O juiz conservador escolhido por Donald Trump para o Supremo Tribunal, Neil Gorsuch, confessou que os sucessivos ataques do presidente dos Estados Unidos à justiça americana e aos tribunais são “desmoralizadores” e que o entristecem em particular. A notícia é do Washington Post que cita um senador democrata pelo Connecticut, Richard Blumenthal, que teve uma reunião com o juiz Neil Gorsuch. À saída da reunião, Blumenthal declarou:

Ele [juiz Neil Gorsuch] disse que estava triste pelos desmoralizadores e desanimadores comentários feitos pelo presidente Trump sobre o poder judicial”, afirmou o senador.

As declarações de Neil Gorsuch foram confirmadas por Ron Bonjean, membro da equipa do próximo juiz do Supremo Tribunal Federal, e surgem depois de Trump ter chamado “pseudo-juiz” a James L. Robart, de Seatle, que ordenou o veto temporário ao decreto anti-imigração do presidente dos EUA. Recorde-se que esta medida de Trump proíbe, durante três meses, com efeitos imediatos, a entrada de imigrantes de sete países muçulmanos e também a suspensão por 120 dias do programa de acolhimento de refugiados sírios.

O próprio Blumenthal terá dito ainda que Gorsuch concorda que mesmo a linguagem usada pelo presidente norte-americano tem sido desadeaquada. “Disse-lhe como era desagradável ver as investidas e insultos contra o poder judicial. E ele concordou, dizendo que considerava isso desencorajador e desmoralizador”, conforme cita o Washington Post. Até porque, reforça Blumenthal, o juiz indicado para o Supremo Tribunal confessou ter uma forte e absoluta confiança na integridade e princípios da justiça independente. Por isso disse-lhe muito claramente que as suas convicções precisam de ser ouvidas com mais força e de serem mais explícitas, as suas perspetivas precisam de ser mais públicas”.

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Poucas horas depois das revelações de Blumenthal sobre as confissões de Gorsuch, surgiram várias interrogações sobre como Donald Trump irá reagir às declarações do homem que ele próprio escolheu. Mas a teoria mais consensual é de que terá sido uma manobra calculada pelo próprio magistrado para afirmar a sua independência face ao poder político. “Ele sempre foi uma pessoa independente do presidente e estas declarações provam-no”, comentou Carrie Severino, que dirige um grupo da área da justiça que promoveu a nomeação de Gorsuch, citada pelo Washington Poast.

Aos 49 anos, Neil Gorsuch tornou-se o juiz mais novo a ser indicado para o Supremo Tribunal Federal nos últimos 25 anos, onde deverá suceder a Antonin Scalia. No discurso de tomada de posse, o juiz admitiu estar consciente das suas imperfeições e daquilo que lhe é exigido: “Imparcialidade, independência e coragem”.

[Este artigo foi actualizado às 07:54 para corrigir a citação de declarações atribuídas a Neil Gorsuch]