“Satisfeita com o taxista. Educado e cordial.” “Muito bom e o táxi muito limpo.” “Simpático, rápido e muito prestável.” Estes são apenas três dos muitos comentários que se podem ler na Táxi-link, uma tecnologia inovadora que permite, desde há seis meses, avaliar uma viagem de táxi sem ser necessário recorrer às aplicações de telemóvel convencionais. Em 3400 avaliações de uma a cinco estrelas, 74% dos utilizadores deram a pontuação máxima aos taxistas.
“Surpreendeu-me”, admite ao Observador Michel Ferreira, professor e CEO da Geolink, empresa criada no Porto em 2007, no âmbito do Programa Carnegie Mellon Portugal, responsável por esta tecnologia. A Táxi-link, que também serve a MEO Táxi, permite ao utilizador chamar uma viatura com determinadas características, ver em tempo real o percurso percorrido e, no final da corrida, avaliar a central de táxis (atendimento e tempo de espera) e o motorista (o carro, a condução e o profissionalismo).
A Geolink trabalha com 1400 táxis de 12 das maiores centrais nacionais, de 13 concelhos do país, entre os quais Porto, Vila Nova de Gaia, Lisboa, Odivelas, Loures, Braga, Coimbra, Aveiro, entre outras. A esmagadora maioria da oferta concentra-se na Grande Lisboa e no Grande Porto, com um total de 1200 viaturas. Para aderirem, os carros têm de instalar um tablet com uma caixa negra desenvolvida pela empresa.
Já os clientes têm três opções para garantirem um melhor serviço, todas elas gratuitas. A primeira é fazerem o download da aplicação (Táxi-link ou MEO Táxi) para o telemóvel ou tablet. A segunda é chamarem um táxi através de um dos cerca de 50 quiosques disponíveis no Porto, localizados em hotéis, hospitais, clínicas e restaurantes — criar quiosques em Lisboa é o próximo objetivo. Se o cliente quiser, insere o número de telemóvel e recebe de seguida um link que lhe permitirá fazer depois a avaliação e ver em tempo real o percurso do táxi pedido, desde o momento em que o pede até ao momento final da corrida.
Mas a grande inovação da Táxi-link face a outras plataformas que trabalham com centrais do setor, como a Mytaxi, 99Taxis ou a TaxiCick, é a possibilidade de avaliar uma viagem pedida através de chamada telefónica, sem ter de instalar qualquer aplicação. “Mais de 90% dos pedidos ainda entram via telefone, continua a ser a forma preferencial, talvez as pessoas sintam que é mais seguro. Mas gostam de avaliar”, refere Michel Ferreira.
Ou seja, parte do público que não costuma utilizar aplicações móveis, seja de parceiros dos táxis, seja de plataformas concorrentes como a Uber e a Cabify, estava até agora excluída de avaliar a sua viagem. A central de táxis deteta se a chamada está a ser feita de um telemóvel e a tecnologia envia automaticamente ao utilizador uma SMS. “Clicando, abre-se uma página web semelhante à aplicação”, explica o professor. Se o cliente não quiser avaliar a corrida nem acompanhar o trajeto, só tem de clicar no botão de op-out para deixar de receber SMS em futuras viagens. “Mas este serviço tem sido muito bem recebido, não só pelos milhares de avaliações e comentários que já recebemos, mas também pela reduzidíssima taxa de quem faz o op-out, que é inferior a 1%”, acrescenta. O método de envio das SMS está registado na Comissão Nacional de Proteção de Dados.
“Há claramente maus profissionais no setor e na manifestação de segunda-feira foi lamentável aquilo a que pudemos assistir, mas não se pode carimbar um setor inteiro com o que alguns maus profissionais fazem. Quando olhamos para estes números [74% de avaliações com nota máxima], nota-se que a opinião está muito longe daquela que tenta ser passada por outras plataformas concorrentes“, diz Michel Ferreira.
A Geolink nasceu em 2007 e desde 2011 que desenvolve a Táxi-link. A primeira central a usar esta tecnologia foi a Rádio Táxi do Porto, a central mais antiga do país, com 450 táxis. Nos seis meses em que recolhem avaliações também através de chamadas telefónicas somam-se 3400 avaliações. “É uma amostra pequena porque nem toda a gente se dá ao trabalho de avaliar. Por ano temos 2,5 milhões de processamentos de pedidos, por isso é pouco. Mas dão uma amostra muito significativa do cliente”, sublinha. Para Michel Ferreira, o mais interessante é ler os comentários que os clientes escrevem. Muitos são elogiosos, como os que se podem ler na abertura deste texto. Outros, são menos favoráveis, como este:
“6€ para uma viagem de 2,2km? É de facto gozar com o cliente…percebe-se agora o porquê de as pessoas optarem pela Uber.“
Para o futuro, a empresa está a trabalhar na possibilidade de haver pagamento eletrónico em todos os táxis. Já existe MBWay e, em breve será possível pagar com Paypall. Um dos problemas que Michel Ferreira identifica face à Uber e à Cabify é a existência do taxímetro. “É uma desvantagem para nós e para os táxis porque seria mais interessante para facilitar o pagamento. Gostaria imenso de permitir aos táxis terem uma solução de pagamento em que o valor é logo determinado à partida”, afirma.
O professor da Universidade do Porto defende a existência de uma tarifa flexível mas, em primeiro lugar, gostava que taxistas e plataformas como a Uber trabalhassem todos com as mesmas regras. “E o mercado caminha para que não haja fixações. Havendo concorrência, o preço deve ser livre”, acrescenta. “Se for ao site da Rádio Táxi tem lá um simulador de tarifário para o percurso. Mas, no fim, o taxímetro é que determina o valor no final da viagem.”
Outras aplicações que trabalham com táxis
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A Mytaxi chegou em força em dezembro e é muito elogiada pelos taxistas, que a dão como modelo em detrimento da Uber e da Cabify, por funcionarem como um angariador de serviços para táxi.
Há outras aplicações de táxis disponíveis para smartphone, como a 99Taxis ou a TaxiCick. Mas nenhuma permite fazer avaliações de corridas pedidas através de chamadas telefónicas.
E quando um taxista acumula avaliações negativas, o que acontece? “Isso tem sido uma guerra”, reconhece Michel Ferreira. A Táxi-link permite que o cliente possa banir um determinado carro, isto é, quando o cliente pede um táxi, o carro que no passado lhe prestou um mau serviço não voltará a aparecer. “Em algumas centrais, esta opção embate nos seus regulamentos internos, mas a maioria compreende que essa indicação seja cumprida.” O académico vai a muitas assembleias de taxistas e diz que o feedback que tem tido é positivo. “Quando apresentamos as avaliações e defendemos que alguns sejam banidos, não houve ninguém que foi contra isto.”
A imagem dos taxistas tem sofrido com as agressões a motoristas da Uber e há queixas de clientes sobre percursos mais longos para encarecer as corridas. Carlos Ramos, da Federação Portuguesa do Táxi, e Florêncio Almeida, da ANTRAL, afirmam não ser contra a tecnologia, defendendo, sim, plataformas que trabalhem em parceria com os táxis, como é o caso da Táxi-link. As cinco estrelas obtidas pela maioria dos taxistas avaliados por esta tecnologia ajudam a ter uma ideia mais concreta do estado do setor.
Sobre a oposição entre taxistas e a Uber / Cabify, Michel Ferreira defende, essencialmente, regras iguais para todos os operadores. Mesmo na questão dos contingentes. “A não haver contingente também não deveria haver para os táxis”, defende o académico, que se tem dedicado a fazer investigação académica na Universidade do Porto, sobre o estacionamento na cidade do Porto. No entanto, isso pode ser problemático em termos ambientais. “É cada vez mais difícil encontrar estacionamentos que não sejam a pagar, estima-se que 30% do congestionamento rodoviário seja causado por pessoas que andam à procura de estacionamento”, adianta.
“Se tivermos carros que andam simplesmente a circular à espera do próximo serviço, este congestionamento só vai aumentar. O contingente na cidade do Porto é de 726 táxis e isso criou 531 lugares de estacionamento [as posturas]. Só assim é possível garantir que temos uma circulação eficiente dos táxis. Do ponto de vista ambiental é da máxima importância. Se as outras empresas podem ter frotas ilimitadas e não têm posturas, do ponto de vista ambiental isto é catastrófico.“