O Papa Francisco manifestou este domingo apoio aos pais de Charlie Gard, criança britânica de dez meses que está em situação crítica num hospital britânico, e cujas máquinas que o mantêm vivo deverão ser desligadas por ordem da justiça e contra a vontade dos pais. “O Papa Francisco segue com afeto e comoção a situação do pequeno Charlie Gard e exprime a sua proximidade com os seus pais. Por eles reza, esperando que não se ignore o seu desejo de acompanhar e cuidar do seu filho até ao final“, lê-se num breve comunicado do Vaticano divulgado este domingo.

Charlie sofre de uma doença rara e degenerativa. Médicos querem desligar o suporte de vida contra vontade dos pais

Charlie, que nasceu prematuramente em agosto de 2016, sofre de uma rara condição genética, a síndrome de depleção do ADN mitocondrial. Está desde que foi internado — poucas semanas depois do nascimento — ligado ao suporte de vida e os médicos do hospital Great Ormond Street disseram que não há cura possível, afirmando que é preferível desligar a máquina e dar uma “morte com dignidade à criança”. Chocados com a decisão, os pais lançaram uma campanha mundial de sensibilização que acabou por se revelar infrutífera.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Na semana passada, os pais, Chris Gard e Connie Yates, perderam um recurso interposto junto do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos para tentarem impedir que o hospital desligasse as máquinas. O objetivo dos pais é transportar o bebé para os Estados Unidos, para que a criança sej submetida a uma terapia experimental que lhe pode salvar a vida. Todas as instâncias da justiça britânica tinham, até aqui, dado razão ao hospital. Com a decisão da justiça europeia, esgotaram-se as hipóteses para os pais de Charlie.

As máquinas que mantêm Charlie vivo vão ser desligadas na sexta-feira

A posição do Papa Francisco vem, aliás, contrariar um comunicado anterior do Vaticano, especificamente da Pontifícia Academia para a Vida. Na sexta-feira, o presidente daquela academia, o arcebispo Vicenzo Paglia, publicou uma nota em que sublinhava: “Nunca devemos agir com intenção deliberada de acabar com uma vida humana, incluindo através da remoção de nutrição ou hidratação. No entanto, temos, às vezes, de reconhecer as limitações do que pode ser feito, agindo sempre humanamente ao serviço da pessoa doente, até ao momento da morte natural”. Na altura, o comunicado do Vaticano foi entendido como um possível apoio à decisão da justiça britânica de reconhecer que o bebé não pode ser curado.

Na última quinta-feira, os pais de Charlie publicaram uma mensagem emotiva no Facebook. “O Charlie vai morrer amanhã [sexta-feira] sabendo que foi amado por milhares… Obrigado a todos pelo apoio!”, escreveram os pais, destacando: “Não fomos autorizados a escolher se o nosso filho pode viver e não estamos autorizados a escolher quando ou onde o Charlie morre”. As máquinas ainda não foram desligadas, mas o hospital deverá agora “fornecer todo o apoio possível aos pais de Charlie enquanto se preparam os próximos passos”, de acordo com um comunicado da instituição citado pelo The Guardian.