O Governo português manifestou que vê “com muita preocupação” a proibição de entrada nos Estados Unidos de nacionais de sete países, incluindo refugiados, afirmando que estas medidas são ilegais à luz da legislação portuguesa e europeia, afirmou esta segunda-feira.

A ordem executiva assinada pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, na sexta-feira, pouco antes das 17h00 locais (22h00 em Lisboa) proíbe a entrada a todos os refugiados durante 120 dias, assim como a todos os cidadãos de sete países de maioria muçulmana (Síria, Líbia, Sudão, Irão, Iraque, Somália e Iémen) durante 90 dias.

“O Governo português vê com muita preocupação” as medidas impostas nos últimos dias pela nova administração norte-americana, disse à Lusa o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, que fez questão de vincar que Portugal e a União Europeia têm “uma política de vistos bastante diferente” das decisões do Presidente dos EUA, Donald Trump.

Desde logo, o ministro português sublinhou que “é inconcebível que se negue o direito de entrada a pessoas que têm autorização de residência no país”. “É, em termos europeus, absolutamente ilegal”, salientou. Durante o fim de semana, 109 pessoas foram detidas nas fronteiras e cerca de 200 foram impedidas de voarem para os Estados Unidos.

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Os cidadãos daqueles sete países que possuem uma autorização de residência permanente (‘green card’) nos Estados Unidos “não são afetados”, disse no domingo o chefe de gabinete da Casa Branca, Reince Priebus, adiantando, no entanto, que poderão ser questionados aprofundadamente à sua chegada ao país.

No entanto, houve relatos de imigrantes a residir nos Estados Unidos que não conseguiram regressar ao país nos últimos dois dias. “Há neste momento uma incerteza nos Estados Unidos porque a administração norte-americana diz que não tomou essa medida. Não posso pronunciar-me”, comentou Santos Silva.

Por outro lado, “no quadro da legislação europeia e portuguesa, não é possível negar a entrada a quem quer que seja, por razões ligadas à religião ou por razões que decorram apenas da cidadania do requerente de visto de entrada”, referiu o ministro. “Não podemos usar critérios do tipo ‘todos os cidadãos do país X ou Y’ estão impedidos de entrarem no prazo de tantas semanas. Isso não é possível”, disse Santos Silva, no que apontou ser “uma diferença muito clara em relação à medida da nova administração norte-americana”.

Quanto ao acolhimento de refugiados, o ministro português referiu que “é uma obrigação moral e legal, que o direito humanitário impõe”. “Do ponto de vista português e europeu, o acolhimento de refugiados não pode ser suspenso para refugiados do país A ou B desde que esse país seja considerado como um país inseguro, à luz do direito internacional”, destacou.

Questionado sobre a comunidade portuguesa e lusodescendente nos Estados Unidos, o governante voltou a transmitir “uma mensagem de tranquilidade”, reiterando não ter “qualquer sinal de que os portugueses tenham algum motivo de preocupação”. O ministro garantiu que as autoridades portuguesas prestarão imediatamente apoio a cidadãos com dupla nacionalidade — por exemplo, portuguesa e síria — que se possam ver impedidos de entrar nos Estados Unidos.