David Rockefeller, banqueiro e filantropo norte-americano, proprietário do banco Chase Manhattan, morreu durante o sono esta segunda-feira aos 101 anos em Pocantico Hills, Nova Iorque. A notícia foi confirmada por Fraser P. Seitel, porta-voz da família. Era o mais antigo membro vivo da família Rockefeller, um dos clãs mais poderosos dos Estados Unidos, que fez fortuna no ramo do petróleo durante os séculos XIX e XX. David Rockefeller, o milionário mais velho do mundo, era neto de John Davison Rockefeller, o empresário que, ao lado do irmão William Rockefeller, fundou a Standard Oil Company em 1870.
Com a morte dos irmãos, David Rockefeller ficou à frente da vasta rede de interesses da dinastia Rockefeller, tanto empresariais como filantrópicos, que iam desde a conservação ambiental ao mundo das artes. Também chegou a liderar o grupo atualmente conhecido com JP Morgan Chase, um dos principais bancos privados dos Estados Unidos. A fortuna da dinastia Rockefeller está avaliada em cerca de 3,2 mil milhões de euros.
A presença de David Rockefeller, que aos 99 anos já tinha passado por seis transplantes de coração (faria um sétimo em setembro de 2016), na casa da família Espírito Santo era regular nos anos 50, 60 e 70. Em março de 1975, quando todas as instituições de crédito com sede em Portugal ou colónias foram nacionalizadas, Manuel Ricardo Espírito Santo (primo de Ricardo Salgado) foi preso com vários gestores e empresários. Às 17 horas de 11 de março de 1975, sindicalistas interromperam numa reunião do conselho de administração e levaram Manuel Ricardo, José Manuel, Jorge, António Ricciardi, Carlos Mello, José Roquette, Manuel Coutinho e José Theriaga para a prisão de Caxias com armas apontadas à cabeça. Os Espírito Santo tiveram de pedir auxílio aos amigos estrangeiros.
Valeu à família Espírito Santo a poderosa rede de contactos que o tio-avô de Ricardo Salgado estabeleceu com alguns dos nomes mais importantes da política e finança internacional. Nessa rede estavam Richard Nixon, Calouste Gulbenkian e David Rockefeller, que chegaram a enviar telegramas de apoio aos Espírito Santo durante o Verão Quente. Foi graças a eles que saíram da prisão em troca de uma caução de 500 escudos em julho. Ricardo Salgado e Mário Mosqueira do Amaral contactaram Giscard d’Estaing em Paris e David Rockefeller em Nova Iorque, que “nos deu bastante”, confessou o próprio Mosqueira do Amaral numa entrevista publicada em 2003 no livro Excomungados de Abril.
Os Espírito Santo fugiram então para Espanha e depois espalharam-se pelos Estados Unidos, Inglaterra e Brasil à espera de uma boa altura para regressar a Portugal. Mas não esperaram de braços cruzados: Ricardo Salgado, com 30 anos, entrou no grupo de cinco pessoas que trabalhava em prol da recuperação do Grupo Espírito Santo. A lei portuguesa não era favorável aos Espírito Santo porque impedia empresas privadas de ter atividade em determinados ramos. Restava-lhes a internacionalização, um plano onde David Rockefeller também foi imprescindível.
Contou António Ricciardi, no livro “Em Nome do Pai e do Filho“, assinado por Luciano Amaral, que quando foram em busca de exílio encontraram os grandes filantropos, entre os quais Rockefeller, de braços abertos para receber a família Espírito Santo: “Fomos sem meios, mas com as portas todas abertas porque o grupo tinha um nome extraordinário”. Nos Estados Unidos, foi David Rockefeller que ajudou os Espírito Santo a reerguer as suas economias para regressar a Portugal já em 1989, em condições para privatizar o banco.
Quando celebrou o 100.º aniversário em 2015, David Rockefeller, que nasceu em Nova Iorque a 12 de junho de 1915, doou uma vasta extensão de terreno – cerca de 400 hectares – localizada no estado norte-americano do Maine a uma organização não-governamental.