José Sócrates diz que Paulo Azevedo tentou recolher o apoio de última hora do seu Governo à Oferta Pública de Aquisição (OPA) do capital da Portugal Telecom (PT) lançada pela Sonae em 2006.
De acordo com um artigo de opinião que o ex-primeiro-ministro publicou este sábado no Diário de Notícias, Sócrates diz que o líder da Sonae ligou-lhe na véspera da Assembleia-Geral da PT que iria votar a desblindagem dos estatutos, que ocorreu em março de 2007.
“Alguns dias antes da assembleia geral da PT, o dr. Paulo Azevedo fez-me um derradeiro telefonema solicitando-me que o governo revisse a sua posição no sentido de dar orientações expressas à Caixa [Geral de Depósitos] para apoiar a referida OPA. Respondi-lhe que o governo não o faria e que se manteria fiel à sua conduta inicial de estrita neutralidade. Dei conta desse telefonema ao sr. ministro da tutela [Mário Lino]”, escreve Sócrates.
O ex-primeiro-ministro mantém a sua tese de sempre: o seu Governo adotou uma “posição de estrita imparcialidade” em todo o processo da OPA.
“É portanto indesculpável que alguém que tentou em várias ocasiões convencer o governo a ser apoiante da sua iniciativa empresarial se permita fazer insinuações que o próprio sabe serem falsas. E, mais grave ainda, fazê-las num quadro de suspeitas judiciais absurdas e infamantes. O governo nunca esteve feito com ninguém. Nem com o dr. Paulo Azevedo”, diz Sócrates.
Esta é a resposta do ex-primeiro-ministro às duras críticas feitas esta semana por Paulo Azevedo durante a apresentação de resultados do Grupo Sonae. “Estavam todos feitos e isso fez-nos a vida difícil, durante muito tempo, de forma muito injusta”, afirmou esta quinta-feira o presidente da Sonae, numa alusão às suspeitas de corrupção que o Ministério Público (MP) imputa a José Sócrates mas também a Henrique Granadeiro e Zeinal Bava, ex-líderes da PT que lideraram a luta conta a OPA da Sonae.
O MP suspeita que Sócrates, Granadeiro e Bava terão sido alegadamente corrompidos por Ricardo Salgado, ex-presidente executivo do BES, para beneficiar o Grupo Espírito Santo.
Recorde-se que Paulo Azevedo já prestou testemunho nos autos da Operação Marquês, tendo então prestado informação sobre todos os contactos que a Sonae teve com o Governo Sócrates e com Ricardo Salgado, então presidente executivo do BES.
Paulo Azevedo, o homem que antecipou o fim do GES sete anos antes