Cem e-mails e seis semanas depois, o jornalista Jakub Kynčl conseguiu entrar nas zonas proibidas do Vale dos Reis, no Egito, onde estão enterrados alguns dos faraós e governantes mais poderosos do Império Novo. Teve de falar com “a pessoa certa”, dar bons argumentos para querer fotografar um sítio que os turistas só podem guardar na memória, explicar ao pormenor como iria decorrer todo o trabalho.

O fotógrafo residente na República Checa já tinha viajado um pouco por todo o mundo: é a vantagem de viver “mesmo no coração da Europa”, como ele descreve Praga no seu website. Tem no portfólio passagens pela Lituânia, pelos Emirados Árabes Unidos, Belize e até Portugal, a quem chamou de “precioso”. Só no Egito – o “monumental”, adjetivou ele – esteve dez vezes. “E o Vale dos Reis tornou-se o ex libris no Egito quando passei lá há dez anos”, explicou ao Observador. Fotografou a zona este de Luxor, apaixonou-se e decidiu continuar por ali, mas desta vez do outro lado do Nilo.

Dentro do Vale dos Reis, Jakub Kynčl sentiu-se como “um rapazinho que acabou de receber a primeira bicicleta”. Queria sorver todas as sensações e todas as informações possíveis no escasso tempo que tinha, por isso voltou várias vezes aos mesmos sítios para se certificar que as imagens estavam a ficar tal como as tinha projetado. No túmulo de Ay, mais afastado dos outros, esteve sozinho apenas com o guia durante mais de uma hora. “Falem-me sobre uma super-experiência privada – é esta!”, contou-nos o jornalista entusiasmado.

Ver um homem – o único, aliás – a fotografar alguns dos monumentos mais belos do mundo não agradou a todos. Os turistas não podem captar imagens do local, tornando muito raras as fotos ilustrativas do Vale dos Reis. Num dos dias de trabalho, um advogado que passeava por ali começou a gritar para Jakub Kynčl, achando que ele tinha pago aos guardas para o deixarem fotografar. Quem explicou ao homem, sempre mais cético, e à sua mulher, que aquele era um projeto para “divulgar pelo mundo a beleza do Egito” foi Medhat Ramedan Hafez, um egiptólogo.

Mais tarde, Jakub Kynčl voltou a cruzar-se com o turista, que lhe sorriu, bateu nas costas e pediu desculpa. “Às vezes, acho que o melhor que temos a fazer é apenas escolher o comportamento certo”, escreve o fotógrafo.

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