Isto da genética tem muito que se diga.

E que o diga o futebol: quantos e quantos filhos de futebolista, dos melhores futebolistas que nos relvados um dia se viram, tratam a “menina” (leia-se: a bola) com a delicadeza de um lenhador na Sibéria?

— Eles não Te merecem. — Dizemos nós, que os vimos jogar.

Não se vá mais longe. Pelé e Maradona. Não importa qual deles o melhor de sempre. O primeiro, Pelé, não é “Pelé”. É Edson. Arantes do Nascimento, de apelido. Sobre ele, tudo se escreveu e pouco há a escrever: foi avançado — nas alas, ao centro, mais recuado ou sozinho na frente, que a omnipresença tem destas coisas –, camisola dez, marcou 762 golos em 825 jogos, ora pelo seu Santos, ora pelo Brasil ou pelo Cosmos. O filho também nasceu Edson. Mas como Pelé só havia um, o pai, o filho Edson optou fazer do nome próprio um diminutivo: Edinho. O talento para o futebol, esse, também lhe foi diminuto. Edinho andou pelo Vila Belmiro, também vestiu (poucas vezes, diga-se: apenas dois jogos em 1995) a camisola do Santos, mas não fazia golos e era mais de os evitar. Foi guarda-redes. E também foi condenado a pena de prisão duas vezes, primeiro por homicídio, na década de 1990, e depois, em 2005, por tráfico de droga. E é tudo quanto há para contar do filho do “Rei” — que só foi príncipe no chilindró.

Mas falemos de Maradona. Do pai e do filho. Um e outro, Diego Armando. Ao apelido “divino”, o mais novo acrescentou “Junior” – não se os vá confundir (cof, cof). O Pibe foi tudo o que se sabe: ídolo no Boca, no Barça, no Nápoles, na “albicastrense” – com a qual venceu (quase sozinho; ele e a mão dele) um Mundial. Do pai, Diego Armando Maradona Junior só herdou isso mesmo: o nome. Apesar de também ele vestir a camisola dez, usava-se para driblar do pé contrário ao do pai: era destro. Maradona Junior chegou a ser internacional pela Itália que o viu nascer. Mas só enquanto jovem e enquanto “envelhecia” na formação do Nápoles. Depois, homem feito, andou pelas ruas da amargura no futebol italiano, em clubes de divisões para lá de secundárias (Internapoli, Boys Caivanese ou San Sebastiano, sabem quem são?), voltou-se ao futebol de praia quando o de relva não lhe servia mais, voltou a ser internacional italiano nas areias, mas pouco mais do que isso fez e retirou-se de vez. O melhor que Maradona Junior viveu no futebol, viveu-o precisamente depois de se retirar. Há poucos meses, o pai aceitou-o, por fim, aos 29 anos e depois de muitas disputas legais, como filho legitimo. É que Junior nasceu dos dias em que Maradona era mais da ilegalidade.

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Não, não são casos únicos, os de Maradona e Pelé. A lista é interminável, ora com talentos maiores, menores, alguns ainda no ativo e outros retirados sem que se desse por eles. A saber, e de uma assentada: Thiago e Rafinha são filhos de Mazinho, Kasper é filho de Peter Schmeichel, Zidane é pai de Enzo e de Luca, Mark Chamberlain pai de Alex Oxlade-Chamberlain. Diego de Giovanni Simeone, Abedi Pele de André e Jordan Ayew, Danny de Daley Blind, Johan de Jordi cruyff, António André de André André. Ufffff!

Chegados aqui, digo-lhe que Thiago Messi, filho de Leonel, também se vai voltar ao futebol. E no Barcelona “do” pai. Ou melhor, no FCBEscola, que reunirá os filhos de futebolistas e funcionários do Barça. O primeiro requisito é esse: ser-se filho. O segundo é a idade, entre os três e cinco anos. Talento? Logo se verá se o têm ou não. O pai, Leonel, sempre disse que Thiago, envergonhado, não era muito de futebolíces. Só entra no relvado quando ao colo do pai e para o ver erguer troféus e mais troféus. Mas Thiago, precisamente com três anos, vai tentar, vai dar uma oportunidade à bola — que é quase do seu tamanho.

Dê no que der, futebolista ou não, ser filho de um Messi é bom. Sempre é melhor dizer-se na escola que o pai é o Leonel do que um Zé-Ninguém do futebol.