O presidente da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed), Henrique Luz Rodrigues, alertou, numa entrevista à agência Lusa, para os riscos da automedicação com omeprazol, um medicamento utilizado para amenizar os sintomas da úlcera gástrica e do refluxo gastro-esofágico, cuja utilização prolongada sem indicação médica tem “efeitos adversos importantes a prazo”.

Henrique Luz Rodrigues manifestou preocupação com a forma como os portugueses estão a consumir o omeprazol porque se trata de um medicamento que pode ser vendido sem receita médica e cujo leque de indicações clínicas é bastante abrangente. Os profissionais de saúde têm alertado para o uso deste medicamente para condições menos graves como, por exemplo, o alívio de sensações de enfartamento. A preocupação, diz Henrique Luz Rodrigues, “é mundial”. Só nos últimos nove meses de 2016, os portugueses adquiriram mais de 2,1 milhões de embalagens de omeprazol. E há dados que revelam que Portugal é campeão nesta matéria.

O Infarmed vai por no terreno uma campanha de sensibilização, cujo principal objetivo é “melhorar a automedicação”, disse Henrique Luz Rodrigues. A toma prolongada deste medicamento pode causar problemas “como a osteoporose nas mulheres e o agravamento dos sintomas nos doentes com infeções respiratórias”, disse ainda o responsável.

Apesar de reconhecer que existem outros medicamentos que também devem merecer a atenção do regulador, Henrique Luz Rodrigues disse que esta campanha vai ser a primeira e deverá começar ainda este mês ou em fevereiro com o objetivo de “alertar para os efeitos adversos e apara as alternativas que possam ser benéficas”.

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Em 2014, um estudo publicado na revista científica da Associação de Médicos Americanos (JAMA) atribuiu à ingestão prolongada deste fármaco e de outros semelhantes uma carência da vitamina B12.

A investigação refere que as pessoas que tomaram diariamente um medicamento do grupo do omeprazol durante dois ou mais anos tinham 65% mais probabilidade de registar níveis baixos de vitamina B12, que tem um papel importante na formação de novas células, do que os que não ingeriram o fármaco.

Já em 2016, um novo estudo publicado na edição online da JAMA Neurology confirmou a associação entre os inibidores da bomba de protões e um maior risco de demência em pacientes idosos.”Infelizmente, o excesso de prescrição” destes fármacos “é relatado com frequência”, disse uma coautora do estudo, Britta Haenisch, do Centro Alemão de Doenças Neurodegenerativas.