A petrolífera Shell produziu e divulgou um vídeo em 1991 onde não só reconhecia o aquecimento global como referia os seus perigos. O vídeo, que tem uma duração de quase 30 minutos e que foi produzido para ser divulgado sobretudo em escolas e universidades, foi agora publicado pelo The Correspondent, jornal digital holandês, em cooperação com o britânico The Guardian.

“O aquecimento global ainda não é certo, mas muitos acreditam que esperar para ter a prova final seria irresponsável”, diz o narrador do vídeo. “Agir agora é visto como o único seguro possível”, acrescenta o narrador, que noutra altura do vídeo cita o recurso à energia solar e eólica como alternativas aos combustíveis fósseis. “Se for para abordar a ameaça do aquecimento global de forma realística, o futuro terá de ser diferente.”

O aumento do consumo de petróleo, explica o vídeo, “não deixará nenhum país ileso”.

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No vídeo, que surge sob o título “Climate of Concern” (Clima de Preocupação, em português), é ferido que os dados ali usados e as conclusões que deles se retiram estão “apoiados num consenso inédito e alargado de cientistas” que elaboraram um relatório para as Nações Unidas em 1990, o primeiro deste género.

Já em 1986, a Shell tinha tido conclusões semelhantes. Num relatório “confidencial” de 1986 ao qual o The Guardian teve acesso, é referido que, apesar das incertezas que o estudo do aquecimento global ainda tinha, “as alterações podem ser as maiores de que há registo”.

A informação do relatório de 1986 e do vídeo de 1991 contrastam fortemente com a postura da petrolífera holandesa nos últimos anos. Apesar de apresentar iniciativas publicitárias onde refere iniciativas próprias de redução do uso de combustíveis fósseis, o The Guardian recorda que a Shell referiu em 2016 que o gás de xisto, controverso entre ambientalistas pelos riscos que comporta, é uma “oportunidade de futuro”. Além disso, a petrolífera gastou 20,7 milhões de euros em lobby contra o estabelecimento de metas climatéricas.