A escalada será uma das modalidades dos Jogos Olímpicos de Tóquio2020, mas Portugal pode ter em risco as hipóteses de apurar um atleta, devido ao impasse entre federações e a Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto (SEJD). Em causa está o estatuto de utilidade pública desportiva. Atualmente, a Federação Portuguesa de Campismo e Montanhismo (FPCM) detém o estatuto, apesar de não ser reconhecida pela Federação Internacional de Escalada Desportiva (IFSC); já a Federação Portuguesa de Montanhismo e Escalada (FPME) não tem a utilidade pública desportiva, mas é legitimada pela IFSC.

Por outro lado, o apoio do Comité Olímpico de Portugal (COP) ainda não pode ser materializado, devido ao “grande impasse” existente, explicou à Lusa o escalador André Neres, um dos atletas mais bem colocados para representar o país: “Não há apoio do COP enquanto não houver entendimento entre as federações. É uma guerra de poder”.

Num diferendo que se arrasta há algum tempo, a situação foi já alvo da atenção do Governo, que promoveu uma reunião para alcançar um entendimento, depois de um primeiro encontro oficioso entre as duas instituições, mas as conversações estão paradas nesta fase.

Neste momento, nem a FPCM e nem a FPME cumprem todos os requisitos para a tutela da modalidade e o reconhecimento por parte do COP. Enquanto a FPCM deixou de ser reconhecida internacionalmente, devido à alegada suspensão do pagamento de quotas por parte da direção anterior, a FPME nunca conseguiu reunir a aprovação do pedido de reconhecimento pelo Estado.

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João Queiroz, presidente da FPCM, deixou um aviso sobre o risco de indefinição, alertando que “a utilidade pública desportiva para a escalada poderia ficar suspensa”, mas reiterou o seu desejo de compromisso: “Não vamos desistir. O nosso programa de ação é continuarmos a bater-nos pela escalada, porque uma federação desportiva só faz sentido se estiver ao serviço do desporto.

Nesse sentido, a FPCM propôs à FPME, no encontro realizado sob o olhar da SEJD, a atribuição de dois lugares de vice-presidente para a área da escalada na sua estrutura, uma proposta que foi recusada pela FPME. “As propostas da FPCM foram humilhantes. Não andamos à procura de poder, queremos apenas a escalada e o montanhismo a desenvolverem-se em Portugal”, revelou Carlos Gomes, líder da FPME, instituição que foi criada em 2002 a partir da anterior realidade tutelada pela FPCM.

Para o dirigente, a FPME é que tem levado “atletas a participar nas competições internacionais” e realçou também a organização do segundo campeonato europeu de jovens da IFSC, em maio. Carlos Gomes argumentou ainda que a FPCM já não detém a utilidade pública desportiva para a escalada, ao garantir que “isso foi reconhecido por um documento do COP” em 2015.

Apesar de os critérios de qualificação dos atletas para os Jogos Olímpicos de Tóquio ainda estarem a ser ultimados, ambas as federações apelam à celeridade da intervenção de João Paulo Rebelo, sob o risco de Portugal sair prejudicado nas hipóteses de levar um atleta à estreia da escalada em Tóquio2020.