Uma campanha do Turismo da Colômbia dizia que aqui o único risco era querer ficar. Se não fosse o desafio das 18 semanas de passeio pela América do Sul que ainda temos pela frente, talvez cumpríssemos mesmo uma das expressões do Herman: “Não vá mais longe! / Não, não, fico já aqui”.
De Bogotá, viajámos para sul até Cali, uma zona mais permeável ao narcotráfico, onde a violência se faz sentir nalgumas zonas onde “não se vai”, como nos explicam os nossos anfitriões. É também a “capital da salsa”, mas só lhe ouvimos o rasto quando passámos de carro junto às salsotecas — com miúdos, é mais difícil ir dar um pezinho de dança. Quando caminhámos pelo centro da cidade, perguntei se o nome Cali vem de caliente, porque o termómetro passava dos 30ºC e a roupa colava-se-nos ao corpo. Nada que um gelado com sabor a arequipe não tenha ajudado a amenizar.
Visitámos o museu Caliwood, fruto da carolice de Hugo Suárez, que reuniu num espaço pequeno um enorme acervo de objetos que contam a história do cinema e da fotografia analógicos, quase tudo recolhido na Colômbia. Está lá, por exemplo, o projetor que Gabriel García Márquez usava para ver filmes em sua casa.
Aula de Biologia
Na secção de frutas do supermercado, tínhamos descoberto várias que desconhecíamos, por isso aproveitámos a visita a uma quinta nos arredores de Cali para aprender mais sobre a flora colombiana. Espreite na seguinte fotogaleria o que por lá encontrámos.
A fauna colombiana não é menos desafiante. Na casa de onde escrevo, têm como animal de estimação uma jibóia com mais de dois metros e estamos sempre a ser invadidos por borboletas, aranhas e outras criaturas que desafiam os mais assustadiços. Mas também pode encontrar um ou outro animal fofinho nesta fotogaleria:
Campeões entre amigos
Como contei ao início, esta viagem é também a oportunidade para nos encontrarmos com amigos distantes de quem somos muito próximos (valha-nos São Whatsapp). Dos anos que vivemos em Londres, nasceu uma amizade muito forte com o Roberto da Guatemala, a Catalina e o Juan da Colômbia. Depois de cada um voltar para a sua terra, conseguimos manter um ritmo anual de encontros, até ao momento em que nos chegaram os filhos. A nossa viagem foi agora o pretexto para o reencontro, seis anos depois, e escolhemos a zona do Eixo do Café para passarmos uma semana juntos: quatro casais e oito crianças (o Manel entre sete meninas), de um a seis anos.
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Tal como o “onde é que estavas no 25 de Abril?” para os nossos pais, a nossa geração nunca se vai esquecer onde estava a 10 de julho de 2016. O dia que a maioria de nós julgava impossível — até eu, que sou um otimista nato, a ponto de acreditar todos os anos que o Sporting chega a campeão. O dia em que chorámos com o Ronaldo e duvidámos quando o mister fez entrar o Eder, que nos acabou por trazer a maior alegria desportiva de uma vida de cachecol ao pescoço (é tão bom quando a vida nos faz engolir os preconceitos, não é, franciús?). Para nós, esse lugar é um paraíso perdido no meio de campos de café, a poucos quilómetros da cidade de Armenia.
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Além do essencial, que era pôr a conversa em dia e deixar as nossas crias à solta para brincarem juntas, aproveitámos para visitar o melhor da região: passeámos pela vila pitoresca de Salento, libertámos adrenalina no Parque del Café e mugimos vacas em Panaca, uma quinta pedagógica enorme e muito interativa.
É engraçado ver como os filhos são diferentes entre si: a Luísa, sempre pronta a saltar para a piscina e a fazer acrobacias, arriscou tudo no parque de diversões, até uma montanha russa bastante acelerada, mas manteve-se sempre a uma distância de segurança dos animais; o Manel, que não molha mais do que os pés na piscina e se recusa a andar em tudo o que é mecânico nas feiras, desdobrou-se em festinhas para todos os animais e subiu a todos os que pôde. Espreite na fotogaleria os pontos altos destes dias.
Mais engraçado que tudo, é vê-los interagir com as amiguinhas como se percebessem tudo o que dizem (claro que não percebem). Ver a Luisinha querer sempre alinhar com elas (yo también, é o que mais repete) e vê-la tentar desenrascar-se em “portunhol”, com aquele sotaque à palhacinho de circo. Até o Manel já diz que a comida está rica. Sabíamos que a viagem, e sobretudo esta injeção imersiva ao início, ia fazê-los aprender qualquer coisa de espanhol, que os miúdos são pequenas esponjas. E o gozo que isso nos dá não é tanto por vermos nisso uma ferramenta para um auspicioso futuro profissional — nunca é a nossa primeira abordagem –, mas sim pela abertura ao mundo que lhes queremos legar.
Hoje voltamos a Bogotá, onde passamos os últimos dias com estes amigos. Na próxima crónica vou mostrar-lhe alguns marcos da presença portuguesa na Colômbia. Até lá, acompanhe-nos também no blogue O Verbo Ir, no Facebook e no Instagram.