Acabou a Taça das Confederações. Bom, verdade seja dita acabou na quarta-feira, mas este encontro para definir o terceiro classificado que parece não ter uma única alminha a conseguir justificar a sua existência tinha mesmo de ser feito (fala-se até no final da competição a breve prazo). Agora, chegam as férias; depois, a pré-temporada; a seguir, e em relação à Seleção Nacional, regressam as partidas de qualificação para o Campeonato do Mundo de 2018. Com que jogadores? Vamos analisar todos os fatores.

Comecemos pela qualificação para o Mundial. Portugal depende de si, é certo, mas não será tarefa fácil: entre o final de agosto e o início de setembro, a Seleção recebe as Ilhas Faroé e desloca-se à Hungria, num dos encontros mais difíceis que terá de realizar. Depois, em outubro, o grupo fecha com uma viagem a Andorra e a receção à Suíça onde, caso as coisas se mantenham como até aqui, os comandados de Fernando Santos terão de ganhar para assegurar o primeiro lugar e apuramento direto para a Rússia.

Antes, há decisões para tomar. Sobretudo pelos jogadores. Olhe-se para o caso de Fábio Coentrão: há dois anos afastado das opções da Seleção, parece apostado em arriscar o regresso a Portugal ao serviço do Sporting para relançar a carreia com olhos postos também no Mundial de 2018. Mas entre os 23 convocados para a Taça das Confederações, há atletas que já assumiram novos destinos (Bruno Alves vai para o Rangers, Bernardo Silva mudou-se para o Manchester City, André Silva assinou pelo AC Milan) e outros que poderão ainda ser transferidos, como Nélson Semedo, William Carvalho ou Adrien, e Pepe, livre para assinar por qualquer conjunto depois de ter terminado o contrato com o Real Madrid. Tudo vai contar.

Guarda-redes: Rui Patrício, o indiscutível, e mais dois

Rui Patrício é um indiscutível. Nos convocados, como titular, a bater recordes na Seleção (ultrapassou o número de jogos de Bento, tem apenas Ricardo e Vítor Baía à frente). E em 2018 assim vai continuar. Depois, é uma questão de ver quem serão os restantes dois guarda-redes que irão acompanhar o número 1 do Sporting (que assim deverá continuar, pois não parece que o mercado europeu traga uma proposta suficientemente tentadora para tirar o jogador da Primeira Liga).

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Anthony Lopes, que pediu dispensa por motivos pessoais desta Taça das Confederações, como foi explicado por Fernando Santos na antecâmara do anúncio dos convocados para a Rússia, deverá manter-se como opção, até por ser titular do Lyon, uma das melhores equipas da Ligue 1. Assim, sobraria apenas uma vaga entre quatro candidatos confirmados e um por confirmar.

Beto foi um dos guarda-redes chamados para esta Taça das Confederações. E também há Marafona, o titular no Sp. Braga que contraiu uma lesão grave no joelho. No entanto, a figura do “terceiro guarda-redes” costuma puxar gente mais nova. José Sá, suplente de Casillas no FC Porto, e Bruno Varela, que fez uma época muito positiva no V. Setúbal e esteve no Europeu Sub-21, são dois desses nomes, mas a saída de Ederson para o Manchester City pode trazer mais uma opção para a Seleção: André Moreira, guarda-redes ex-Atl. Madrid que deverá muito em breve ser apresentado como reforço do Benfica e que lutará com Júlio César por ser opção inicial de Rui Vitória nos encarnados. Joel Pereira, que pertence ao Manchester United, está também em avaliação.

Múltipla escolha nas laterais, parca escolha nos centrais

Pepe deu mais uma vez a mostra de que a idade é um posto, pelo menos para ele: sem Ronaldo, foi o central que assumiu a liderança contra o México, foi lá à frente marcar o empate nos descontos e agarrou a equipa quando era necessário. Agora vai de férias, depois entrará num novo clube. PSG? Fenerbahçe? Besiktas? Logo se verá. Mas a verdade é que tem um papel tão determinante para Fernando Santos que estará sempre no Mundial.

Depois, uma dúvida: haverá o último capítulo deste ciclo com Bruno Alves e José Fonte ou o primeiro capítulo de uma nova era com nomes novos como Rúben Semedo ou Roderick Miranda (sem contar com Luís Neto, que é a ponte entre ambos)? Dependerá muito de como decorrer a temporada de 2017/18. Com uma certeza – este é o principal problema geracional que a Seleção vai sofrer porque, pela primeira vez, há mais fome do que fartura.

Em claro contraponto, há muita fartura e tudo menos fome nas laterais. Para o lado direito, e atentando apenas nas opções mais claras, temos três jogadores para duas posições: Cédric, que foi um dos melhores da Seleção na Taça das Confederações e mostra enorme evolução desde que foi para a Premier League (Soutahmpton); Nélson Semedo, que foi o melhor lateral direito da última Primeira Liga pelo Benfica mas que ainda não conseguiu ter a mesma preponderância na Seleção; e João Cancelo, titular no Europeu Sub-21. Mas mesmo que queiramos ver mais a médio/longo prazo, parece claro que Diogo Dalot, se continuar neste processo evolutivo, será jogador de AA. Na esquerda, estabilizada com Raphäel Guerreiro e Eliseu, surgem Fábio Coentrão ou Kévin Rodrigues, titular dos Sub-21 no Europeu que deu boas indicações para quem não o conhecia tão bem.

No meio (campo) estão todas as virtudes

Ter o melhor jogador do Mundo na equipa obriga a que se monte o melhor modelo para potenciar as suas características. Contra o México, sem Ronaldo, Fernando Santos abriu o esquema e apostou abertamente num 4x3x3 com Gelson Martins e Nani bem abertos nas alas; com Ronaldo, Portugal joga sempre com quatro médios, deixando o avançado do Real Madrid e mais um elemento na frente. Por isso, a escolha dos sete/oito médios que estarão no Campeonato do Mundo, em caso de apuramento, dependerá sempre do rendimento que as muitas alternativas para essas posições terão ao longo da temporada de 2017/18.

Em condições normais, para a posição ‘6’, William Carvalho e Danilo Pereira só não serão opções por motivos físicos ou se tiverem épocas muito aquém das expetativas. Mas mesmo que algum deles falhe, há Rúben Neves. Depois, há Adrien Silva, André Gomes (que continua a passar um pouco ao lado de todos os jogos onde atua pela Seleção), Pizzi e João Moutinho, que serão sempre hipóteses para o Mundial, além de João Mário, que saiu do lote de convocados por lesão mas que foi campeão europeu com papel de relevo na equipa. E Renato Sanches, que esteve no Europeu Sub-21. E Bruno Fernandes. E Rony Lopes. E, dependendo da evolução que vão tendo, nomes que estão mais “verdes” mas que poderão a qualquer momento explodir, como João Carvalho ou Francisco Geraldes.

Ronaldo, um ponta-de-lança e o bando de criativos

Além de ter muitas opções para o meio-campo, Portugal continua a produzir fantasistas que desequilibram nas alas. Na Taça das Confederações, os miúdos Bernardo Silva e Gelson Martins juntaram-se aos graúdos Quaresma e Nani. Mas ainda há Rafa, que foi campeão europeu em França, Bruma – que esteve em excelente plano no Europeu Sub-21, com três golos – e Gonçalo Guedes, que ocupa também terrenos mais centrais. E a eventualidade de confirmação para nomes como Diogo Jota ou Podence.

Na frente, e confirmando-se que Fernando Santos levará apenas um jogador para atuar ao lado de Cristiano Ronaldo, André Silva leva vantagem sobre Éder, mas uma boa temporada do herói de Paris pode baralhar essas contas. Além deles, há Gonçalo Paciência e, para já, pouco mais. Assim como temos abundância no meio-campo e nas alas, os problemas de renovação no eixo central da defesa existem também na frente do ataque.