É um mistério com 183 anos que nem Charles Darwin conseguiu resolver. Agora, cientistas alemães descobriram a que animal pertenciam os fósseis que o naturalista britânico encontrou por acaso na América do Sul numa das suas famosas viagens a bordo de um HMS Beagle: eram ossos de um Macrauchenia patachonica, um mamífero da Idade do Gelo que entrou em extinção há entre 10 mil e 20 mil anos. A descoberta foi possível depois de se se ter analisado o ADN mitocondrial das células conservadas no fóssil.

Em 1834, quando Charles Darwin tinha apenas 25 anos e havia deixado os estudos para viajar pelo mundo, encontrou uma quantidade muito pequena de ossos que nunca conseguiu catalogar. Mais tarde, a amostra de fósseis encontrada por Darwin foi entregue a Richard Owen, um reconhecido paleontólogo, mas ele também não encontrou respostas. Mas uma equipa da Universidade de Potsdam (Alemanha) conseguiu agora analisar o ADN mitocondrial — parte do material genético dos seres vivos que está armazenado nas mitocôndrias das células — das proteínas de colagénio. A partir desses dados, os cientistas conseguiram descobrir até algumas características físicas do animal.

O Macrauchenia patachonica tem um pescoço e membros muito alongados e reúne características que hoje encontramos em girafas, camelos e elefantes. Apesar disso, a comunidade científica nunca tinha encontrado animais na atualidade que pudessem ter alguma relação evolutiva com o Macrauchenia patachonica. Em suma, isto significava que esta espécie parecia cair do nada na Terra e não ter lugar na Árvore da Vida (que os cientistas designam por árvore filogenética). Mas a equipa alemã tem novos dados: o Macrauchenia patachonica pertencia a uma linhagem que se separou da ordem Perissodactyla, a que pertencem os cavalos e rinocerontes, há 66 milhões de anos.

Mas porque é que Charles Darwin e Richard Owen, considerados dois génios do estudo da evolução, não conseguiram chegar a estas conclusões? Porque não tinham tecnologia para isso, explicou Michi Hofreiter, que liderou o estudo. As cadeias de ADN tendem a deteriorar-se com o tempo, principalmente em ambientes quentes como o que se faz sentir na região onde estes fósseis foram encontrados. Os cientistas tiveram de “colar” as sequências de ADN que foram encontradas para poderem estudar o animal mistério.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR