No púlpito da Universidade de Verão do PSD, o presidente da JSD já tinha afirmado que António Costa “está a mais na política portuguesa” e preparava-se para “despachar” o ministro do Ambiente, o ministro do Trabalho e outros tantos quando começou a receber sinais da primeira fila da plateia. “Está na hora”, indicava-lhe Carlos Coelho, “reitor” da Universidade. “Estende, estende, estende”, ainda terá tentado emendar Duarte Marques.
Mas já pouco havia a fazer quando, em Peniche, o assessor centrista recebeu no telemóvel uma mensagem a alertá-lo para uma alteração de planos de última hora: Passos ia, afinal, falar mais cedo do que o previsto, em Castelo de Vide, caindo em cima do discurso de Assunção Cristas.
Assim que o líder do PSD subiu ao palco para fechar mais uma edição da Universidade dos jovens social-democratas, os holofotes das câmaras mudaram de geografia. As luzes apagaram-se em Peniche para se acenderem logo a seguir em Castelo de Vide e entregarem o palco todo a Pedro Passos Coelho.
O PSD olha para o caso do “atropelo” mediático à direita como um mera “falha de comunicação” entre os dois partidos que, até novembro do ano passado, partilharam responsabilidades no governo. Mas o CDS nem sequer tenta disfarçar o desagrado com o episódio.
Estava tudo combinado entre os dois partidos. A presidente do CDS falava às 12h15 e a essa hora a Dra. Assunção Cristas começou a fazer a sua intervenção”, sublinha um responsável do Caldas.
Em Castelo de Vide, o plano não correu de forma tão linear. E o gesto de Carlos Coelho a Simão Cristóvão Ribeiro, a meio da intervenção – que terá sido feito a pedido do próprio, para evitar que se prolongasse demasiado –, gerou desconfianças entre os dirigentes centristas. Ao ponto de já circularem suspeitas de que o episódio foi mais do que um mero “acaso”, uma “falha” que acabaria por abafar a mensagem de Cristas.
Regime “militar” do “reitor”
Fontes sociais-democratas justificam o sinal de Carlos Coelho a Simão Cristóvão Ribeiro como uma prática habitual nos trabalhos da Universidade – o “reitor” faz questão de gerir o calendário da Universidade “de forma militar” e anda sempre acompanhado de uma folha com um “OK” inscrito que levanta a que estiver a prolongar-se na intervenção, sejam jovens do partido ou convidados da Universidade.
A questão, acrescentam responsáveis do PSD, é que ninguém se terá lembrado de avisar o responsável pela condução dos trabalhos em Castelo de Vide que, desta vez, o tempo das intervenções estava combinado com os centristas. Na sala, além de Passos, só o diretor-adjunto da Universidade de Verão, Duarte Marques, e o assessor de Passos estariam a par da estratégia acertada entre os dois partidos.
A tese não colhe créditos junto do CDS – em Peniche, todos os intervenientes da sessão de encerramento da Escola de Quadros estariam a par do plano e a cerimónia terá mesmo sido antecipada para evitar aquilo que acabou por acontecer: os dois líderes sobreporem intervenções e o CDS acabar remetido para segundo plano nos diretos televisivos.
O relógio estava a bater as 12 horas quando Pedro Passos Coelho entrou no anfiteatro da Universidade de Verão do PSD e, de imediato, o “reitor” subiu ao palco. Falou aos jovens sociais-democratas do percurso de Passos no partido, dedicou mais umas palavras ao futuro dos jovens militantes do partido e encerrou a intervenção. Não demorou mais de cinco minutos a passar a bola ao líder da JSD. Dez minutos depois, Simão Ribeiro descia as escadas e dava o lugar ao presidente do PSD.
Por outro lado, Cristas devia falar por volta das 12h15. E só muito depois, quando faltassem 15 minutos para a uma da tarde, Passos deveria entrar em cena. Mesmo a tempo de fazer coincidir o momento forte do seu discurso – quando acenou com o perigo de um novo resgate para recusar responsabilidades do PSD caso a profecia se venha a cumprir – com o arranque dos jornais da hora de amoço.
Mas o líder do PSD acabaria por partilhar os primeiros cumprimentos logo às 12h23, cerca de oito minutos depois de Assunção Cristas ter começado a sua intervenção e mais de vinte minutos antes do combinado. Quando viram as televisões mudar o foco para mostrar a cara de Passos Coelho, os responsáveis centristas não ficaram satisfeitos. “O nosso profissionalismo foi total”, refere um dos presentes no encerramento da Escola de Quadros.
CDS arranca a centro
Depois do episódio deste domingo, a rentrée política do CDS segue dentro de momentos. Como já se sabia há cerca de um mês, os centristas reúnem-se em Oliveira do Bairro, no distrito de Aveiro, este sábado.
E, aí, Assunção Cristas deverá aproveitar para lançar para cima da mesa propostas que o partido vai levar a votos na Assembleia da República – na senda da oposição “construtiva” que a líder centrista defende para o CDS e que tem sido o principal fator de demarcação entre os dois partidos da direita parlamentar.