A Polícia Judiciária confirmou a morte das duas adolescentes, de 13 e 14 anos, de Montemor-o-Velho. As duas jovens estavam desaparecidas desde quarta-feira. Lígia Louro e Inês Rosa saíram nesse dia à tarde de Montemor-o-Velho para passear em Coimbra e deveriam ter regressado de comboio às 20h30, o que não aconteceu. Acabaram por ser encontradas sem vida, na zona de Vila Nova de Anços, em Soure, aparentemente colhidas por um comboio.
Ao que o Observador apurou, as duas jovens terão sido vistas na noite de quarta-feira a caminhar junto à linha do comboio. A Polícia Judiciária, que entretanto, iniciou uma investigação ao caso, afasta para já a hipótese de crime, apontando como causa da morte um eventual acidente.
As duas jovens foram encontradas, ao início da tarde de sexta-feira, mais de 36 horas depois de terem desaparecido, pelos militares do posto da GNR de Montemor-o-Velho. Aliás, ao que se apurou, foi junto àquela localidade que terá sido acionado pela última vez o sinal de telemóvel das duas jovens, na tarde de quarta-feira. A morte poderá ter ocorrido nessa mesma noite.
Segundo revelou a GNR no local, os corpos foram descobertos depois de os militares terem encontrado alguns bens que pertenciam às raparigas nas imediações, nomeadamente roupa. Separados por poucos metros, os corpos de Lígia e Inês jaziam numa vala junto à linha entre a vegetação.
“Os corpos não estavam muito visíveis e seria pouco possível serem descobertos ou vistos por alguém a partir da linha, ou de um comboio. Só foi possível porque os nossos militares, de forma diligente, percorreram a linha do Norte junto à via férrea”, salientou o Major Armando Videira, da GNR.
As jovens terão sido encontradas com phones, o que poderá indicar que estariam a ouvir música e não se terão apercebido da aproximação do comboio. O maquinista que conduzia o comboio também não se terá apercebido da situação, uma vez que não há reporte às autoridades sobre qualquer incidente naquela linha.
As investigações apontam à partida para um acidente e segundo as autoridades as jovens poderão ter sido projetadas devido ao deslocamento do ar na passagem de uma composição de alta velocidade, no momento em que caminhavam pela linha férrea. Aquela linha é utilizada, por exemplo, pelo Alfa Pendular , que chega a atingir a velocidade máxima de 220 km/h.
Autoridades procuram respostas junto de amigo
Segundo fonte do comando distrital da GNR, que recebeu o alerta dos pais na quarta-feira à noite, as duas adolescentes chegaram a entrar, na estação de Coimbra-B, no comboio suburbano que chegaria a Montemor-o-Velho cerca das 20h30, tal como estava previsto.
A mesma fonte adiantou que as jovens não saíram naquele apeadeiro de Montemor-o-Velho, motivo que levou os pais a alertar a GNR e a PSP depois de não as conseguirem contactar por telemóvel.
A Polícia Judiciária continua no terreno a tentar perceber os contornos do caso, tentando reconstituir as suas últimas movimentações. Ainda na manhã desta sexta-feira ouviu um jovem de 18 anos, que terá sido das últimas pessoas a ser visto com as jovens.
A Polícia Judiciária vai tentar perceber o que faziam as duas raparigas a pé naquele local, mas numa primeira ilação poderá ter-se dado o caso de as jovens se terem enganado e saído no apeadeiro errado e posto isso terem tentado iniciar o restante percurso a pé junto à linha férrea.
Saída não autorizada
A última vez que as jovens deram sinal de vida foi ao final da tarde de quarta-feira. Inês terá falado com a mãe, por telefone dizendo que estavam a chegar ao apeadeiro e que precisava que as fossem buscar. Depois disso os telemóveis ficaram desligados.
A mãe de Lígia contou, entretanto, que a filha trocou mensagens com o irmão mais velho, durante a tarde, não revelando, porém, qualquer pormenor sobre a sua localização. Olga Santos afirmou que era habitual as raparigas dormirem na casa uma da outra, apesar da amizade recente. Lígia vivia com a mãe em Reveles e tinha saído de casa para passar o feriado na casa da amiga. A ida a Coimbra, ao que tudo indica para um passeio, não teria sido autorizada.
“Não era suposto elas terem saído de casa”, revelou a mãe da menor, horas antes de as duas terem sido encontradas sem vida, avançando que a filha tinha pouco dinheiro com ela.
Amizade recente
Inês e Lígia frequentavam a mesma escola, em Montemor-o-Velho, mas não eram da mesma turma. Há cerca de um mês, revelou a mãe de Lígia, tornaram-se inseparáveis e saíam muito juntas: “Ela ia dormir na casa da amiga e no dia seguinte seguiriam juntas para a escola”.
Lígia, de 13 anos, era tida como um adolescente “pacata” e pouco social. Aliás, como contou a mãe a menor, não era popular na escola e os professores destacavam a sua timidez. “No recreio costumava ficar sozinha a um canto, não falava muito e não tinha muitos amigos”, disse a mãe, contando que a amizade com Inês a surpreendeu pela positiva, pois pensava que estaria a ganhar mais amizades.
“É uma menina de casa, gosta de andar de bicicleta e mexer no telemóvel, o normal”, contou, antes de saber da sua morte, Olga Santos.
Sobre Inês, a mãe de Lígia contou que a “conhecia muito pouco”, mas que aparentava ser uma “menina normal”. Já tinha ido dormir à sua casa e conversado também com os seus pais, que viviam em Montemor-o-Velho.
Entretanto, os familiares das duas raparigas foram levados para o Centro de Saúde de Montemor-o-Velho, onde receberam apoio psicológico.