António Guterres venceu a eleição desta quarta-feira para o cargo de secretário-geral das Nações Unidas. O ex-primeiro-ministro português saiu como claro “favorito” da eleição desta quarta-feira, em Nova Iorque.

Com 13 votos a favor e zero votos contra a candidatura do português, Guterres deverá ser eleito já esta quinta-feira como o próximo secretário-geral das Nações Unidas. A ONU anunciou que uma nova votação, desta vez formal, terá lugar dentro de horas e servirá para confirmar a escolha do ex-primeiro-ministro como próximo líder da ONU.

O presidente do Conselho de Segurança anunciou já a vitória do candidato português na votação desta quarta-feira. “Hoje, depois de ser votações informais, temos um claro favorito e o seu nome é António Guterres”, referiu Vitaly Churkin, embaixador russo nas Nações Unidas.

Possível votação final dentro de horas

Pode estar literalmente por horas a escolha de António Guterres como próximo secretário-geral das Nações Unidas.

Depois da sexta votação informal, esta quarta-feira, os membros do Conselho de Segurança reúnem-se de novo esta quinta-feira, para a primeira — e, possivelmente, definitiva, votação formal. “Espero que Guterres seja aclamado” na votação de quinta-feira, às 10 horas de Nova Iorque, 15 horas em Lisboa, disse o embaixador russo nas Nações Unidas. “Esperamos que [a votação] possa ser feita por aclamação”, acrescentou Churkin.

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Se António Guterres mantiver a vantagem clara, está aberto o caminho para que o ex-primeiro-ministro seja recomendado pelo Conselho de Segurança à Assembleia-geral das Nações Unidas. Caberá a esse órgão da organização votar o nome — passo que, por regra, se traduz numa ratificação da escolha do Conselho de Segurança.

“Foi eleito o melhor”

As reações dos restantes candidatos já começaram a surgir.

Uma delas, de Irina Bokova, a candidata búlgara secundada pela conterrânea Kristalina Georgieva — aquela que seria a grande ameaça de Guterres e que acabou por recolher oito votos de desencorajamento.

https://twitter.com/IrinaForUN/status/783700093413318656

“Os mais sinceros parabéns a António Guterres! Estou mais do que confiante de que será um excelente secretário-geral”, escreveu Bokova.

Também Helen Clark, uma das candidatas menos votadas, felicitou Guterres.

“Parabéns, António Guterres. Claro vencedor na seleção para próximo secretário-geral. Um colega de longa data: fomos primeiros-ministros e membros das Nações Unidas juntos”, esreveu Clark.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, também felicitou Guterres, depois de já ter falado com o ex-primeiro-ministro. “Estou muito feliz, porque, ao contrário de muitas vozes que já ouvi por aí, acho que é muito bom para as Nações Unidas e para Portugal. Bom para as Nações Unidas porque é o melhor que é eleito“, referiu Marcelo Rebelo de Sousa. “Ele é excecional”, defendeu o chefe de Estado.

Campanha de sete meses

A candidatura de António Guterres foi formalizada a 29 de fevereiro – sete meses antes de Kristalina Georgieva avançar para a corrida ao cargo de secretário-geral das Nações Unidas.

Nas primeiras cinco votações informais, o ex-primeiro-ministro português ficou sempre à frente da concorrência. A 29 de julho, na primeira vez que os (na altura, nove) candidatos foram a votos, Guterres arrancou 12 votos de “encorajamento”, três votos “sem opinião” e nenhum voto de “desencorajamento”.

Depois da estreia, houve outras quatro votações, duas ainda em agosto.

A 5 de agosto, Guterres conseguiu menos um voto de “encorajamento” — 11 votos a favor, no total –, dois de “desencorajamento” e outros dois “sem opinião”. No final do mês, a 29 de agosto, o número de votos favoráveis manteve-se nos 11, mas os votos negativos passaram a três e apenas um membro do Conselho de Segurança da ONU estava “sem opinião” quanto à candidatura de António Guterres ao principal cargo da organização.

Em setembro, outras duas votações.

Na primeira, no dia 9, Guterres voltou a merecer 12 votos de “encorajamento”. Os votos negativos baixaram para dois e um dos países continuava “sem opinião” quanto à recomendação de Guterres para secretário-geral das Nações Unidas.

Na penúltima, a 26 de setembro (a última em que todos os membros do conselho de segurança tinham cartões de votação da mesma cor, ao contrário do que aconteceu na votação desta quarta-feira, em os membros permanentes do Conselho de Segurança, o chamado P5, tinham cartões diferenciados dos restantes países), manteve exatamente a mesma votação: 12 votos de “encorajamento”, dois de “desencorajamento” e um voto “sem opinião”.

A grande questão mantinha-se: quais dos 15 membros do Conselho de Segurança tinham vetado a candidatura de Guterres? Teriam sido países do P5? Apenas um? Esse voto da China, Estados Unidos, França, Rússia ou Reino Unido tem um peso diferente dos demais. Um veto de um destes países inviabiliza a recomendação do candidato à Assembleia-geral e a sua eleição como secretário-geral das Nações Unidas. O voto negativo pode, no entanto, ser alterado, caso o membro permanente assim entenda.

O que muda com esta votação?

A votação desta quarta-feira voltou a ser feita segundo o modelo de straw poll (uma espécie de sondagem anónima entre os membros do Conselho de Segurança da ONU).

A diferença, do ponto de vista formal, é que, pela primeira vez desde o início destas votações, foi possível perceber se o candidato português — o mais bem classificado até ao momento — recebeu ou não um veto de um dos cinco membros do P5 (com assento permanente no Conselho de Segurança).

Isso será possível porque os membros do P5 terão cartões coloridos que os distinguem dos outros dez membros do Conselho de Segurança.

Conhecido o país autor do veto — a votação é secreta, mas a autoria acaba sempre por ser conhecida –, entra em curso a diplomacia de corredores em Nova Iorque, que poderá levar a um desbloqueio de eventuais objeções levantadas aos candidatos.