Ele corre, chateia os espanhóis, orbita em torno do gigante Graziano Pellè, corre mais um pouco e, quando sprinta, mostra como Piqué parece um caracol a persegui-lo na jogada em que só não consegue ficar a rir-se de David de Gea. Além de tudo isto, Éder dá o toque de ginga na seleção que deu uma lição de arrojo organizado à Espanha. Porque ele é brasileiro e passou anos suficientes em Itália para o país e o futebol o considerarem italiano. É por isso que na zona mista do Stade de France quase faço batota com os restantes jornalistas que ali estão, porque não há outra que pareça falar português.
O avançado, como a maioria dos italianos, passa por ali num ápice, no corredor onde espera tudo quanto não é jornalista de televisão. Há uns que falam uma vez, para dezenas ouvirem e gravarem ao mesmo tempo, mas outros há que parece ter ordem para não pararem nem darem hipótese. A verdade é que Éder não fala com mais jornalistas antes e depois de se cruzar comigo. A conversa é curta, poucas perguntas, à pressa. Mas ele sorri, mostra estar feliz da vida e prova como a língua quebra barreiras.
Olá Éder. Podemos falar, em português?
Oh, cara, claro. [diz claro, mas só quando sabe que sou português e mete um travão na marcha que fazia dali para fora]
Fizeste a vida negra ao Sérgio Ramos e ao Piqué, sobretudo ao último.
Não… A gente está muito feliz porque conseguimos ganhar de um time muito bom. Um time que joga muito bem. Mas a gente preparou muito bem o jogo, desde o começo, tendo a pressão alta, conseguimos que eles ficasse em dificuldades. Ganhámos um jogo importante, que nos dá muita confiança.
Achas que os espanhóis estavam à espera dessa pressão?
[Ri-se]. Acho que quase ninguém estava à espera disto. Mas a gente acreditava. O nosso treinador, como ele fala sempre, disse que quem fala é o campo. Era aí que tínhamos de mostrar que a Itália tem organização e qualidade. Já desde o primeiro jogo da Eurocopa demonstrou, mas hoje demonstrou mais ainda.
Vais ser o próximo brasileiro a ganhar um Europeu, como o Marcos Senna?
[Risos de novo]. Vamos ver, tenho que ficar com o pé no chão.
Agora vem aí a Alemanha.
É um dos times, para mim, mais favoritos para ganhar esse torneio. A gente fez um amistoso contra eles em março. Jogam muito bem, estão há muito tempo juntos, são campeões do mundo. Vai ser um jogo muito difícil, mas com certeza que o vamos preparar bem.