Fernando Medina é o candidato (ainda não-assumido) que vai fazendo campanha na pele de presidente, Assunção Cristas coloca meia-Lisboa a falar de estações de metro. E Teresa Leal Coelho, onde anda? Na próxima semana ia aparecer no Marquês de Pombal — não para celebrar a vitória do seu Benfica –, mas num outdoor. Só que a câmara não deixou. Justificação: a estrutura atrapalhava o trânsito. O PSD não se conforma e promete que para a semana a candidata vai entrar na campanha e em força com cartazes temáticos por toda a cidade. Desde que aunciou a candidatura, contam-se pelos dedos de uma mão as intervenções públicas. Quantas como ação de campanha para a câmara de Lisboa? Zero. É desta que Teresa aparece?

A entrada em força da candidata do PSD na campanha em Lisboa está marcada para a próxima semana, mas foi antecedida de polémica. Tudo começou quando a campanha de Teresa Leal Coelho colocou uma estrutura metálica no Marquês de Pombal na última segunda-feira. Na sexta-feira, funcionários da câmara municipal retiraram a estrutura. Prontamente, a candidatura do PSD a Lisboa emitiu um comunicado a manifestar o seu “mais veemente repúdio em relação à atuação dos responsáveis do município” e denunciando que esta é uma “atitude que viola frontalmente o estipulado no artigo 45º da Lei 1/20011 segundo o qual é proibido às autarquias impedir a livre aposição de propaganda eleitoral por parte dos partidos políticos.”

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O PSD reclamava ainda que a autarquia voltasse a colocar imediatamente a estrutura no local e pediu justificações ao vice-presidente da autarquia e responsável pelo pelouro das Estruturas de Proximidade, Duarte Cordeiro (PS) sobre “o fundamento legal” para a retirada da estrutura.

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A autarquia acabaria por responder à agência Lusa na sexta-feira ao final do dia dizendo que “tendo sido detetada uma estrutura metálica de cerca de 20 metros, colocada entre a rotunda interior e a rotunda exterior do Marquês de Pombal, e perante a inexistência de pedido de autorização para colocação da mesma, foi determinado a sua retirada, por se entender que essa localização afetava a circulação rodoviária” e garantia que só mais tarde foi “identificado que a estrutura estava identificada com a sigla PSD”.

A ligação aos sociais-democratas também surpreendeu o executivo de Fernando Medina, segundo a resposta da câmara à Lusa:

Estranha-se que a estrutura seja de um partido político uma vez que todos os partidos tinham consensualizado, há vários anos, não colocar aí qualquer estrutura de outdoor, […] nomeadamente por causa de motivos relacionados com a segurança rodoviária e questões relacionadas com o conjunto patrimonial e ambiental existente”.

Fonte da campanha de Teresa Leal Coelho confessou ao Observador que o PSD não ficou convencido com a resposta, já que a autarquia “não pode alegar que atrapalha o trânsito quando a estrutura não está no meio da estrada e quando naquela zona há vários cartazes de publicidade que vão desde marcas de cerveja até cartazes do Papa.” A campanha de Teresa Leal Coelho diz estar “perplexa” com esta atitude, mas ainda não ponderou se fará queixa à Comissão Nacional de Eleições.

O PSD alega que a autarquia — nos termos do tal artigo 45º, referente à “propaganda gráfica” — só pode impedir a “a afixação de cartazes” e “inscrições ou pinturas murais” em “centros históricos legalmente reconhecidos, em monumentos nacionais, em templos e edifícios religiosos, em edifícios sede de órgãos do Estado, das Regiões Autónomas e das autarquias locais, em edifícios públicos ou onde vão funcionar assembleias de voto, nos sinais de trânsito ou nas placas de sinalização rodoviária ou ferroviária e no interior de repartições e de edifícios públicos, salvo, quanto a estes, em instalações destinadas ao convívio dos funcionários e agentes”. Embora nada neste artigo se aplique ao caso das estruturas metálicas e outdoors, o PSD mantém que a decisão é ilegal.

O material retirado diz respeito a uma estrutura metálica e não à afixação de cartazes. Fonte da campanha desvaloriza esse detalhe:

Se fosse esse o problema, era esse o argumento da câmara. E não é. É que perturba o trânsito.”

O Observador solicitou à campanha de Teresa Leal Coelho a imagem do outdoor que iria ser colocada, mas o mesmo não foi cedido para que não se perca o “efeito surpresa”. A agência de comunicação Lift World, de Salvador da Cunha, foi a escolhida para gerir a comunicação e imagem da campanha de Teresa Leal Coelho. O cartaz que ia ser colocado no Marquês, apurou o Observador, tem o rosto da candidata, o slogan de campanha (ainda não divulgado) e ainda uma “surpresa”. Tamanho: 20 metros de largura por três de altura. Fonte da campanha revelou, no entanto, que na próxima semana outdoors iguais ao que ia ser colocado no Marquês, bem como”cartazes temáticos” serão espalhados por toda a cidade, sem especificar os locais.

É desta que arranca a campanha?

Fonte da campanha de Teresa Leal Coelho diz que a “campanha está mesmo a arrancar oficialmente” e que a próxima semana é a mais “decisiva”. Até agora, a candidata do PSD tem evitado a ida para o terreno. Desde que foi confirmada como candidata, a outra candidata da direita, Assunção Cristas, tem-se desdobrado em eventos e intervenções públicas sobre a cidade. Já Teresa Leal Coelho tem optado por outra estratégia.

Confirmada a 19 de março, Teresa Leal Coelho só falou como candidata no Conselho Nacional do PSD no início da madrugada de 24 de março. Pela uma da manhã, apareceu cansada (vinha de uma dupla audição com Carlos Costa de várias horas no Parlamento) mas confiante: “Dentro de meses serei presidente da câmara de Lisboa”. Deixou ainda palavras de ordem como: “Não queremos uma cidade em que um caneiro impeça a circulação automóvel“.

Teresa Leal Coelho: “Dentro de meses serei presidente da câmara”

Seguiu-se uma entrevista ao Observador na semana seguinte, a 30 de março, que se revelaria desastrosa. Desde logo, da entrevista resultaram uma série de artigos a incidir apenas nas gaffes de Teresa Leal Coelho, como defender uma descida do IMI para 0%, quando, na verdade, a cidade já tem o IMI mais baixo permitido por lei: 0,3%. A estratégia, desde então, tem sido o silêncio (ou a intervenção pública cirúrgica) e o adiar da campanha no terreno. Em 2013, quando Fernando Seara era cabeça de lista, Teresa Leal Coelho era das mais motivadas da comitiva a interagir com os munícipes nas arruadas. Ainda assim, tem agora adiado o contacto direto com os eleitores.

As intervenções públicas foram muito limitadas. A 27 de março, chefiou a comitiva do PSD que foi a S.Bento discutir com o primeiro-ministro a marcação das eleições autárquicas. Um mês depois foi a escolhida do partido para fazer o discurso nas comemorações do 25 de Abril na Assembleia da República. E voltou a desaparecer até ao final de maio: no dia 20 participou na Convenção Autárquica do PSD/Lisboa, num hotel da capital, e no dia 27 de maio discursou na Convenção Nacional Autárquica do PSD, que se realizou na Maia. De resto, nenhuma ação de campanha. O arranque da campanha a sério está marcado para a próxima semana.