Paço Ducal de Vila Viçosa

Terreiro do Paço. Aberto terças das 14h às 17h, quarta a domingo das 10h às 13h e das 14h às 17h (18h no verão). Bilhete: 7€

A fachada do Paço Ducal de Vila Viçosa é a melhor montra da principal matéria-prima da região: são 110 metros de mármore de três cores, extraído das pedreiras locais, que refletem o sol no enorme terreiro onde não falta também uma estátua de D. João IV. Para além de ser considerada capital do mármore, já no século XVI a vila alentejana era a residência principal da família de Bragança — a mesma que haveria de dar um rei a Portugal, representado a cavalo na enorme praça.

Antes de D. João IV, oitavo duque de Bragança, comandar os destinos do país, coube a D. Jaime ordenar a construção do palácio, em 1501. Os dados históricos são fornecidos durante as visitas guiadas que acontecem todos os dias à hora certa e que percorrem 35 salas do andar nobre durante cerca de 50 minutos.

É através do guia, por exemplo, que se fica a saber que as salas foram batizadas com os frescos pintados no tecto ou as tapeçarias expostas, ou que o palácio passou a ser residência de férias quando a família real se mudou para Lisboa. É também ele que conta várias curiosidades sobre a Sala dos Duques, a maior do palácio, com 160 metros quadrados: as paredes são revestidas por seda italiana e no chão está o maior tapete persa do país, com 40 metros quadrados e quase 500 anos.

Muito usado por D. Carlos, que se mudava praticamente para Vila Viçosa durante o inverno, por causa das caçadas (e certamente porque não passava frio, graças às muitas lareiras de mármore acesas todos os dias pelos criados), o palácio foi a última morada do rei antes do regicídio e o local onde dormiu a última noite antes de apanhar o comboio para Lisboa e ser assassinado no Terreiro do Paço, a 1 de fevereiro de 1908. A cama ainda está feita e ao lado estão expostos objetos pessoais do rei, assim como algumas das suas fardas.

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O quarto onde o rei D. Carlos dormiu a sua última noite, antes do regicídio. A cama é pequena porque os reis tinham a superstição de dormir recostados e não deitados, em posição de morte. © J.Real Andrade / MBCB, Arquivo Fotográfico

Visitar o Paço Ducal, detido pela Fundação da Casa de Bragança, é ver muitos dos quadros do rei D. Carlos — que entrava em concursos de pintura de forma anónima, para não ser favorecido — mas também a capela privada da família ou a cozinha com a maior coleção de cobre exposta da Europa. Ao todo são 700 peças, de panelas a formas de pudins, 2.500 quilos que permitem ter uma ideia da azáfama que se instalava na propriedade sempre que a família real ia passar férias a Vila Viçosa e era recebida por nada mais, nada menos do que 300 criados.

Para fazer a visita guiada basta estar alguns minutos antes da hora certa na receção do palácio. Tenha em conta que a última visita acontece uma hora antes do encerramento. O bilhete custa 7€ (grátis para menores de 12€) e mediante um custo extra pode ainda visitar a armaria (3€), a coleção de porcelana chinesa (2,50€), a coleção de carruagens (3€) e o tesouro (2,50€, apenas nos dias de semana). Infelizmente nenhum dos bilhetes dá acesso aos jardins.

Na cozinha encontra a maior coleção de cobre em exposição na Europa. © J.Real Andrade / MBCB, Arquivo Fotográfico

Castelo de Vila Viçosa

Terças das 14h às 17h, quarta a domingo das 10h às 13h e das 14h às 17h (no verão encerra às 18h). Bilhete: 3€ (grátis até aos 12 anos)

No alto da Praça da República e das suas laranjeiras, o Castelo de Vila Viçosa é um testemunho de outros tempos. Mandado construir pelo rei D. Dinis e terminado em 1297, fará as delícias dos mais novos, sobretudo por causa do fosso que o rodeia e onde é possível inventar histórias de crocodilos usados para demover os inimigos (sobretudo quando se atravessa a pequena ponte até à porta).

Detido pela Fundação da Casa de Bragança, assim como o Paço vizinho, o castelo chegou a servir de residência da família dos duques de Bragança antes da construção do palácio. Hoje em dia serve de passeio — sobretudo porque quase não é preciso subir para lá chegar, ao contrário do que acontece com a maioria dos monumentos do género no país — e ainda de morada para dois museus que estão integrados na visita: o Museu de Arqueologia e o Museu da Caça.

O castelo é morada de dois museus: o de Arqueologia e o da Caça. © J.Real Andrade / MBCB, Arquivo Fotográfico

Alentejo Marmòris Hotel & Spa

Largo Gago Coutinho, 11. 26 888 7010. Quarto duplo a partir de 132€ com pequeno-almoço.

O nome não engana: o Marmòris é um hotel dedicado ao mármore, onde tudo (ou quase tudo) é feito nesta pedra nobre. Aberto em 2013 no que era um antigo lagar de azeites, a unidade de cinco estrelas faz parte da rede Small Luxury Hotels of the World e serve de montra para a principal matéria-prima de Vila Viçosa — ou não tivesse sido aberto por um empresário ligado ao negócio das pedreiras.

Durante a semana é habitual encontrar homens de negócios que vêm precisamente para comprar mármore, mas ao fim de semana são os casais e as famílias que aparecem à procura da piscina aquecida (exterior e interior), do pequeno-almoço buffet onde não falta variedade e do Stone Spa, escavado na pedra e recentemente premiado como Best Luxury Wellness Spa nos World Luxury Spa Awards, graças aos dois tanques de tratamento com jatos localizados e às massagens onde pequenas pedras de mármore polido são usadas para fazer pressão nos pontos meridianos, entre outras opções de cuidados de rosto e corpo.

A piscina exterior é ligada à interior. Ambas são aquecidas todo o ano e estão abertas 24 horas por dia. © Francisco Manuel Mendes/Marmòris

Outro ponto de interesse, aberto também a não hóspedes, é o restaurante Narcissus. Aos comandos do chefe Carlos Galhardas — que trabalhou com Miguel Laffan no vizinho L’And Vineyards — o espaço pretende seguir a tendência de fine dining no Alentejo com uma carta que transforma os pratos regionais em cozinha de autor. Das vieiras com puré de cenoura anisado, coulis de cacau, cerefólio, amêndoa e bacon (16€) ao pregado com lagostim, alcachofra, estufado de alho francês e creme de alho (29€), uma refeição fica por 45€ ou, se preferir o menu de degustação, 70€. Nenhum dos preços inclui vinhos, cuja carta deve ser das mais pesadas do mundo, não só pela extensão mas porque foi encadernada… em mármore.

Um dos pratos-estrela do chefe é este lombinho de porco ibérico com puré de ervilha e poejo, gema de ovo confitada, legumes prematuros biológicos da Quinta do Poial e terra de chouriço (23€).

Pedreira d’el Rey

Visitas por marcação através do hotel Marmòris. Preço: 10€ (1 hora)

São 120 metros de profundidade, impróprios para quem sofre de vertigens mas vertiginosamente surpreendentes. Uma das maiores pedreiras de Vila Viçosa pode ser admirada por visitantes através de visitas marcadas pelo Marmòris. Detida pelo mesmo proprietário que abriu o hotel, a pedreira d’el Rey — assim batizada por estar no antigo monte d’el Rey — permite extrair várias cores de mármore, do branco ao rosa, passando pelo creme e o pele de tigre, assim chamado por causa das manchas que se assemelham à pele do animal.

Como explica o guia a partir do miradouro no alto — a visita não permite descer à pedreira, por razões de segurança –, o mármore é retirado por patamares, e apenas maquinaria própria, com fio de diamante, consegue cortá-lo em blocos para venda. Esses blocos — gigantes retangulares e maciços — podem ser admirados na segunda paragem da visita, já marcados a vermelho e, portanto, prontos para venda. Confidência indiscreta: Saddam Hussein era um dos principais clientes do mármore de Vila Viçosa, e o negócio nunca mais foi o mesmo desde a sua morte.

O buraco da pedreira d’el Rey é tão fundo que as gruas lá em baixo parecem formigas. © Jorge Vieira

Casa Museu Bento de Jesus Caraça

Pátio das Chagas. Terça a domingo das 9h às 12h30 e das 14h às 17h30. Entrada livre

Uma placa (de mármore, claro) anuncia: “nesta casa nasceu a 18 de abril de 1901 o professor doutor Bento de Jesus Caraça”. E é nessa casa, virada para um pátio e desde 2013 transformada em museu, que é possível saber mais sobre o matemático calipolense, um dos mais ilustres habitantes de Vila Viçosa (a par de Florbela Espanca). Em duas pequenas divisões conta-se a vida do intelectual português através de documentos, um documentário e uma cronologia impressa na parede: os estudos no liceu Pedro Nunes, em Lisboa, a carreira académica, a publicação do livro Os Conceitos Fundamentais da Matemática, a Biblioteca Cosmos, que fundou e onde editou centenas de livros científicos, ou ainda a luta pela liberdade e a democracia durante a ditadura, que o levaria inclusivamente à prisão e o afastaria do ensino. Bento de Jesus Caraça morreu a 25 de junho de 1948, já longe de Vila Viçosa, e o seu funeral foi acompanhado por uma multidão silenciosa. Na entrada da casa-museu, também silencioso, está um retrato seu em mármore, esculpido por João Cutileiro.

A entrada da casa onde nasceu Bento de Jesus Caraça. © Visit Alentejo

O Observador ficou alojado em Vila Viçosa a convite do hotel Marmòris.