A União Democrata Cristã (CDU), partido no poder na Alemanha, obteve uma surpreendente vitória nas nas eleições regionais na Renânia do Norte-Vestefália, o mais populoso dos estados alemães. O partido presidido pela chanceler alemã, Angela Merkel, obteve 34,5% dos votos , segundo as projecções, mais quatro pontos percentuais o Partido Social-Democrata (SPD), que regista o pior resultado da sua história num estado em que foi governo em 46 dos últimos 51 anos.

Com esta vitória na Renânia do Norte-Vestefália Angela Merkel consolidou o favoritismo para as legislativas de setembro, até porque o seu adversário, o presidente do SPD e ex-presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, tinha considerado que estas eleições regionais eram decisivas — até por terem por palco o seu estado natal e tradicional bastião dos social-democratas.

Até agora este estado era governado por uma coligação encabeçada pelo SPD, que perderam mais de oito pontos percentuais por comparação com as eleições regionais de 2012. Já a CDU conseguiu mais oito pontos, invertendo-se a posição relativa dos dois partidos. De destacar ainda a subida dos liberais, tradicionais aliados da CDU, e a descida dos verdes, que integravam a coligação de governo naquela região. É também significativa a entrada no parlamento regional da Alternativa para a Alemanha (AfD), o partido anti-imigração que tem vindo a conseguir ultrapassar a barreira dos 5% nas mais recentes eleições regionais.

Neste gráfico podemos ver a variação do voto na Renânia do Norte-Vestefália entre 2012 e 2017:

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O voto dos 13 milhões de alemães chamados chamados a votar na região mais populosa da Alemanha acabaram assim por representar uma pesada derrota para o novo líder dos social-democratas, Martin Schulz, que depois de duas outras derrotas em recentes eleições regionais — nos estados do de Sarre e de Schleswig-Holstein — apostara tudo na Renânia do Norte-Vestefália. Ao votar na cidade de Würselen, Schulz admitiu que o resultado das eleições regionais terá impacto nas suas hipóteses de impedir Angela Merkel, no poder desde 2005, de conseguir um quarto mandato. Já à noite, em Berlim, o ambiente na sede do seu partido era fúnebre.

Martin Schulz assumiu a derrota numa intervenção na sede do SPD em Berlim (John Macdougall/Agence France-Presse, Getty Images)

“Foi um dia difícil para mim e para o SPD e para mim pessoalmente, sofremos uma derrota pesada”, reconheceu Martin Schulz depois de conhecidas as projeções das televisões alemãs. Para o antigo presidente do Parlamento Europeu este resultado foi mesmo o mais rude golpe nas suas aspirações, já que depois de ter sido visto como uma espécie de salvador do SPD após ter sido escolhido como líder, uma escolha que fez o partido subir muito mas sondagens, necessitava de um êxito eleitoral para relançar a sua campanha para as legislativas de 24 de setembro.

A vitória da CDU na Renânia do Norte-Vestefália é tanto ou mais significativa por Angela Merkel se ter empenhado diretamente na campanha — esteve nove vezes no estado em acções de campanha –, o mesmo tendo sucedido com Schulz, que nasceu e vota neste estadi, numa espécie de antecipação do duelo que travarão a nível federal daqui por quatro meses. Para além disso a candidata do SPD, Hannelore Kraft, até agora primeira-ministra daquele estado, era vista como uma figura popular, mesmo carismática, o contrário do que sucedia com o seu opositor da CDU, Armin Laschet, o que reforça a convicção de que esta foi sobretudo uma vitória dos cristãos-democratas e da chanceler.

Wolfgang Munchau, o conhecido analista do Financial Times, foi de resto bastante duro na análise que publicou poucas horas depois de conhecidos os resultados. “O conto de fadas transformou-se num pesadelo este domingo à noite com a derrota do SPD na Renânia do Norte-Vestefália. Num período de quatro meses o ‘efeito Schulz’ primeiro parou, e depois começou a funcionar ao contrário. O SPD está de regresso à casa de partida. Este é o pior resultado do partido naquele estado e desta vez Schulz nem sequer pode atribuir as culpas à liderança regional do partido”. Para aquele colunista, mesmo faltando ainda quatro meses para as eleições de setembro, “seria necessário um milagre para o SPD para voltar a inverter a tendência”. Para isso Schulz teria de ter um programa — que ainda não tem — e nem sequer parece acertada a referência que fez, ao comentar a derrota, de que Emmanuel Macron também estava atrás nas sondagens a quatro meses das eleições. É que, recorda Munchau, o novo presidente francês “construiu a sua agenda ao longo de um período de anos” e “nenhum trabalho comparável ocorreu no SPD”.