deste domingo Humberto Delgado, uma homenagem a um dos maiores opositores ao regime de Salazar, quando se assinala o aniversário do nascimento do general que fundou a TAP. Na cerimónia, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, aproveitou para frisar a importância dos consensos nacionais.

É simbólico que seja um governo de esquerda — por ventura o mais à esquerda, nos seus apoios, dos últimos longos anos — a decidir e um Presidente de centro-direita a dar a chancela a uma homenagem que assim retrata em consenso nacional uma vida e uma obra”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.

Fazendo uso de um vocabulário que nos últimos tempos tem sido quase exclusivo dos temas económicos e financeiros, o Presidente da República notou ainda:

Sem os rigorosos, os gestores, os previsíveis, as democracias podem, quiçá, perder-se por falta de sustentabilidade. Mas sem os arrojados, os sonhadores, os pioneiros, elas nunca teriam nascido ou renascido.”

Já António Costa, primeiro-ministro, lembrou a importância do general na história da democracia portuguesa:

Este ato que aqui nos reúne assume por isso também um alto valor pedagógico: as gerações novas ao verem e ouvirem este nome, quando daqui partirem ou aqui chegarem, vão interrogar-se sobre quem é aquele que tinha este nome e ficarão a saber que a liberdade que hoje nos e tão natural como o ar que respiramos nos foi longamente negada e que por ela combateram, sofreram e morreram muitos portugueses”

Além do primeiro-ministro e do Presidente, a cerimónia que assinala a atribuição da nova designação oficial ao Aeroporto de Lisboa contou também com a presença do presidente da câmara municipal de Lisboa, Fernando Medina, e de familiares de Humberto Delgado.

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Em fevereiro, o Governo aprovou, em Conselho de Ministros, batizar o aeroporto de Lisboa com o nome do general, seguindo a proposta da Câmara de Lisboa, aprovada um ano antes, quando o atual primeiro-ministro, António Costa, ainda estava à frente do município.

Na moção aprovada, por unanimidade, a 11 de fevereiro de 2015, em reunião camarária, António Costa sustentava que Humberto Delgado “foi uma figura notável do país político do seculo XX”, assim como “um vulto maior da aviação comercial portuguesa”, destacando o facto de ter fundado a TAP.

Humberto Delgado nasceu a 15 de maio de 1906 em Boquilobo, Torres Novas, e foi assassinado a 13 de fevereiro de 1965, encontrando-se sepultado no Panteão Nacional.

O militar estudou aeronáutica, foi adido militar de Portugal, em Washington, além de membro do comité dos representantes da Associação do Atlântico Norte (NATO, na sigla em inglês).

Em 1958, Humberto Delgado aceitou o convite da oposição para ser candidato presidencial – contra Américo Tomás -, desafiando o regime, e recebeu manifestações de apoio um pouco por todo o país, que eram seguidas de perto e reprimidas pela PIDE (polícia política).

Questionado sobre o que faria com Salazar se ganhasse as eleições, respondeu ‘obviamente, demito-o’, uma vez que o Presidente da República nomeava e podia demitir o chefe de Governo.

Mesmo com fraude eleitoral, Humberto Delgado obteve 23,5% dos votos e passou a ser uma das figuras mais temidas do regime.

A 13 de fevereiro de 1965, o general e a sua secretária Arajaryr Campos foram assassinados perto de Badajoz, por uma brigada da PIDE, que o atraiu a este local convencendo-o de que se ia encontrar com militares oposicionistas.