A atriz francesa Isabelle Huppert considerou que o “teatro é muito forte” e “resiste e sobrevive a tudo, à guerra, à censura, à penúria”, na mensagem oficial da UNESCO para o Dia Mundial do Teatro, 27 de março. Isabelle Huppert sublinhou que o teatro “é a capacidade de representar outro”, é a “ausência de ódio”, é a possibilidade de criar cidadãos do mundo.
“Renasce sempre das cinzas”, o teatro, e continua vivo, por “derramar as convenções anteriores nas suas novas formas”, diz a atriz, na mensagem escrita a convite do Instituto Internacional do Teatro, criado no âmbito Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). “O teatro protege-nos, abriga-nos. Creio mesmo que o teatro nos ama, tanto como o amamos a ele”, prossegue Huppert.
Tem a capacidade de criar e reforçar a amizade entre espetadores, de unir “tradutores, educadores, figurinistas, artistas de palco, académicos, profissionais e audiências”, o teatro tem a capacidade de transformar todos em cidadãos do mundo, defende.
A afirmação da atriz surge a par de uma alusão a França, onde reside, a pouco mais de um mês das eleições presidenciais, numa recusa de “caça às bruxas” e num apelo, a quem assumir o poder, para que esteja consciente dos “benefícios inimagináveis” que o teatro representa.
Huppert, que foi este ano nomeada para o Óscar de Melhor Atriz, pelo desempenho em “Elle”, de Paul Verhoeven, dá como exemplo a sua própria carreira, os papéis que desempenhou, que fizeram dela um “cidadã do mundo”, sublinhando, no entanto, ser “apenas uma das muitas pessoas que o teatro usa como via para existir”. “E é meu dever ser recetiva a isso”, frisa a atriz, que há 14 anos protagonizou, em Lisboa, no Teatro Nacional de São Carlos, a encenação de Luís Miguel Cintra para “Jeanne d’Arc au Bucher”, oratória do compositor suíço Arthur Honnegger, sobre libreto de Paul Claudel.
A atriz lembra ainda que é apenas a oitava mulher a ser convidada para redigir a mensagem, nos 55 anos de celebração do Dia Mundial do Teatro, desde a sua instituição pela UNESCO, em 1962, com uma mensagem do dramaturgo francês Jean Cocteau.
A dramaturga ugandesa Jessica Kaahwa (2011), a atriz britânica Judi Dench (2010), a encenadora francesa Ariane Mnouchkine (2005), fundadora do Théâtre du Soleil, a dramaturga egípcia Fathia El Assal (2004) e a antiga presidente islandesa Vigdís Finnbogadóttir (1999), impulsionadora da educação e das artes, no seu país, foram outras autoras recentes da mensagem.
A estas juntam-se a produtora norte-americana Ellen Stewart (1975), fundadora do Experimental Theater of La MaMa, de Nova Iorque, e a atriz alemã Helene Weigel (1967), companheira de Bertold Brecht, que dirigiu o Berliner Ensemble.
Os dramaturgos Dario Fo (2013), de Itália, Augusto Boal (2009), do Brasil, Vaclav Havel (1994), da República Checa, os norte-americanos Edward Albee (1993) e Arthur Miller (1963), o romeno Eugene Ionesco (1976), o guatemalteco Miguel Angel Astúrias (1968) são outros autores da mensagem anual, assim como o encenador britânico Peter Brook (1988 e 1969) e o ator norte-americano John Malkovitch (2012), de acordo com os arquivos do sítio do Instituto Internacional do Teatro, na internet.
Em 1967, Helene Weigel, a primeira mulher a escrever a mensagem, usava as palavras de Brecht como um aviso: “A arte deve tomar uma decisão nesta era de decisões. Ela pode ser instrumento dos que decidem destinos ou estar ao lado do povo e colocar o destino nas suas mãos. Pode aumentar a ignorância ou o conhecimento, afirmar a sua força, ou atrair as forças que a conduzem à destruição”.
O Instituto Internacional do Teatro foi criado em 1948, três anos após o termo da II Guerra Mundial, por iniciativa do secretário-geral da UNESCO Julian Huxley, com a colaboração do escritor britânico JB Priestly, com o objetivo de haver uma entidade, de promoção direta das artes perfomativas, “alinhada com os objetivos da UNESCO”.